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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 15.05.15

Histórias que dão a cara por esta causa #3 - "Uma história sobre uma mãe emigrante"

Ana Vale

A "Maria", emigrante, foi mãe há poucos meses e também experienciou um momento de babyblues no seu pós-parto. Ganhou coragem e enviou-nos um email, não só com a sua história, mas também a dar-nos força para continuarmos a percorrer este caminho!

 

Confesso-vos que ao longo destes meses há dias melhores, outros menos bons, mas chegar um dia, abrir o email e ver histórias como esta, que dão igualmente voz a tudo o que temos vindo a defender, que nos dão vitalidade para continuarmos a caminhar, é mesmo muito bom!

É recompensador.

Por isso, mais uma vez, obrigada "Maria"! Muito obrigada por também dares voz a esta causa!

 

Este percurso tem-me trazido cada vez mais certezas de que existem mais "Marias" por aí. E se sim, porque não se juntam a nós, e se confortáveis, nos contam a vossa história? Quanto mais vozes se pronunciarem, maior será o eco!

 

Escrevam-nos a vossa história (ou qualquer outro assunto) para o nosso email: blog@mulherfilhamae.pt

 

Olá Ana! Obrigada por ter iniciado este projecto de partilha fantástico! Depois de conhecer a sua história e ler os testemunhos que publicou recentemente, decidi partilhar a minha também...a história de uma mamã de 2015, fora do seu país, longe da família e dos amigos...

Há realmente coisas para as quais ninguém nos prepara...fazemos as aulas de preparação para o parto e de baby blues fala-se muito pouco. É qualquer coisa que nem nos preocupa antes do parto. Estamos absorvidas com o que temos de preparar antes do bebe nascer, com o momento em si, mas não pensamos no post-partum. Comigo, tudo mudou na noite em que a bolsa de águas rebentou. A saída de casa, marcou o inicio de uma nova etapa, ou do “quarto trimestre de gravidez”, como li à pouco tempo na sala de espera do pediatra.

A minha bebé nasceu por cesariana na manhã seguinte, com um peso inferior a 2,5kg. Dado o seu peso, foi considerada um bebé de baixo peso e todos os cuidados foram tomados. Enquanto tive colostrum, a bebé mamou. O problema começou quando o meu leite desceu e ela rejeitou. Foi introduzido o biberão e não foi fácil o regresso à maminha. Passei dias e noites de angustia no hospital. A pressão foi imensa para que a amamentação fosse estabelecida e para que a bebé não perdesse peso. Quando regressei a casa, a pressão do hospital já tinha passado, a minha bebé estava bem, ganhava  peso, crescia bem, começava lentamente a aceitar a minha maminha, mas a minha angustia, continuava...No dia em que entrei em casa, senti-me perdida. Estava finalmente em casa! E devia estar feliz...e estava...mas estava também absorvida por outros sentimentos que não conseguia explicar a mim própria....tinha medo...medo de estar sozinha com a minha bebé, apesar de só querer estar com ela...medo de não saber cuidar dela...medo de não ser uma boa mãe...sentia uma falta enorme de Portugal, dos minhas pessoas, dos meus sítios...precisava de tempo para compreender a minha bebé (e a mim...mas isso eu não sabia)..precisava de tempo para perceber o que cada choro e cada ruidinho significavam. O meu companheiro deu todo o apoio “logístico”. Era ele que tratava da casa, das refeições...eu “só” tinha de tratar da bebé... mas passados alguns dias tivemos a nossa primeira discussão.  A situação piorou no período em que os meus sogros estiveram cá em casa...além do meu companheiro, agora tinha mais duas pessoas que me olhavam como se eu fosse uma “extraterrestre”... os meus pais que estavam longe, eram os únicos que me compreendiam e me davam apoio, mesmo sem saberem que o faziam...

Apesar de todo o apoio que o meu companheiro me dava, que era imenso e fundamental, faltava alguma coisa...a compreensão do estado psicológico em que me encontrava...sentia que ele esperava mais de mim...dizia-me para voltar a ser eu, para além de mãe, ser mulher (não, não estamos a falar de sexo)...eu sentia que ele me pedia de mais, e ele não compreendia... Ainda hoje, passados 4 meses, ele não percebe o que se passou comigo.

Não, não somos Super Mulheres (ou somos...)...por favor não nos digam o que devemos ou não fazer com o nosso bebé...não nos sufoquem...sim, estamos cansadas e queremos dormir quando o nosso bebé dorme...sim, queremos estar com o nosso bebé ao colo durante horas (faz-nos bem e ao nosso bebé também)...não, não queremos escolher a nossa melhor roupa, apenas a primeira que vem à mão (mal temos tempo para tomar banho, quanto mais escolher roupa, ou fazer depilação, ou pintar unhas, ....)...não nos digam que não podemos ser “apenas” mães, porque é isso que queremos nesta fase... apoiem-nos  neste período em que o nosso estado psicológico está tão fragilizado...só queremos viver o nosso bebé...só queremos ser mães...mais nada...

 

"Maria"