Infertilidade: E quando o corpo não responde como nós gostaríamos?
Há pouco tempo tive com uma amiga que me confidenciou que está com algumas dificuldades para conseguir engravidar.
Assim que começou a falar sobre o assunto, algumas lágrimas começaram a espreitar e outras teimaram mesmo em percorrer-lhe o rosto rápida e espontaneamente.
Enquanto a abraçava com toda a amizade e compreensão, determinadas recordações começaram a emergir na minha mente e o meu coração não ficou indiferente. A velocidade do batimento quase duplicou, tornando todas essas memórias e emoções associadas, bem físicas e presentes.
Parecia que tinha sido ontem. Voltei aquela fase da minha vida em que também eu tive algumas dificuldades para engravidar. Não tantas como ela e como tantas outras mulheres que passam anos a tentar, mas o tempo em que eu tentei, pareceu uma eternidade. E penso que o parece a qualquer um que desejar muito ter um filho e que passados alguns meses/anos a tentar, verifica que não é tão fácil assim.
- Lembrei-me perfeitamente daquela sensação de tanto querer que chegasse aquele dia, em que a menstruação não aparecesse, e o teste de gravidez confirmasse o seu motivo.
- Lembrei-me perfeitamente daquela sensação de desilusão profunda, cada vez que chegava o tal dia do mês, e o meu corpo teimava em mostrar-me que ainda não tinha sido desta vez, ao longo de vários meses seguidos.
- Lembrei-me também que foi exatamente, em dois desses grandes momentos de desilusão, que duas grandes amigas me comunicaram com toda a alegria e felicidade típica do momento que estavam grávidas.
- Lembrei-me de não ter conseguido demonstrar-lhes a minha felicidade como desejava, como demonstraria em qualquer outro momento da minha vida, e de me sentir (muito) mal comigo mesma por isso.
- Lembrei-me de quando não aguentei sentir tudo isto para mim e resolvi deitar tudo cá para fora.
- Lembrei-me de quando comecei a não acreditar que tal fosse possível, e que nem queria imaginar a minha vida, se assim fosse.
Também me passou pela cabeça que por necessidade, obrigação ou simples vontade, muitos adiam a chegada de um filho (tal como eu fiz) e que chegada a altura, os corpos fazem tremer as certezas e aí brotam as dúvidas, de se essas foram as melhores opções.
Todas estas memórias ressuscitaram, permaneceram, emocionaram-me e desvaneceram enquanto nos abraçamos. Assim sendo, aproveitei o calor do momento para partilhar tudo isto com ela e fazer-lhe ver e sentir que muitas histórias têm finais felizes, e (re)começos ainda melhores!
Mas sim, é verdade. Sei que enquanto vivemos esta realidade, a mesma é crua e torna-se cada vez mais desconfortável de sentir há medida que o tempo passa e que a ausência de resultados pretendidos, relacionados com o desejo de ter um filho, grita e ecoa.
Também sei que os outros não ajudam. Sejam eles quem forem. Que perguntarem sempre que nos vêem "se já conseguimos", "quando é que o bebé vem", que "já adiamos muito e qualquer dia estamos velhos para ter filhos", não são (de todo!) os melhores comentários para se ouvir, nem nesta, nem em qualquer outra fase da nossa vida. Embora como é obvio, ouvi-los nesta fase, seja ainda pior!
Nesta mesma semana, em que revivi muito sobre algumas das dificuldades que tive para ter a Madalena, recebi no meu email esta infografia sobre A verdade sobre a infertilidade e senti que seria um bom momento para partilhar ambas: O meu testemunho, e esta informação complementar e com autores que considero fidedignos.
Partilhem esta informação com quem considerem que seja pertinente, pois desejar ser Mãe e ser Pai, e verificar que o processo é muito mais complicado, demorado, e por vezes, impossível de conseguir, é um sofrimento que vem de fininho, instala-se e vai-nos decompondo devagarinho ao longo de meses, e muitas vezes, anos de tentativas, tornando este florescente desejo, numa realidade escura e vazia de se viver.
Um abraço bastante sentido a todos estes Pais de coração! *