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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Qui | 19.02.15

Leite materno versus Leite artificial: A opinião de uma Mãe.

Ana Vale

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Acreditem! Este, não é mais um post para falar sobre os grandes benefícios do aleitamento materno. 

Artigos, opiniões públicas, colóquios, seminários, entrevistas, vários estudos já demonstraram que o leite materno é extremamente benéfico para qualquer criança que o faça. E eu sou completamente a favor do mesmo... para quem pode!

Isto, pois trago hoje aqui este tema, dado que a faceta que quero fazer sobressair desta temática baseia-se pura e simplesmente na resposta à seguinte questão: E quando as mães que querem, não podem amamentar os seus filhos?

Digo isto, pois quantas vezes, enquanto mulheres, futuras mães, gestantes e/ou primíparas somos bombardeadas com os benefícios do leite materno versus o leite artificial? Já alguém sentiu de repente aquela ambiência carregada de pressão e/ou suspense no ar, quando referem que não estão a amamentar? Ou alguma vez vos perguntaram 30 vezes num dia, assim que são mães, se estão a amamentar? E se não, porquê?!

É óbvio que as pessoas têm tendência para fazer perguntas e tentarem saber sempre um pouco mais da vida dos outros, mas no fundo, para mim, tudo isto se resume a uma pressão carregada de pressão e mais pressão que, no geral, a sociedade tem vindo a colocar em cima das mulheres. 

 

Como já disse, e repito, dar leite materno a um bebé é extremamente benéfico, especialmente devido aos anticorpos presentes no mesmo, o que não acontece com a administração do leite artificial (o famoso suplemento). Mas o que eu achei particularmente engraçado, numa experiência na primeira pessoa, foi que, por qualquer local que passava, qualquer conferência que ia, qualquer workshop onde se falava, qualquer profissional com quem contactava, todos referiam o mesmo: o leite materno era ótimo, maravilhoso, praticamente a fonte da cura de todos os potenciais problemas. E até aqui, tudo bem. Tudo bem, até... saber que não ia poder amamentar. Aí o discurso passou a ser outro, totalmente diferente: "Ah, não te preocupes, eles crescem na mesma"; "Também não existem assim tantas diferenças! São só alguns anticorpos que mais cedo ou mais tarde a tua filha irá ganhar..."; "Isso, não é de todo um problema!". 

Eu sei que as pessoas só me queriam ver bem, uma vez que sabiam que eu sempre tive uma grande vontade de amamentar. Que desde o inicio preparei cada pormenor relacionado com o espaço da minha filha, materiais adquirir, entre outros, contando com essa mesma realidade. E quando soube que não ia poder fazê-lo, não foi nada fácil. Mas a questão aqui é que, é verdade: Isto não é de todo um problema! Mas então, a minha questão é a seguinte: Se não é, de todo um problema, então porque é que até se saber que a pessoa não pode amamentar, pressionam-na a todo o custo para o fazer, fazendo do leite artificial quase um objeto de pecado? E assim que a pessoa tem noção de que não pode amamentar, o discurso muda completamente?

 

Escrevo com alguma ironia, não por julgar quem defende qualquer tipo de forma de alimentação ao recém-nascido, mas sim porque caso não tenham ainda reparado, posteriormente, quando eu (assim como muitas outras mulheres que conheci e que sei que passaram pelo mesmo) soube que não ia poder fazê-lo foi uma desilusão gigantesca! Não só porque era algo que gostava muito de ter feito, como durante meses andei a ser esmagada com tanta informação que a todo custo, colocava o leite materno como a cereja no topo do bolo. Aliás, erro meu. Colocava o leite materno como a base do bolo. E agora? E agora quando alguém se vê na situação de não poder construir essa, suposta, base? Como é que se faz o bolo? Irá cair? Irá ser muito mais frágil? Serei capaz de dar a volta, quando todas as receitas falam, descrevem, evidenciam, sublinham e referem constantemente a importância dessa base?

 

Como disse no inicio, a meio, e volto a referir no final: há muitos benefícios em dar leite materno aos nossos bebés, e quem o pode fazer, convido-o francamente a fazê-lo. Contudo faço aqui uma ressalva: Para tudo existe um equilíbrio, no meu ponto de vista. E ao (sobre)carregar-se as mulheres e respetivas famílias com toda esta informação de forma constante e atrevo-me a dizer, quase coacionista, não estaremos a quebrar um pouco esse equilíbrio e a colocar mais pressão quando se deveriam libertar as mulheres de tal, para viverem uma gravidez e um pós-parto, o mais calmo e tranquilo possível?

 

Como sublinhei aqui no outro dia, ao partilhar um post de outro blog, de facto, é preciso libertar as mães! E isto começa logo desde inicio, mesmo antes de o serem. No fundo, penso que é preciso libertarem-se as mulheres de quererem ser algo que não existe: mulheres e mães perfeitas. Pois, a perfeição não existe, e a homeostasia da vida é completa e absolutamente necessária para se viver uma vida plena, e no mínimo, feliz. E sem dúvida, que numa altura tão especial na vida de uma mulher, aliás, de um casal, e ao mesmo tempo, um momento de tantas dúvidas, incertezas e inseguranças, como é o momento que antecede e procede o nascimento de um filho, o tratamento deste tipo de conceitos, da forma como eu senti que foi feito, não foi de todo, o mais adequado. E no final, o simples facto de saber que não ia poder amamentar (que previamente já trazia a carga do seu motivo de base) ainda se tornou mais pesado, pelo facto de não o poder fazer, sentindo toda essa pressão nos meus ombros que até então me tinha sido transmitida quase que (in)conscientemente por terceiros através da excessiva transmissão dos beneficios do leite materno.

Foi só um pequeno obstáculo neste grande e complexo caminho que iniciei: a maternidade. Mas... sem dúvida alguma, um obstáculo que no momento causou uma grande mossa e que me fez refletir e discutir bastante, sobre todas estas questões que aqui coloquei, e das quais, não me esquecerei.

 

E vocês, já sentiram o mesmo?

 

 

 

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