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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Ter | 07.04.15

Maternidade? Nem tudo são rosas!

Ana Vale

Estava sentada no cadeirão cinzento quando tudo, efetivamente, começou.

Eram 21h00 do dia 31 de Dezembro, e tinha acabado de chegar a casa após duas belas noites na maternidade.

E lá estava eu, com a minha pequena nos meus braços. 

Ela a dormir, suspirava. E eu, pensativa, de repente, me consciencializava profundamente, do que poderia significar toda esta nova corrente de vida. Toda esta nova vertente do sentir.

Sem perceber bem como ou porquê, subitamente começo a aperceber-me da abertura de uma agressiva cratera num local, por mim, fisicamente desconhecido, mas emocionalmente, bastante sentido: o mais intimo de mim.

Seria nostalgia do momento? Seria medo? Cansaço? Fadiga? Dor? Não!

Comecei aperceber-me que angustia, vazio e tristeza, eram as palavras que melhor se encaixavam.

Mas porquê? Porquê?

Porquê, se agora, finalmente me sentia mais completa do que nunca!

Porquê, se agora sim!

Porquê, se agora sentia que tinha nos meus braços a fonte da minha realização enquanto mulher, a fonte do meu mais profundo desejo de ser, a fonte de metade do que eu sou conjugada com a minha, tão amada, cara-metade.

Porquê? Foi a pergunta que mais me quebrou durante quatro intensas semanas.

Semanas essas, que me assolaram de fraqueza, irritação, fragilidade, tristeza, constante angustia, necessidade de isolamento frequente e desvios constantes da minha mente. Mente essa, que preferia vaguear por entre os meus constantes e perturbadores pensamentos acerca do meu passado, do que, pela minha mais intima presente vontade de viver o meu amor incondicional, fomentando assim, a nossa cumplicidade, a nossa vinculação.

Não lhe virei as costas, mas muitas vezes fiquei parada a olhar p'ra ela, ali, pura e serena, colocando frequentemente em dúvida a minha capacidade de ser quem a cuida. De ser quem a protege. Embora nunca, a de ser quem incondicionalmente a ama. 

Culpa? Muita a senti! Muita me percorreu, pois sem compreender o que se passava ou o que aconteceu para chegar até ali, muito me culpava, dado que o desejo de a ter, antes d'ela existir, ultrapassava o tamanho do céu. 

Numa palavra? Assolador!

Sim, é verdade!

E perdoem-me, a quem futuramente poderá vir a viver a maternidade, mas este meu testemunho, não mostra mais nada, do que a crua realidade, de quem foi na onda do alheio floreado e pura ingenuidade, e se deixou apanhar na curva desta dura e muito intima veracidade.

Agradeço, sinceramente, a quem teve a coragem de enfrentar os seus fantasmas do passado e de me ajudar a identificar os meus do presente. Conseguem imaginar a importância que isto tem na vida de alguém?

 

Há quem chame isto de babyblues, há quem o denomine por melancolia ou tristeza pós-parto.

Tenha o nome que tiver, sabem o que mais me revoltou quando tudo isto passou? 

O facto de não haver em pleno século XXI, informação adequada, profissionais devidamente informados e interessados sobre esta temática, e acima de tudo, a existência de uma geral aceitação da situação como se de algo normal se tratasse, e pelo qual, quase que, necessariamente todas as mulheres têm de passar (e sozinhas) após um parto, por parte de uma sociedade supostamente evoluída, sem se provir a devida validação e abordagem à situação. 

Aceito que me digam que é naturalmente decorrente de uma gestação.

Não aceito que me façam engolir a normalidade de uma situação que altera por completo o íntimo, pessoal e social de uma vida comum, sem nada se fazer, e sem se agir de forma realista numa sociedade que em muito romântiza o que duro (de uma forma ou de outra), é logo à partida. 

 

Maternidade? Nem tudo são rosas!

 

 

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