Todos os testemunhos que me vão enviando têm a sua particularidade e de uma forma ou de outra têm vindo a atestar tudo o que tenho vindo a descrever no blog, nomeadamente, aqui.
Este, entre tantas experiências, vivências, fases e sentimentos, evidência duas questões das quais ainda não falámos mas que brevemente irão ser abordadas aqui no blog: O facto de uma Depressão Pós-Parto nem sempre aparecer no momento imediatamente a seguir ao parto e a importância das Terapias Alternativas no seu curso.
Curiosos?
Então não deixem de ler uma história que transmite dor, mas também muita coragem, amor e esperança.
Obrigada minha querida JR, por nos ter feito chegar o seu testemunho e também você, dar força para que o tema da Saúde Mental Perinatal seja cada vez mais debatido em praça pública!
E vocês, também nos querem enviar o vosso testemunho? Não deixem de o fazer! Enviem-nos email para:
centro@mulherfilhaemae.pt
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"Antes de escrever seja o que for, deixe-me dizer-lhe, que me sinto tão aliviada/ feliz, por finalmente ter encontrado “alguém”, “um sitio” para falar / escrever.
A minha história não é das mais pequeninas, mas também já são 2 filhos!
Foi em Maio de 2011 que nasceu o meu príncipe, uma gravidez planeada, desejada, que correu muito bem. O que correu mal? O dia do parto, depois de levar a primeira dose de epidural, tive uma paralisia facial (suspeitaram até que podia ter sido um AVC) e fui de urgência para cesariana. O recobro foi difícil, porque não sentia o corpo, não conseguia dar mama e o meu bebé chorava muito. Tive muito mais do que as 2horas no recobro porque me quiseram fazer uma ressonância magnética…basicamente o parto foi às 14h e eu só cheguei ao quarto e ao pé do meu bebé às 20h da noite, já lavada em lágrimas, por estar tanto tempo longe dele. Os dias na maternidade foram passados com muitas dores musculares, no pescoço, cabeça uma luta para arranjar posição para dar mama e com o meu marido a tratar do bebé. As dores de cabeça e no pescoço eram de tal forma que cheguei a dizer à minha obstetra, que não tinha dores na costura, porque eram tantas as outras, que nem me lembrava da costura.
Tive baby blues, quase de certeza, chorei desalmadamente quando entrei em casa pela primeira vez com o meu bebé, chorei sem razão nos outros dias.
O meu bebé, foi um bebé difícil, apesar de mamar e engordar, chorava muito dia e noite, dormia pouco, mas uma coisa que eu não acreditava na altura e que depois aprendi é que eram fases e que iam passar…e passaram!
A vida foi retomando a normalidade, ele foi crescendo as coisas melhoraram.
Em Setembro de 2012, tinha o meu príncipe 16M, quando descobri que estava grávida (engravidei com DIU). Apanhei um susto, chorei com medo, chorei de alegria (pouquinha, pois tive muito medo).
A gravidez correu bem, o parto também, sem percalços. A minha menina, era bem mais tranquila, eu também estava mais descansada quanto à amamentação.
Tive momentos em que me senti mal pelo meu filho mais velho, porque já não tinha todo o tempo só para ele.
Na semana em que eu ia regressar ao trabalho, a minha mãe teve um acidente de carro com o meu filho. Graças a Deus, não aconteceu nada, apesar de todo o “aparato” do acidente, do susto que ele apanhou, de ter que estar no hospital quase em 2 lados, para apoiar o meu menino e para saber da minha mãe. E ainda tinha a minha filhota em casa, que ainda mamava à minha espera (para esquecer mesmo!).
Enfim...regressei ao trabalho apesar de tudo, o meu filho regressou à Vida normal, a minha filha ficou com a minha mãe (como estava planeado) com a ajuda da minha avó (porque a minha mãe ainda tinha muitas dores).
1 mês depois, precisamente do dia do acidente,tive uma crise de ansiedade…pensei mesmo que ia morrer , no hospital mandaram-me para casa descansar. A verdade é que nunca mais foi nada igual, comecei a ter crises de ansiedade no metro, quando estava sozinha, a não conseguir estar sozinha com os meu filhos.
Tive de pedir ajuda neurológica e fiz medicação para a ansiedade. Em Fevereiro tive “alta”, mas em Junho tive uma recaída…voltei a sentir medo, ansiedade, a não querer estar sozinha…só estar bem ao pé dos meus filhos, ter sempre medo que lhes aconteça alguma coisa de mal. Tudo isto me torna incapacitante…nem me sinto boa mãe (capaz!), sinto-me uma estranha dentro do meu próprio corpo.
Procurei novamente ajuda, mas nas medicinas alternativas, procurei a homeopatia e a acupunctura e foi nestas consultas que pela primeira vez me disseram, cara a cara, que o que eu tinha era uma depressão pós parto.
É duro de se ouvir…uns dias penso que vou conseguir ultrapassar, penso que só eu é que vou conseguir fazer algo por mim, que tenho de ter forças pelos meus filhos…mas são muitos mais os momentos em que me vou abaixo, em que penso que não sou capaz, que me apetece deitar tudo para trás…
Não tenho amigos com quem falar sobre isto e nem sei se queria muito falar com alguém que não entenda. Falo com o meu marido é ele que me dá força e me faz ver as coisas. Tenho a minha mãe, que se preocupa comigo.
Mas sinto que só eu posso sair disto, sinto que tenho de fazer pelos meus filhos…e não sei sou capaz.
Foi tão bom ter descoberto este blog ontem…estava a precisar de saber que existem mulheres a passar pelo mesmo, que conseguiram superar-se…tenho esperança quando sei que posso ter sorte.
Obrigada por tudo e desculpe ser “enorme” este meu email.
Um beijinho,
JR"