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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Seg | 16.11.15

O prazer de ser.

Ana Vale

Podemos aprender com os melhores, seguindo os seus bons exemplos. E com os piores, podemos aprender a não cometer os erros que neles identificamos.

E essas duas atitudes, curiosamente, serão formas de apoio a uns e a outros. Reforçando por solidariedade no primeiro caso, questionando o sentido por afastamento no segundo, a quem, finalmente, também se oferece a força do nosso exemplo.

Gosto da palavra "Oferece", talvez porque  o que de mais bonito há na vida não se compra, nem se vende. Conquista-se, ganha-se, descobre-se, encontra-se, sente-se, vive-se, transmite-se, dá-se.

E assim nos vamos sentindo cada vez mais iguais a nós próprios, não por ter, nem por parecer, mas, afinal, por ser. Por nos irmos aproximando gradual e lentamente, daquilo que desejamos ser. Por irmos conquistando o direito de sermos iguais a nós próprios. Pelo prazer de ser. 

 

In O Prazer de ser - Luís Portela. P.11.

 

 

Há poucos dias estava a ler esta passagem no respetivo livro, e achei que a deveria partilhar convosco. 

Dizem que é na adolescência que construímos a nossa personalidade, ou pelo menos, a sua base. Mas pelo que percebo, há tanto em nós que se vai diluindo, consolidado, mistificando com tempo, e há medida que o tempo passa, vamo-nos descobrindo a cada momento. Sendo no erro ou na perícia, revemo-nos em pedaços de atitudes e comportamentos onde nos identificamos e concordamos, ou nem por isso. E assim, pouco a pouco, vamo-nos construindo e cultivando.

Há dias em que nos adoramos, há dias em que não. Corremos, acomodamo-nos, cultivamo-nos e assim vamos vivendo, e quantas vezes conseguimos colocar o filme da nossa vida numa perspetiva em que somos meros observadores?

 

 

Quantas vezes têm, efetivamente, o prazer de ser?

Dom | 15.11.15

Um planeta vivo.

Ana Vale

Dados recentes indicam que 1/3 dos solos agrícolas mundiais estão condenados pela erosão, o que coloca, a par de outros dados indicativos, como o declínio acentuado das espécies conhecidas, o problema do ozono, oceanos cheios de lixo, a falta acentuada de resposta às mudanças climáticas, o crescente número da população mundial, o abate desenfreado de árvores, etc. a pergunta incontornável da capacidade do ser humano em alterar as causas conducentes a estas situações, pois a manterem-se iremos passar um mau bocado, bastante pior a todos os níveis. O planeta está a adoecer gravemente e nós mantemo-nos em festa.

 

 

E quando referimos “iremos passar” não ignoramos as dificuldades presentes – relativamente às quais a grande maioria das pessoas parece estar incrédula ou ignorante – mas pomos a tónica no legado que vamos deixar às gerações futuras, em termos globais. Tudo aponta para um planeta depauperado, gasto, incapaz de alimentar-nos.

 

Conforme alertámos em escritos anteriores, este modo de pensar e de sentir, egocêntrico, muito limitado, estará na base de uma visão errada acerca da nossa forma de proceder. E não podemos acreditar que tudo se modifique num ápice. Levará, certamente, algum tempo até atingirmos um certo equilíbrio, mesmo que comecemos a inversão já, através de uma educação mais equilibrada da geração actual, consonante com esses valores mais amorosos, pacíficos e colectivos e uma atenção viva e de respeito ao planeta que nos acolhe.

 

Estamos a ultrapassar os limites e a comportar-nos inconscientemente como se fosse obrigação da Terra submeter-se aos nossos desvarios. Esta soberba poderá custar-nos muito caro. O desrespeito pela vida, a ideia difundida de que o ser humano se sobrepõe a tudo e todos é da maior leviandade. Ignoramos as vozes que se erguem contra esta óptica, que são apelidadas de negativas, “loucas” até, sem quereremos vislumbrar os numerosos exemplos de alternativas viáveis, teimando em manter um sistema que dá mostras nítidas de estar caduco.

 

 

Um exemplo disso é olharmos a terra de cultivo como se esta não fosse um ser vivo que integra imensos microrganismos. Através desta nossa miopia, continuamos a matar a vida de que todos nós dependemos, introduzindo uma série de produtos que, a longo prazo, a têm conduzido à esterilidade. E quando o que resta dos nossos terrenos produtivos é explorado por mãos estrangeiras, que actuam de um ponto de vista estritamente lucrativo, vendendo os seus produtos no mercado externo, ficamos todos contentes porque assim entra dinheiro nos cofres do estado.

 

Muitos destes princípios a que nos referimos atrás são fundamentais para viabilizarmos um futuro risonho às crianças que hoje apoiamos e aos seus filhos e netos, mais adiante. Ensinemos a geração actual a amar a Terra.

 

Texto escrito por José Mendes.

Qui | 12.11.15

Crónicas da nossa Equipa Clínica: "Pára dogmas! Paradigmas..."

Ana Vale

Os paradigmas dão-nos força para seguir um caminho, mas também poderão prender-nos...

“Qual a crença que se abrisse mão hoje, me deixaria mais livre para conquistar os meus objetivos e sonhos?”

Esta é a pergunta a fazer.

 

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Todos nós temos determinadas crenças, ou seja ideias ou convicções que consideramos verdadeiras e nos dão segurança para agirmos. Crenças adquiridas e reforçadas ao longo da vida através da educação e influências recebidas e experiências vividas e deste modo assumimos determinadas posições.

Um exemplo disso mesmo são as crenças de saúde. Poderemos considerar que a manutenção da nossa saúde (e o desenvolvimento de uma doença) depende sobretudo de algo externo (“locus de controlo externo”) e nesse sentido pouco depende da nossa atuação, mas sim da sorte, dos médicos, do tratamento,... ou pelo contrário poderemos acreditar (e quando falamos de crenças a palavra-chave é acreditar) que a nossa atuação e postura são determinantes (“locus de controlo interno”) e neste caso a sorte também se faz, as escolhas são nossas e o resultado do tratamento também depende do quanto confiamos nele.

 

O mesmo se passa noutras áreas da vida e, deste modo, integramos na nossa vivência determinados paradigmas, isto é, princípios e modelos que seguimos e que nos levam a ter um padrão de comportamento que repetimos e repetimos de forma muitas vezes inconsciente. E repetimos porque o aprendemos, cremos nele e sentimo-nos “confortáveis” com o mesmo, é o que vulgarmente se chama de “zona de conforto”.

E será que estamos mesmo confortáveis com alguns dos nossos paradigmas?

Dito de outra forma, alguns dos nossos paradigmas poderão estar a prender-nos a um padrão de comportamento que não nos permite evoluir ou até que não é saudável para a relação com o outro e connosco mesmos.

 

Veja o seguinte vídeo:

 

 

Vale a pena parar, reflectir, pôr em causa... pensarmos se estamos a dar o melhor de nós, se estamos a receber o que nos deixa feliz ou se simplesmente estamos a agir porque foi como aprendemos e afinal sempre o fizemos assim.

 

A mudança é um processo complexo, pois um paradigma faz-nos pensar que aquela é a forma certa e a única forma de agir e nesse sentido impede a integração de novas ideias, tornando-nos pouco flexíveis. Um exemplo simples desta resistência é o resultado de uma experiência feita com um baralho de cartas, no qual se colocaram algumas cartas alteradas, como a figura do seis de copas preto em vez de vermelho, curiosamente, as pessoas habituadas a lidar com baralhos são as que apresentam maior dificuldade em detectar as alterações: os seus sentidos distorcem os dados para ajustá-los ao seu “paradigma de baralho de cartas”. Portanto, é sempre muito difícil ver para além do paradigma.

 

 

paradigma.jpg

 

A quebra de um paradigma está ligada ao grau de motivação. Imagine a seguinte situação: Era colocada uma trave de madeira a ligar dois prédios altos, no último andar. Conseguia passar de um lado ao outro? A resposta poderia ser não por ser demasiado perigoso e ter-se medo. Oferecia-se uma quantia de dinheiro elevada, passava? A resposta poderia continuar a ser não, justificando-se que não compensava o prémio pelo risco elevado. E se se pedisse para imaginar que tinha o seu(sua) filho(a) no meio da trave a pedir socorro? Eventualmente não hesitaria e ia!

A motivação tem que ser forte para existir a quebra de paradigma.

 

Claro que há fases na vida que por vezes parece mesmo impossível (ou até é)... e é nesses momentos que a ajuda é o caminho.

 

Se queremos uma mudança de comportamento duradoura e consistente, tem que existir mudança de paradigma e para tal é necessário primeiro motivação que é o que nos faz avançar e depois o hábito (persistência) que é o que nos faz continuar, pois caso contrário, voltamos às velhas rotinas.

Para tal é fundamental tomarmos consciência dos valores que são prioritários para cada um de nós, como reflectimos no post “O que nos (co)move”, valores estes que são os pilares das nossas crenças e por sua vez dos nossos paradigmas. E só após este trabalho de identificação e hierarquização de valores é que estaremos preparados para “sair da caixa”, isto é, só após chegar à raiz do paradigma é que poderemos alterá-lo.

 

Portanto, passos a seguir para mudança de paradigma:

Reflectir acerca dos meus valores, daquilo que é realmente importante para mim e que influencia diretamente as minhas escolhas e o meu agir;

Compreender de que forma os valores que são para mim prioritários interferem com a relação comigo e com os outros;

Motivar-me para a mudança, poderá ser individual, poderei precisar do apoio da minha rede (família, amigos) ou poderei até perceber que preciso de apoio profissional;

Experimentar fazer de forma diferente, pensar noutras soluções e pô-las em prática, mesmo que sejam pequenos gestos;

Acreditar que é possível mudar, que eu mereço melhor, que mereço ser feliz!

 

Ao fazê-lo poderá acontecer ver o que me rodeia sobre outras perspectivas, que haja uma mudança de paradigma.

Convido-vos a olhar para a imagem abaixo à esquerda e de seguida para a do lado. Agora experimentem deitar a cabeça para o lado direito.

 

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Qual a vossa resposta para a pergunta inicial? Já pensaram nisso?...

 

 

* Texto escrito por Raquel Vaz (Psicóloga Clínica)

Seg | 09.11.15

Quantas vezes tiveram de recomeçar?

Ana Vale

Eu, várias. E de entre todas, recomeçar a acreditar, penso que tenha sido a mais difícil. 

 

 

Acreditar é a essência da motivação, da força de vontade, do caminho. 

Duvido que, quem não acredite, que execute em pleno, que dance com a alma, que caminhe sereno ou que percecione com calma. 

 

Quem acredita, segue, move, escuta, sente, verbaliza, concretiza, agarra, faz acontecer. E é aí que, muitas vezes, reside a diferença entre quem diz que é, e quem verdadeiramente integra o ser. Entre quem veste total ou parcialmente a camisola. Entre quem se cola, ou entre quem serve na perfeição. 

Quem acredita, também cai, também se magoa, também coloca em questão, também ostenta a rápida mudança. Mas quem acredita, depois, também compreende que a perseverança é uma qualidade que se conquista nesse processo e que nem sempre vem integrada no ventre de outrem.

Eu acredito que amar, cura, reconstrói e renova.

Eu acredito no que acredito ser possível sem enquadrar em si a utopia, que por si só é percecionada pelos que ignoram a fonte de outras verdades. Outras, claramente mais sábias.

Eu acredito que a intenção potencia a razão e nos fortalece intrinsecamente. 

Eu acredito na força da nossa consciência como orientadora de muitos dos nossos atos. 

Eu acredito em mim. Eu acredito num futuro melhor.

 

E agora, depois de acreditar, vou ter de recomeçar a caminhar.

Dispostos a doar sábios conselhos por aí? 

 

Seg | 02.11.15

Caros amigos, cometam os vossos próprios erros!

Ana Vale

Talvez por andar num momento cuja reflexão e o pensamento crítico se evidenciam e reforçam constantemente, me tenha lembrado que este texto faz todo o sentido neste meu recanto. 

Partilho convosco mais um texto, que tal como este - Quase - me faz viajar profundamente pelo que sou, pelo que sinto e por tudo o que o suporta. 

 

Já conheciam? 

 

 

"Meu caro Amigo:

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, seles forem meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas.

Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhe: a de se não conformarem.

A réplica, como você já está vendo, também é fácil; se o meu desejo é sempre de que se não conformem, se quero neles a mesma força que existe ou desejaria que existisse, sou tão inquisitorial como qualquer outro. Todo o mestre (deixe-me pôr o caso como que impessoalmente e sem de modo algum pretender ser mestre), todo o mestre quer os seus discípulos iguais a ele, mesmo quando parece dar-lhes a maior liberdade.

Dirá o Luís que seria talvez o modelo de mestre o que, por exemplo, não ser do tipo conformado os reconhecesse e quisesse a todos, de qualquer tipo que eles fossem; agora ponho eu objecções: querer tudo, tudo aceitar mas de dentro, sinceramente não apenas em palavras ou em atitudes de superfície não é ser conformado nem o contrário. Não é não ser nada: é ser tudo, como Deus. Claro está que Deus é o grande mestre: chove sobre o justo e o injusto. Mas nos mestres da terra, se não os alargarmos às proporções divinas, isto é, se os não fazemos desaparecer, há sempre uma semente de tirania.

Se sou mestre, não posso fugir à fatalidade. Supostamente, a tirania do contra agrada-me mais do que a tirania de seguir. Oponha-se sempre que possa. Dar-lhe-ei o conselho de se opor, mesmo quando lhe parece que tenho razão? Não me parece mau como exercício. Mas as melhores ginásticas deformam, se são um vício ao contrário. Não andar pouco, não andar muito. Toda a vida bem vivida, harmoniosamente vivida, vivida sem faltas, sem medidas, com felicidade, com serenidade, é uma vida medíocre. Tudo o que passe do medíocre tem em si o excesso e o erro.

Feche, pois, os ouvidos ao que lhe ensino, se alguma coisa lhe ensino; faça a viagem por sua conta e risco, você mesmo ao leme; se tivermos naufrágio, far-lhe-emos uma Elegia Marítima: duas páginas de versos todos cheios ao ritmo das vagas e desse estranho soluçar do vento nos altos mastros do navio."

Agostinho da Silva

In. Sete cartas a um jovem filósofo. Ulmeiro, pp. 39-41.