Os paradigmas dão-nos força para seguir um caminho, mas também poderão prender-nos...
“Qual a crença que se abrisse mão hoje, me deixaria mais livre para conquistar os meus objetivos e sonhos?”
Esta é a pergunta a fazer.
Todos nós temos determinadas crenças, ou seja ideias ou convicções que consideramos verdadeiras e nos dão segurança para agirmos. Crenças adquiridas e reforçadas ao longo da vida através da educação e influências recebidas e experiências vividas e deste modo assumimos determinadas posições.
Um exemplo disso mesmo são as crenças de saúde. Poderemos considerar que a manutenção da nossa saúde (e o desenvolvimento de uma doença) depende sobretudo de algo externo (“locus de controlo externo”) e nesse sentido pouco depende da nossa atuação, mas sim da sorte, dos médicos, do tratamento,... ou pelo contrário poderemos acreditar (e quando falamos de crenças a palavra-chave é acreditar) que a nossa atuação e postura são determinantes (“locus de controlo interno”) e neste caso a sorte também se faz, as escolhas são nossas e o resultado do tratamento também depende do quanto confiamos nele.
O mesmo se passa noutras áreas da vida e, deste modo, integramos na nossa vivência determinados paradigmas, isto é, princípios e modelos que seguimos e que nos levam a ter um padrão de comportamento que repetimos e repetimos de forma muitas vezes inconsciente. E repetimos porque o aprendemos, cremos nele e sentimo-nos “confortáveis” com o mesmo, é o que vulgarmente se chama de “zona de conforto”.
E será que estamos mesmo confortáveis com alguns dos nossos paradigmas?
Dito de outra forma, alguns dos nossos paradigmas poderão estar a prender-nos a um padrão de comportamento que não nos permite evoluir ou até que não é saudável para a relação com o outro e connosco mesmos.
Veja o seguinte vídeo:
Vale a pena parar, reflectir, pôr em causa... pensarmos se estamos a dar o melhor de nós, se estamos a receber o que nos deixa feliz ou se simplesmente estamos a agir porque foi como aprendemos e afinal sempre o fizemos assim.
A mudança é um processo complexo, pois um paradigma faz-nos pensar que aquela é a forma certa e a única forma de agir e nesse sentido impede a integração de novas ideias, tornando-nos pouco flexíveis. Um exemplo simples desta resistência é o resultado de uma experiência feita com um baralho de cartas, no qual se colocaram algumas cartas alteradas, como a figura do seis de copas preto em vez de vermelho, curiosamente, as pessoas habituadas a lidar com baralhos são as que apresentam maior dificuldade em detectar as alterações: os seus sentidos distorcem os dados para ajustá-los ao seu “paradigma de baralho de cartas”. Portanto, é sempre muito difícil ver para além do paradigma.
A quebra de um paradigma está ligada ao grau de motivação. Imagine a seguinte situação: Era colocada uma trave de madeira a ligar dois prédios altos, no último andar. Conseguia passar de um lado ao outro? A resposta poderia ser não por ser demasiado perigoso e ter-se medo. Oferecia-se uma quantia de dinheiro elevada, passava? A resposta poderia continuar a ser não, justificando-se que não compensava o prémio pelo risco elevado. E se se pedisse para imaginar que tinha o seu(sua) filho(a) no meio da trave a pedir socorro? Eventualmente não hesitaria e ia!
A motivação tem que ser forte para existir a quebra de paradigma.
Claro que há fases na vida que por vezes parece mesmo impossível (ou até é)... e é nesses momentos que a ajuda é o caminho.
Se queremos uma mudança de comportamento duradoura e consistente, tem que existir mudança de paradigma e para tal é necessário primeiro motivação que é o que nos faz avançar e depois o hábito (persistência) que é o que nos faz continuar, pois caso contrário, voltamos às velhas rotinas.
Para tal é fundamental tomarmos consciência dos valores que são prioritários para cada um de nós, como reflectimos no post “O que nos (co)move”, valores estes que são os pilares das nossas crenças e por sua vez dos nossos paradigmas. E só após este trabalho de identificação e hierarquização de valores é que estaremos preparados para “sair da caixa”, isto é, só após chegar à raiz do paradigma é que poderemos alterá-lo.
Portanto, passos a seguir para mudança de paradigma:
1º Reflectir acerca dos meus valores, daquilo que é realmente importante para mim e que influencia diretamente as minhas escolhas e o meu agir;
2º Compreender de que forma os valores que são para mim prioritários interferem com a relação comigo e com os outros;
3º Motivar-me para a mudança, poderá ser individual, poderei precisar do apoio da minha rede (família, amigos) ou poderei até perceber que preciso de apoio profissional;
4º Experimentar fazer de forma diferente, pensar noutras soluções e pô-las em prática, mesmo que sejam pequenos gestos;
5º Acreditar que é possível mudar, que eu mereço melhor, que mereço ser feliz!
Ao fazê-lo poderá acontecer ver o que me rodeia sobre outras perspectivas, que haja uma mudança de paradigma.
Convido-vos a olhar para a imagem abaixo à esquerda e de seguida para a do lado. Agora experimentem deitar a cabeça para o lado direito.
Qual a vossa resposta para a pergunta inicial? Já pensaram nisso?...
* Texto escrito por Raquel Vaz (Psicóloga Clínica)