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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Seg | 12.09.16

Baby Blues e Depressão pós-parto: Serão a mesma coisa?

Ana Vale

Para quem segue o blogue há mais tempo provavelmente vai perceber que já não é a primeira vez que escrevo sobre este tema. No entanto, por ser um tema tão importante, nunca é demais apostar na sua abordagem. 

 

Logo no inicio do blogue um dos primeiros textos que fiz foi denominado por Baby Blues e Depressão Pós-Parto: Duas (realidades) muito diferentes!

Um texto que de uma forma muito simples e objetiva identificava algumas diferenças entre as duas realidades supracitadas. Mais tarde, e após um contacto - que jamais esquecerei - com a equipa de investigação do Serviço de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, a Dra. Ana Telma Pereira, coordenadora de estudos na área da saúde mental perinatal também nos esclareceu quanto à presente questão respondendo o que poderão verificar aqui.

 

 

Agora, poderão estar a questionar-se sobre o porquê de abordar novamente a questão, mas a verdade é que ainda há muito para ser falado sobre o tema. 

 

Há pouco tempo, andava eu a pesquisar sobre Baby blues, quando me deparo com o vídeo que coloco de seguida (no final do presente parágrafo). Em poucos minutos é realizada uma entrevista a Alanis Morissette - uma das cantoras e compositoras de eleição dos meus tempos de adolescente - quando verifico que a mesma também passou por um baby blues que foi muito abordado na época e sobre o qual a cantora resolveu falar em vários programas televisivos de forma a alertar mulheres e respetivas famílias para esta realidade. Contudo, algo com que me deparei no vídeo, foi que ao longo do mesmo tanto falavam em baby blues como em depressão pós-parto. Deu-me a entender que falavam de ambos os termos como se do mesmo se tratasse. E não é verdade

 

 

Baby blues e depressão pós-parto constituem-se duas realidades diferentes a vários níveis como podem verificar nos artigos referenciados ao longo do presente texto

 

Acima de tudo é importante compreender que o baby blues é, de facto, menos grave/intenso emocionalmente do que a depressão pós-parto. Esta última, por sua vez, já é considerada uma patologia que necessita de tratamento médico e acompanhamento especializado. Assim sendo, se sentem que estão a passar por uma fase que identificam como sendo um baby blues e se as alterações que verificam/sentem perduram por mais de 2/3 semanas após o parto, que vão piorando há medida que o tempo passa, e que vão ficando cada vez mais exaustas, isoladas, anérgicas, sem interesse no que vos rodeia (podendo incluir, ou não, o bebé), por exemplo, então devem procurar ajuda! 

 

Falem com o vosso companheiro, ou amigo/amiga, familiar, alguém com quem tenham mais confiança. Partilhem o que sentem. Se não conseguirem falar sobre o que vos angústia no momento, escrevam e mostrem a alguém de confiança, por exemplo. Mesmo assim, não se esqueçam que existem profissionais especializados para acompanharem este tipo de casos, a quem devem recorrer para que possa ser feita uma adequada avaliação da situação e caso seja necessário, obterem assim, um acompanhamento ajustado às vossas necessidades. 

 

E caso tenham alguma dúvida, lembrem-se sempre que podem contactar-me através do seguinte email:

blog@mulherfilhamae.pt

Dom | 11.09.16

Sobre saúde mental na gravidez e no pós-parto #5

Ana Vale

"Apesar de haver poucas diferenças entre a sintomatologia da depressão perinatal e da depressão em qualquer outro período da vida, estar grávida, ter um bebé e ser uma recém-mãe constituem acontecimentos de vida significativos que podem influenciar grandemente o desenvolvimento da depressão e o modo como os diversos sintomas se manifestam. Sentimentos de culpa, insegurança acerca das competências parentais, falta de proximidade e interesse pelo bebé e/ou preocupações excessivas acerca do seu bem-estar estão geralmente presentes."

 

 

Macedo, A.F. & Pereira, A. T. (Coords) (2014). Saúde Mental Perinatal: Maternidade nem sempre rima com felicidade. Lousã: Lidel.

Sex | 09.09.16

Histórias que dão a cara por esta causa #18 - "Tinha falta de vontade de tomar conta da bebé que chorava e eu não ligava"

Ana Vale

É sempre com grande estima e interesse que leio os testemunhos que me enviam! 

Para mim todos eles têm um lugar cativo, pois de certo que todos já ajudaram muitas outras mulheres e respetivas famílias a tomarem consciência, ou a aumentarem a sua consciência, sobre o baby blues e a depressão pós-parto. 

 

A Ana enviou-se o seu testemunho há poucos dias, e tal como lhe disse, deixou-me perplexa perante o que relatou, e ao mesmo tempo, pela força que demonstrou ter perante todas as adversidades, tendo em conta as circunstâncias referidas pela própria. 

Melhor! Para além da partilha, ainda deixou uma mensagem muito assertiva, sentida e realista a todas as pessoas que possam estar a passar por esta problemática, tal como ela. Curiosos?

 

Podem lê-la no final do testemunho, e não se esqueçam que também vocês podem contribuir para que todos tenhamos uma consciência maior sobre esta problemática. Enviem-me o vosso testemunho, tal como a Ana fez, para centro@mulherfilhaemae.pt

 

 

Olá, eu sou a Ana, tenho 35 anos, mãe de dois filhos e sou acompanhada em psiquiatria desde 2011.

Em 2011 estava já a tentar engravidar há quase dois anos, tínhamos já feito alguns exames para saber se estava tudo bem e não foi identificado nenhum problema. Simplesmente não acontecia... e de repente, da noite para o dia, ela veio sem eu me aperceber. Foi a primeira noite sem dormir, na almofada só ouvia o bater do meu coração a 100km/h. Cada vez que fechava os olhos, uma avalanche de coisa e tinha de os abrir. E os pensamentos a mil à hora, tudo de repente me pareceu estanho, eu era estranha, a casa era estranha, o meu R. era estranho. Parecia que andava assustada, em permanente estado de alerta. Vim depois a saber que era ansiedade, a resposta que temos perante o perigo, mas aparentemente sem razão, como eu lhe chamo, patológica. Nos dias seguintes o quadro manteve-se, não conseguia dormir, não conseguia controlar a velocidade dos pensamentos, e comecei a não conseguir comer. Para além disto tudo, senti-me muito apática, sem energia, agoniada, mas não conseguia chorar e o meu corpo pesava chumbo. Tudo era um sacrifício. Andar, comer, falar... tudo. E eu sentia-me culpada por estar assim, por não me sentir bem em lugar nenhum, por estar a causar sofrimento ao meu marido e a às pessoas que me rodeavam. Mas pedi ajuda passado poucos dias. Marquei uma consulta de psicologia e após a consulta chegou-se à conclusão que estava a vivenciar um episódio depressivo com a companhia da amiga ansiedade. Falar ajudou, por momentos sentia que voltava ao meu eu, mas rapidamente tudo ficava igual. Ficou combinado relaxar, comprar qualquer coisa de origem vegetal para tentar dormir, continuar a psicoterapia e se a coisa piorasse procurar o médico de família. Mas o principal nunca estabilizou, o dormir, e depois de 2 semanas de muito penar, decidiu-se avançar para o tratamento com calmantes e antidepressivos e a coisa começou a melhorar.... Chegou-se à conclusão que o primeiro episódio foi despoletado pela dificuldade em engravidar, talvez por ter exigido muito de mim, não sei. Aos olhos de hoje, e pelo que conheço de mim agora, o episódio apareceu porque tinha de aparecer, porque a depressão é uma doença como outra qualquer e pode aparecer sem qualquer razão aparente e, à luz do que fui aprendendo na psicoterapia, sempre tive uma personalidade propícia a isso.

Como estava a tentar engravidar, o médico de família sugeriu consultar mesmo um psiquiatra. Mudei de medicação, para um antidepressivo compatível com uma gravidez, mas nunca falei disso a ninguém. Só os médicos e o meu marido é que sabíamos disso, para evitar muitas explicações e também por receio do que as outras pessoas poderiam dizer. Havia risco de tomar, como quase todos os medicamentos que se tomam, mas os benefícios eram muito superiores e já havia um grande suporte científico. Engravidei, tentou-se retirar a medicação, mas recaí, voltou-se a tomar, e deixei quinze dias antes do parto. Correu tudo bem, imediatamente a seguir ao parto, voltei a sentir-me muito bem, como já não me sentia à muito tempo e acho que não tive babyblues. Tudo correu bem à exceção da amamentação. A anatomia não me favoreceu e foi a parte mais complicada do pós-parto. Ainda tirei muito leite com bomba, mas acabava por ser muito extenuante e aos poucos fui deixando. Em relação a tudo o resto, parecia correr às mil maravilhas, estávamos a lidar todos bem com as noites mal dormidas, havia energia para fazer o dia a dia, estávamos muito felizes com a catraia e eu até estava surpreendida comigo mesma. Até que às 6 semanas pós-parto, quando supostamente as hormonas já estabilizaram, a ansiedade apareceu com pezinhos de lã. Ainda tentei resistir ao seu avanço, com as técnicas que fui aprendendo, mas quando ela vem é muito avassalador. E lá apareceu a apatia, a falta de vontade, a tristeza e agora um sentimento de incapacidade e de falta de vontade de tomar conta da bebé, que chorava e eu não ligava. Com quem não tinha vontade de interagir e que tinha à bem pouco tempo começado a esboçar os primeiros sorrisos e nada significavam para mim. Como sabia o que se estava a passar, pedi ajuda o mais rapidamente possível e tudo voltou a entrar nos eixos. Voltei a engravidar, ainda em tratamento. Pelo historial que tinha, a médica achou por bem continuar com a terapêutica. Deixei novamente apenas antes do parto e depois o cenário também se repetiu, tudo óptimo após o parto, tudo a correr bem, conseguia gerir tudo inclusive, o novo rebento e a mais velha, por vezes, sozinha, até que após a fase da euforia pós-parto, a dita voltou e eu voltei ou continuei com o tratamento.

Não sei se o que tive foi DPP ou uma recaída do que já me tinha acontecido, mas como foi também depois do parto, acho que é interessante partilhar. O conselho que eu posso dar é que sempre que sintamos que algo não está bem, não devemos ter medo ou receio de procurar ajuda. O pior que podemos fazer é tentar resolver as coisas sozinhos, pois muitas vezes isso pode acabar mal, como muitas vezes ouvimos. O conforto do companheiro, das familiares e dos amigos é óptimo e devemos aproveitar, mas não devemos ter medo ou receio de procurar ajuda médica e muitas vezes fazer opções que podem parecer egoístas, mas que são a melhor solução para o nosso bem-estar e isso é sem dúvida o mais importante, no dia a dia e na maternidade/paternidade. E, muito menos, nos devemos estigmatizar por ter de recorrer a tratamento com medicamentos, eles são uma ajuda preciosa e a depressão é uma doença como outra qualquer, muitas vezes com característica de crónicidade, como os diabetes, a hipertensão, entre outras. Existe é um estigma social ainda muito grande em relação a esta doença e fala-se muito pouco, quanto mais quando ela aparece numa fase da vida da mulher, em que tudo deveria ser um mar de rosas....sem espinhos :P

Termino este testemunho que já vai muito longo, com umas palavras que me ficaram retidas na memória num workshop que fiz antes de ter a minha primeira filha, relacionado precisamente com a depressão pós-parto. O melhor que se pode fazer é prevenir a DPP e isso inclui procurar o máximo de informação ou ter acesso a ela. E isso passa pela divulgação nos serviços pré-natais e em outros meios mais informais, com é o caso deste blogue. Porque a prevenção não nos torna imune à DPP, mas dá-nos conhecimento e armas para saber actuar, se for necessário.

Obrigada.

Ter | 06.09.16

Sobre saúde mental na gravidez e no pós-parto #4

Ana Vale

"A Gravidez e o primeiro ano após o parto é um momento excitante que também traz muitos desafios e responsabilidades. É atualmente reconhecido que cerca de 1 em cada 20 homens experiência depressão durante a gravidez e que 1 em cada 10 novos pais desenvolve uma depressão pós-parto. A ansiedade é comum e muitos homens experimentam ansiedade e depressão ao mesmo tempo. É importante saber que existe ajuda que pode ser acionada e que quanto mais cedo for, melhores serão os resultados obtidos para o pai e para o bebé."

 

 

 

Podem consultar o folheto informativo na íntegra neste link

Seg | 05.09.16

Entrevista à Vital Health: Evitar a depressão ultrapassando o “blues pós-parto”

Ana Vale

Um dia contactei a Sofia, uma jornalista que trabalha no ramo da saúde. Desde então demonstrou sempre uma grande disponibilidade para me ajudar a divulgar artigos inerentes às temáticas que tenho vindo a desenvolver por aqui

 

Um deles, foi publicado há alguns meses (podem consultá-lo aqui), e outro foi publicado recentemente na Vital Health. 

 

Não quero deixar de registar esta entrevista, assim como as várias informações que penso poderem ser úteis aos vários leitores que vão seguindo o blogue e que se interessam por estes temas. 

 

Muito lhe agradeço por me dar a oportunidade de divulgar este tipo de temáticas, e assim continuarei! Obrigada Sofia! :)

 

Podem sempre consultar a entrevista neste link

Ou lê-la de seguida.

Mas atenção! Não iremos ficar por aqui. Brevemente virão mais novidades! ;) 

 

Também nos querem ajudar a divulgar este tipo de temáticas? Não hesitem! 

centro@mulherfilhaemae.pt

 

post vital health entrevista.png

 

Vital Health (VH) | Quais os sinais do período "blues pós-parto" (BPP)?

Ana Vale (AV) | O “blues pós-parto” (BPP) é considerado como uma fase passageira, normal e comum às alterações hormonais e ao nível de stresse que caracteriza os primeiros dias após o nascimento do bebé. Os sinais que o traduzem, assim como a sua intensidade, durabilidade e etiologia podem variar muito de pessoa para pessoa, mas os mais comuns e frequentemente descritos na literatura existente caracterizam-se pela irritabilidade, labilidade emocional, choro fácil, dificuldade de atenção, distração, insónia e fadiga. O choro pode não ser acompanhado de sentimentos de tristeza. Algumas mulheres chegam até a experimentar sentimentos de alegria e tristeza ao mesmo tempo.

VH | Como devem reagir as mulheres perante essa sintomatologia?
AV | É difícil responder a esta pergunta. Ainda por cima, tendo passado por esta vivência na primeira pessoa, sei o quão difícil é reagir a algo que nos é tão intrínseco e compreendo a quantidade de dúvidas que surgem no momento. Contudo, antes de mais, tanto as mulheres como a respetiva família, devem estar informadas sobre a possibilidade que têm de vir a desenvolver um BPP e no que consiste.
Caso ocorra, há que estar atento aos sinais e sintomas que anteriormente falei, e acima de tudo na intensidade e duração com que ocorrem. Se durarem mais do que duas semanas a um mês, é aconselhado procurar ajuda especializada, pois poderemos estar na presença de alguém que está a desenvolver uma depressão pós-parto (DPP).

VH | É, portanto, ténue a linha que separa o período "blues pós-parto" da depressão pós-parto?
AV | Dependendo do tipo de apoio que a mulher tem para gerir esse período da sua vida (e aqui não falo só do apoio familiar), sim, poderá ser.
Sabe-se que os BPP são um preditor independente da depressão pós-parto e estima-se que cerca de 20% das mulheres que desenvolvem um BPP, poderão vir a desenvolver uma DPP. Assim, é importante identificar estas mulheres e de se trabalhar com elas, no sentido de se tentar prevenir o desenvolvimento de uma depressão pós-parto.

VH | Como é que o “blues pós-parto” pode ser ultrapassado?
AV | Sendo maioritariamente influenciado pela componente hormonal, que neste período da vida da mulher está bastante alterada, é esperado que quando houver um ajustamento, a mulher também recupere (ou comece a recuperar) desta fase. No entanto, é de salientar a importância que o apoio das pessoas que lhe são significativas (especialmente do companheiro) tem na gestão desta fase de sua vida, que pode não ser tão positiva como o que foi esperado.
Há inúmeros fatores que poderão contribuir para um melhor ou pior ajustamento a esta nova fase da vida da mulher/casal. Para além dos últimos referidos, o temperamento do bebé, a relação que se estabelece entre o casal, a partilha de tarefas, a realização da identidade materna, as características dos pais e do bebé, algumas variáveis obstétricas (por exemplo, a ocorrência de complicações durante a gravidez e no parto) são só alguns dos fatores que aqui identifico, podendo cada um deles, em associação ou em separado, contribuírem para a forma como a mulher/casal ultrapassa/ultrapassam esta fase de suas vidas.

VH | Como devem as outras pessoas, próximas à mulher e sobretudo o seu companheiro, ajudar a ultrapassar esse período?
AV | Sou uma defensora acérrima de que o apoio das pessoas, que são consideradas significativas para a mulher, é fundamental para que a mesma ultrapasse esta fase da melhor forma possível. Algo que também já está comprovado pela investigação científica.
Demonstrar disponibilidade para ouvir o que a mulher sente (mesmo que sinta o mesmo, vezes sem conta...), ser-se paciente, ajudar nas tarefas domésticas e nos cuidados ao bebé, estimular a saída da mulher ao exterior, nem que seja para apanhar um pouco de sol, ou para comer a sua fatia de bolo de chocolate favorita, assim como não aparecerem em casa do casal de surpresa "só" para ver o bebé, mas sim avisarem e tentarem compreender se a visita é oportuna e ajudar no que for necessário. Estas poderão ser, só algumas, das muitas formas da família e amigos promoverem o bem-estar da mulher.

VH | A Ana Vale passou por um período "blues pós-parto". De que forma o ultrapassou?
AV | Para além de ter escrito muito do que senti durante esse período, num pequeno diário que construí para aquele momento, e de ter fundado o meu blogue, sem dúvida alguma que o apoio do meu marido e da minha família foi fundamental para a gestão deste momento na minha vida.
A partilha de tarefas foi uma constante, assim como a profunda compreensão por parte dos meus pais, irmã, sogros e amigos, foi fundamental para eu ter o meu tempo de adaptação e ultrapassar da melhor forma possível o BPP.

VH | A criação do blogue ajudou. De que forma agora ajuda outras mulheres na mesma situação?
AV | No blogue fui publicando muitas das minhas vivências, pensamentos, sentimentos e emoções sobre o tema, tendo acesso também a muitas das vivências e experiências de outras mulheres, que passaram por situações semelhantes à minha e outras até mais duras do que a minha. Foi também com este objetivo que criei o blogue: para conhecer e dar a conhecer histórias de outras mulheres e respetivas famílias que tivessem passado por estas experiências durante a gravidez e/ou no pós-parto. Queria muito saber como tinham ultrapassado esse momento nas suas vidas e dar a conhecer essas estratégias a quem poderia vir a ter interesse no blogue, por já ter passado ou por estar a passar por uma situação semelhante.
Atualmente, pelo que me vão relatando, percebo que o blogue tem ajudado muitas mulheres e respetivas famílias.
Também ajudo através da possibilidade que promovo para que criem as suas narrativas e partilhem as suas histórias na rúbrica “Histórias que dão a cara por esta causa”. Desta forma, para além de escreverem o que sentem, o que escrevem é publicado e ajuda outras mulheres e respetivas famílias que consultem o blogue. Estas, têm acesso a testemunhos reais, o que por si só, já e um amparo para muitas pessoas que vivem esta realidade e que pouca informação têm sobre o tema.
Para além de promover essa partilha, escrevo muito sobre o tema (não só sobre “blues pós-parto”, como depressão pós-parto, ansiedade e psicose pós-parto, por exemplo). Tudo o que escrevo é baseado em informação fidedigna (bibliografia essa que coloco nos respetivos textos para quem quiser pesquisar mais sobre o tema, saber onde se dirigir). No fundo, acabo por estar a construir uma base de dados sobre uma determinada área, para quem estiver interessado ter mais informação sobre o tema.
Para além disso, e para terminar, tenho estudado e pesquisado muito para encontrar locais para onde possa reencaminhar os pedidos de ajuda que me vão chegando dentro desta área. São cada vez mais e nem sempre é fácil criar essa ponte. Mas, aos poucos, tenho conseguido encontrar locais de referência, o que tenho sentido como uma grande conquista neste âmbito, pois foi algo que não encontrei para mim, mas que tenho encontrado para outras pessoas que passam por situações semelhantes à minha.

VH | Mais recentemente criou o Movimento "O que é que sabes sobre depressão pós-parto?", que está integrado no seu blogue. Qual foi o objetivo?
AV | Este movimento surgiu após várias interações que tive com mulheres que tinham receio de assumir a sua depressão pós-parto e/ou de procurarem ajuda especializada por receio de se confrontarem com aquilo que terceiros poderiam pensar de si. Foi, então, uma forma que encontrei para atingir os seguintes três grandes objetivos, a pensar nessas interações:
- Combater o estigma face às pessoas com depressão pós-parto;
- Promover a reflexão (comunitária) sobre o conceito de DPP;
- Desmistificar conceitos erróneos relativos à DPP;

VH | Tem recebido feedback?
AV | Tenho tido muito feedback e comecei por ter mais do que pensava que teria inicialmente. Contudo, sei que ainda falta muito "movimento" ao movimento, para que o mesmo seja levado ao maior número de pessoas possível.

VH | Como podem as pessoas participar?
AV | É simples. Basta responderem à questão “O que é que tu sabes sobre Depressão Pós-Parto?” e enviarem-me a sua resposta para o seguinte email: blog@mulherfilhamae.pt.
Seguidamente, publicarei as respostas no blogue, reforçando positivamente as respostas que tiverem corretas e desmistificando conceitos erróneas nas menos corretas.
Podem também fazer comentários nas redes sociais utilizando a hashtag #movimentodepressãopósparto.
Desta forma, será promovido o debate sobre o tema, ao qual qualquer um poderá aceder, participando e/ou esclarecendo as suas dúvidas e questões sobre o tema.

VH | No geral, o que espera com todas as ações que tem desenvolvido em prol deste período característico do pós-parto em muitas mulheres?
AV | Espero fazer por elas o que senti falta que fizessem por mim. Promover para outros, o que senti que não tive: toda esta informação e iniciativas sobre o tema, condensada num local fidedigno. E, acima de tudo, espero aliviar o seu sofrimento e promover o bem-estar dessas mulheres e respetivas famílias, construindo um espaço alusivo a este tipo de temáticas, onde a partilha de momentos menos positivos - num momento onde é esperada sempre grande felicidade - é comum e normal. Num espaço onde se fala sobre a maternidade que nem sempre rima com felicidade, mas que mesmo assim não significa que um dia não venha a rimar.
Sex | 02.09.16

Blues pós-parto: uma fase expectável na vida de um casal.

Ana Vale

A poucos meses de iniciar o blogue, a nossa história foi publicada na plataforma Capazes, na altura denominada por Maria Capaz. 

 

Após a publicação da nossa história surgiram uma série de comentários que resolvi gravar para mais tarde partilhar com os leitores do blogue. Algo que acabei por não fazer na altura. 

Há poucos dias estava a organizar o computador e deparei-me com uma série de imagens que gravei derivadas da respetiva publicação e considerei que este fosse um bom momento para o fazer. 

 

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Impressionante como foram tantas as mulheres que se identificaram. 

Não foi fácil para mim tornar públicas muitas das experiências pelas quais passei durante o período em que tive blues pós-parto. Contudo, hoje sinto o quão importante foi fazê-lo e o quão acabou por influênciar uma série de pessoas, consequentemente. 

 

Muitas das mulheres que me enviam as suas histórias, referem que "já há muito que o estavam para fazer", mas que "faltava a coragem".

Embora sejam histórias escritas, embora não se mostre a cara, embora não se fale, custa refletir, custa reviver, custa voltar a sentir o quão duro foi passar por momentos tão complexos como os que se experienciam no pós-parto, muitas vezes sem se estar à espera de tal.

Tudo isto se torna natural quando somos pais. E a vivência de um blues pós-parto é esperada por muitos clínicos, tendo em conta a fase de transição que um casal acaba por passar aquando do nascimento do bebé, especialmente se este for o primeiro.

 

Confesso-vos que só há pouco tempo é que tomei conhecimento desta realidade. Afinal... muitos profissionais de saúde já estão à espera que o casal passe por um blues pós-parto?! 

 

Então, porque é que há tão poucas respostas neste sentido? 

 

Brevemente trago-vos um texto que explica melhor o que é isto de um blues pós-parto ser um problema expectável para muitos profissionais de saúde da área nesta fase da vida do casal. 

 

Curiosos?

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