Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 30.12.16

Mulher, Filha & Mãe: O melhor de 2016 e vontades para 2017!

Ana Vale

É impossível chegar ao final do ano e não fazer um balanço do que já foi feito e projeções sobre o tanto que ainda quero fazer!

Seja o que for, ou como for, a verdade é que 2016 foi um ano de grande desenvoltura do blogue e de grande mergulho no âmbito da saúde mental na gravidez e no pós-parto. 

 

Com a certeza de que seria na área de saúde mental perinatal que queria apostar, e paralelamente, trilhando caminho no Mestrado que já vos falei aqui, e aqui, a aquisição de mais conhecimentos no mesmo âmbito (e na saúde mental no geral) e a abertura de novos horizontes profissionais marcaram o ano pela positiva.

 

Embora tenha começado o ano com um período longo de ausência no blogue, a verdade é que o retorno acabou por ser em grande!

Algo que o marcou com muita força e conteúdo foi a visita que fiz à Universidade de Coimbra a convite da Equipa de Investigação do Departamento de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) como podem relembrar o que foi escrito aqui, e aqui. A visita marcou-me a todos os níveis! Conhecê-los, falar sobre a minha experiência no âmbito da saúde mental perinatal e conhecer a deles, foi um momento que jamais esquecerei. Para mim, uma grande conquista, orgulho e um excelente momento de aprendizagem!

 

Para além desta visita, várias foram as entrevistas que publiquei da Dra. Ana Telma Pereira e do seu trabalho de investigação no âmbito da saúde mental perinatal, como podem relembrar, por exemplo, aqui

 

Paralelamente, iniciei dois movimentos que ainda moveram várias opiniões e momentos de debate e esclarecimento de dúvidas sobre Depressão Pós-Parto - Movimento Depressão Pós-Parto e Eu pedi ajuda!.

Os movimentos ainda se encontram ativos pelo que não se esqueçam que sempre que quiserem aderir, basta opinarem sobre o assunto e enviarem-me email para blog@mulherfilhamae.pt

 

Também foi um bom ano em termos de divulgação da presente temática! 

Artigos como este foram publicados na Revista online ACTIVA, assim como houve a possibilidade de divulgar o trabalho que é feito aqui no blogue numa entrevista para a Newspharma e para a Vital Health, tendo tido mais de 20 textos no âmbito da saúde mental perinatal destacados na homepage da sapo.pt.  

 

Os textos deixaram de ser meramente informativos mas também passaram a descrever de forma imaginária, o real, no que toca à vivência da maternidade e de alterações emocionais na gravidez e no pós-parto. E é "engraçado", pois até hoje, o texto com mais comentários, gostos e visualizações foi o primeiro que fiz neste âmbito - "Ao pai do meu filho: Preciso de ti!" - Lembram-se?

 

A rubrica Histórias que dão a cara por esta causa continuou a crescer (e muito!) e atualmente contamos com mais de quarenta histórias de mulheres e respetivas famílias que se confrontaram com o facto da maternidade nem sempre rimar com felicidade. Histórias que têm levado a muitas pessoas a perceção de que nem sempre um nascimento começa com um sentido feliz, mas que também não é por isso que mais cedo ou mais tarde não o venha a desenvolver!

 

O facto de relatar no blogue histórias que me enviam sobre vivências menos positivas no pós-parto, deixou de ser único. Também comecei a publicar histórias sobre a recuperação de mulheres que outrora nos relataram ter tido uma depressão pós-parto, como a Ana, que nos falou sobre a sua recuperação, e que em breve, nos falará muito mais, pois terá um espaço para tal no blogue. Novidades para breve!

 

Também dei inicio à publicação de vídeos adaptados para a Língua Portuguesa, sobre temáticas relacionadas com a saúde mental na gravidez e no pós-parto, como este.

 

Algo que, não só teve uma grande adesão, como uma grande impacto, foi o questionário que elaborei e que foi respondido por cerca de 130 pessoas em menos de dois dias. Brevemente sairá um idêntico, mas com um grau de dificuldade diferente, e com outros objetivos. Estejam atentos!

 

 

Portanto, todas as histórias, os artigos lidos, as opiniões e sugestões, as críticas, o desenvolvimento do blogue, os estudos e o meu grande interesse pela área levou-me a aprofundar cada vez mais conhecimentos, e não só continuei na especialidade e mestrado de enfermagem em saúde mental e psiquiatria, trilhando cada vez mais - e de forma mais afunilada - caminho por estes temas, como fiz um curso de empreendedorismo social para levar mais à frente vários dos projetos que tenho pensados nesta área. Novidades para breve!

 

Um dos Projetos que já tinha começado, foi analisado detalhadamente em termos de metodologia e resultados obtidos, e daí resultou um artigo - Relato Prático sobre o Projeto Mulher, Filha & Mãe - que apresentei em dois eventos de cariz científico - este e este - tendo também realizado um site sobre o projeto  e concretizado novas parcerias! 

 

Foi ótimo poder ter contado com cada vez mais seguidores, quer na Sapo Blogs, quer no Facebook, e receber emails e comentários como este, que me enchem o coração e me dão forças para continuar a lutar e a trabalhar cada vez mais arduamente para vos trazer algo todos os dias e sempre que possível. 

 

Para 2017?

A mesma motivação.

Mais trabalho. 

Mais força. 

A mesma energia. 

Mais contactos. 

Mais aprendizagens.

O mesmo fulgor. 

Mais apoios. 

Mais ajuda. 

A mesma paixão.

Melhores resultados. 

O mesmo sentido de missão. 

 

111111111.JPG

 

Obrigada!

Seg | 26.12.16

E se eu não sentir paz, tranquilidade e felicidade durante esta época festiva?

Ana Vale

Momentos festivos como o Natal e a passagem de ano vêem agregados a uma série de expectativas (um pouco como o inicio da maternidade e paternidade): família e amigos, a comemorarem juntos, a desejarem o melhor para si, a partilharem refeições, presentes, risos e companheirismo. O que muitas vezes poderá sentir, e especialmente se foi há relativamente pouco tempo mãe, poderá ser antagónico ao que é observado na realidade, e quanto maiores as expectativas criadas em torno destes momentos, maior poderá ser a deceção que poderá ocorrer.

 

postpartum-depression (2).jpg

 

Para aqueles que estão a passar tempo com a família, esta época festiva pode ser catalisadora quanto à abertura de feridas do passado, podendo também promover o retorno de feridas antigas, ainda abertas. Para outros, estar imerso na "alegria" aparente pode aumentar a sensação de solidão e o isolamento, contribuindo para o aumento da ansiedade.

 

Se é isto que sente, e ao mesmo, tem compromissos que sente que precisa manter, vale a pena questionar-se sobre:

- "Como posso cumprir melhor as minhas obrigações e, ao mesmo tempo, priorizar o meu próprio bem-estar?"

- "Como me protejo de danos desnecessários?"

- "Que tipo de recursos internos e externos posso utilizar para me sentir melhor comigo mesmo?"

- "O que precisamos enquanto família para limitar o stresse e aproveitar este tempo como estamos?"

 

Como mãe ou pai, o vosso bem-estar e o bem-estar do vosso filho estão diretamente ligados. Este poderia ser o ano em que se permitem fazer algo diferente, criando novas memórias e tradições que funcionam para vós.

 

centro@mulherfilhaemae.pt

http://arvoredosbebes.pt/projeto-mulher-filha-mae

 

Post baseado neste texto

Seg | 19.12.16

"Presenciei na minha filha a angústia e a ansiedade dos primeiros dias do pós-parto"

Ana Vale

Há pouco tempo enviei um email com uma mensagem que já andava há muito para partilhar com as mulheres e respetivas famílias que têm partilhado pedaços das suas histórias aqui no blogue, nas Histórias que dão a cara por esta causa e em outros momentos. 

 

Recebi respostas inesperadas, que não pude deixar de comentar e de trazer, com a respetiva autorização, de novo para este espaço. Especialmente por considerar que podem ser fontes valiosas de partilhas que a terceiros muito podem/poderão ajudar.

 

A resposta da Maria Leonor foi uma das respostas inesperadas que vos falo.

Já tinha partilhado connosco uma história que viveu enquanto cunhada, na década de 80. E hoje, partilha connosco uma história que viveu enquanto avó, há relativamente pouco tempo e que toca essencialmente na temática do baby blues e da depressão pós-parto.  

 

Partilhem também as vossas histórias! Façam como a Maria Leonor, que enquanto avó, também tem uma voz, também tem a sua visão, e também tem o seu lugar de quem apoia, e de quem precisa de ser apoiado enquanto vivência este tipo de realidade. 

 

centro@mulherfilhaemae.pt

 

"Olá Ana

 

Da ultima vez que lhe escrevi contei a historia de um familiar com realidade de depressão pós parto.

 

Entretanto já fui avó de um lindo menino que nasceu em Agosto de 2016, e presenciei ao longo dos dias na minha própria filha a angustia e a ansiedade dos primeiros dias, até porque o bebe nasceu prematuro e os cuidados foram maiores, no entanto houve dias em que senti que a mãe (minha filha) se encontrava na fase dos baby blues acho que é assim que se diz.

 

Mas estes baby blues não são mais do que o começo das depressões, no entanto talvez com a sua formação em enfermeira teve o discernimento para ela própria evitar que a depressão se instalasse, também conversamos e manteve conversas com as amigas recém mamas, e acho que toda a ajuda pela positiva é necessária nestes primeiros dias, não julgar, não interferir, não baralhar, não dar palpites, e estar presente com energias positivas é primordial para que a recente mãe se sinta calma e sem stress.

 

Mas é imperioso que se fale neste assunto, porque o mesmo é muito abafado, porque se espera demasiado de uma recente mãe, porque está gorda, porque o bebe não mama, porque tem que sair e fazer a vida normal, porque mil e uma coisas e nada disso é real, a realidade são as 24 horas em que dedica toda a energia a um ser recém chegado, que não conhece e que não nos conhece, que chora e não sabemos porquê, que implora atenção, que depende totalmente de nós.

 

Não devíamos exigir tanto de uma recém mãe.

 

Muito obrigada pelo trabalho que tem feito, qualquer ajuda não hesite em pedir.

 

Beijinhos."

Qua | 14.12.16

"Tanto ouvi falar em depressão pós-parto mas parecia-me algo difícil de acontecer"

Ana Vale

É sempre um alívio e uma alegria para mim quando recebo um email de alguém que dedica algum do seu tempo a refletir sobre temas como a depressão pós-parto. 

Seja a partilhar a sua história, seja a partilhar a sua opinião, a vivência de alguém próximo ou a colocar uma dúvida, o que for. Saber que este assunto é abordado por mais pessoas, e fazer parte desse estímulo, faz parte do meu objetivo!

 

Foi o que aconteceu com a Sandra, que há poucos dias me enviou um email sobre o que sabia sobre depressão pós-parto. A mesma foi mãe há relativamente pouco tempo, não desenvolveu uma depressão pós-parto, mas a verdade, é que tem uma opinião muito bem definida sobre o assunto. 

 

Enviem-me também vocês a vossa opinião. O que é que sabem sobre depressão pós-parto? 

Já alguma vez refletiram sobre o tema? O que diriam num texto (numa frase ou imagem) sobre o assunto? 

centro@mulherfilhaemae.pt

 

 

Movimento: O que é que tu sabes sobre Depressão pós-parto?

 

Boa tarde,

 

Obrigado pelo incentivo de falar / escrever sobre este assunto.

 

Acredito que no final sentir-me-ei mais "leve".

 

Fui mãe pela primeira vez, à cerca de um ano.

Foi uma gravidez muito desejada mas demorou um pouco à acontecer. Felizmente quando íamos iniciar as consultas de fertilidade, descobrimos a gravidez.

Que felicidade e que medo de algo menos bom.

Felizmente a gravidez correu sem problemas mas no fundo não estava preparada para toda a mudança que estava prestes a acontecer.

Quando dei por mim, estava no hospital com a minha M prestes a nascer. Que misto de sentimentos... Não estava preparada para tamanha mudança.

Assim que a vi pela primeira vez fiquei muito feliz mas não senti o tão falado "amor à primeira vista".

Passei a primeira noite acordada a olhar para ela e a tentar juntar a parte racional à parte sentimental. Tinha ali um ser tão indefeso, que dependia de mim e eu não sabia se iria ser capaz de cuidar dela e de a proteger.

Foi este o sentimento de partida para o turbilhão de sentimentos que aí vinha...

A insistência por parte dos profissionais de saúde e por todos aqueles que me rodeavam na amamentação que teimava em não correr bem. A menina que passava grande parte do dia a chorar e eu como mãe devia acalmar mas não conseguia, dias a fio sem poder dormir 2h seguidas.... Enfim, era ela a chorar por um lado e eu por outro... Tive a sorte de contactar com duas enfermeiras fantásticas (a do centro de saúde a do curso pós-parto) que me ajudaram a acalmar e a perceber que precisava de falar, expor sentimentos, pedir ajuda e acima de tudo a acreditar que era capaz.

 

E felizmente não "caí" na depressão pós parto mas não desfrutei das primeiras semanas de vida da minha tão desejada e amada filha.

 

Tanto ouvi falar na depressão pós parto no curso de preparação para o parto mas parecia-me algo difícil de acontecer mas, na realidade, é tão simples. A confusão hormonal que temos, por vezes, até parece que nos "empurra" para o abismo.

A própria sociedade que responsabiliza a mulher / mãe por cuidar dos filhos, esquecendo-se do incentivo à mulher para cuidar de si.

Os defensores da amamentação que querem a todo o custo que esta seja por muito tempo e em exclusivo. (Atenção que eu concordo com a amamentação mas acho que neste momento já não é um incentivo mas sim pressão).

 

O marido/pai tem um papel tão importante. Felizmente o meu foi espetacular. A ele um muito obrigado não só pela ajuda nas rotinas mas acima de tudo pelo apoio moral/sentimental.

 

 

A depressão pós parto é algo tão pessoal mas precisa de ser falado sem ser criticado. Os cursos pós parto têm um papel tão importante. Permite-nos contactar com outras mulheres que vivem a mesma realidade e deixamo-nos de sentir tão "sós".

 

O texto (minha história) já vai longa.

 

Parabéns pelo incentivo à discussão sobre este "tabu".

Seg | 12.12.16

Depressão Pós-Parto: Quando é que pediram ajuda?

Ana Vale

Há quem tenha pedido quando sentiu que a angústia rasgava a vontade de viver num momento em que uma nova vida havia florescido.

 

 

E vocês, quando é que pediram ajuda? 

 

Partilhem connosco! 

#eupediajuda

 

centro@mulherfilhaemae.pt

Sex | 09.12.16

A relação mãe-bebé, tal como ela é.

Ana Vale

A relação mãe-bebé, não tem de seguir padrões rígidos, inflexíveis. Não tem uma determinada textura, ou sabor. Não tem uma tonalidade totalmente afirmativa, nem um toque absolutamente suave. 

Não é completamente estática, nem anda sempre às voltas. Não é de curvas e mais contra-curvas. Não é de extremos. (Não) anda à deriva, nem se constitui numa só certeza. (Não) anda só e (pode andar) mal-acompanhada. 

Não é rosa-choque, nem verde às bolinhas roxas. Não sei se é azul. Talvez laranja?

Não anda sempre de mãos dadas com a fluorescência da felicidade, nem se encaixa permanentemente, e num para sempre, com os patins da depressão. 

Não é estanque. Por vezes é não, outras sim e/ou talvez. 

 

Parece-me que por vezes amarga, por vezes reconforta. Por vezes abraça, por vezes afasta. Por vezes envolve, e outras, simplesmente limita. 

Por vezes solta, dá força, velocidade e ação. Outras, integra dúvidas, mágoas e confusão. 

 

Faz de certo reviver, e sem tantas certezas, traz um tanto de conhecimento. 

 

É luz. É fogo. É terra. É água. É ar. Não é.

 

É o que é. Dinamismo, e vida, com esperança na segurança e sem querer absorver o oposto. Com fé no amor, sem ser sempre por todos desejada. Paira sobre o manto da família e de uma sociedade, sem ser por todos, tocada.

A relação mãe-bebé, assim o é. Por vezes branca, e por vezes prateada. Pronta para ser desenhada. Sem sombra de dúvidas de que caracteristicamente única e personalizada. 

 

 

Qua | 07.12.16

"Será que pode ser considerado depressão pós parto após seis meses e meio?"

Ana Vale

Perguntou-me uma leitora do blogue via email. 

 

E a resposta é sim

 

Tal como já abordei neste post, a denominada depressão pós-parto, pode ser diagnosticada pelo médico de medicina geral e familiar ou pelo psiquiatra, em qualquer momento após o nascimento, com especial incidência até ao primeiro ano após o parto.

 

Há uma série de critérios que poderão conduzir a este diagnóstico, e através da sua concretização, está a possibilidade de se iniciar um tratamento adequado para o efeito. É importante consultar um médico para proceder à respetiva avaliação, tal como é importante ter em conta o tratamento prescrito. 

 

Entre o tratamento farmacológico e a cura da depressão pós-parto existem uma série de possibilidades de intervenção para a potenciar, nomeadamente as diversas opções não farmacológicas que se podem associar ao tratamento e que realizamos no Centro Mulher, Filha e Mãe. Algumas delas já aqui foram abordadas através de um testemunho de uma leitora do blogue que após um ano de tratamento partilhou connosco a sua experiência. Podem consultá-lo aqui

 

Se tiverem uma experiência diferente, não hesitem em partilhá-la! Enviem-me email para:

centro@mulherfilhaemae.pt

 

 

Ter | 06.12.16

Partilha de vivências na gravidez e no pós-parto: A importância de contar a sua história.

Ana Vale

Ultimamente o tema "partilha de vivências no pós-parto" tem estado a ser muito debatido no meu dia-a-dia. 

Seja devido às partilhas que me têm enviado, ou por terceiros que as leem e comentam, ou por outros que têm conhecimento deste espaço no blogue - Histórias que dão a cara por esta causa - e acabam por partilhar também a sua opinião comigo, a verdade é que, muito tenho falado sobre o blogue e sobre este espaço em especial, nos últimos dias.

 

Na grande maioria das vezes, a surpresa e a satisfação estampada no rosto das pessoas quando têm conhecimento deste espaço, acaba por ser uma surpresa também para mim. Muitos acham extraordinário ter dado asas a um espaço assim. Incluo aqui, amigos, familiares, leitores e profissionais de saúde das mais diversas áreas que vou conhecendo.

 

É bom saber e sentir que há medida que o tempo passa, as pessoas vão dando cada vez mais importância a estes relatos aos quais podem ter acesso, aqui, no blogue.

 

É um privilégio poder ter a confiança destas mulheres, homens e respetivas famílias no que toca à partilha (num espaço público) de momentos tão delicados das suas vidas, como aqueles que são publicados na respetiva rubrica. E é com grande respeito e honra que os guardo em mim e os transformo em vigorosos pedaços de força para continuar a lutar pelo debate público e acesso sobre este tipo de temáticas. Para que cada vez mais pessoas possam ter acesso a informação real, fidedigna e transparente sobre um momento da parentalidade, que pode não ser tão positivo e feliz como muitas vezes se espera. E quando assim o é, há que ter em conta que ainda muito há para se aprender, dar, receber e fazer. 

 

Escrevo-vos hoje, não só para sublinhar a importância de escreverem as vossas histórias no pós-parto - sejam positivas ou menos positivas - como também para vos apelar ao seu envio das que são menos positivas e que acabam por desenvolver quadros de blues pós-parto, depressão perinatal, ansiedade e/ou psicose pós-parto, para serem publicadas na rubrica Histórias que dão a cara por esta causa. 

 

Através deste espaço, já milhares de mulheres, homens e respetivas famílias e amigos, puderam ter acesso a estas vivências, esclarecer dúvidas e refletir sobre o tema.

Várias foram as mulheres que se disseram sentir apoiadas e mais aliviadas por partilharem a sua experiência no blog com outras pessoas. 

Várias foram "as outras pessoas" que chegaram até nós através dessas mesmas vivências.

 

Sei que nem todas as pessoas se identificam com a escrita, mas escrever poderá ser terapêutico.

Nem sempre conseguimos verbalizar o que sentimos, e agarrando no silêncio ao qual nos resignamos - por vezes quando as coisas nem sempre correm como é esperado - misturado com todas as emoções que florescem e dançam em nós - mulheres - após o parto, temos a receita perfeita para desenvolver a necessidade de "deitar tudo cá para fora". Nem sempre o conseguimos fazer verbalmente, e outras vezes fazêmo-lo verbalmente mas nem sempre nos sentimos compreendidas. Outras vezes fazêmo-lo verbalmente, e por vezes somos compreendidas, mas mesmo assim, o vazio que se sente pouco se alivia. E em qualquer um dos casos, escrever, faz bem. 

Em qualquer um dos casos, escrever, obriga a refletir mais concretamente sobre o momento, e em passar para o papel, exatamente o que queremos dizer. 

Escrever, obriga-nos a concretizar. Concretizando, partilhamos através da escrita o que sentimos e que não conseguimos ver no imediato, resolvido. Também poderá não ficar resolvido assim, mas será certamente, promotor de um maior alivio, ficando registada uma vivência, que mais tarde, podemos (e devemos) passar a futuras mães/pais que conhecemos e a gerações futuras também! 

 

De todas as pessoas que me tocaram com a sua histórias guardo um grande carinho e respeito. E é em todas essas, e mesmo naquelas que não enviando, passam por situações semelhantes, que penso quando tenho dúvidas, certezas, dias menos bons, outros extraordinários, grandes e pequenas conquistas, enfim... é em todas elas que penso, enquanto caminho neste percurso.

 

 

 

Um grande bem-haja a todos vós e não se esqueçam... escrevam!

centro@mulherfilhaemae.pt

 

Seg | 05.12.16

Amiga, estarei sempre aqui!

Ana Vale

E não tenhas dúvidas. 

 

Ainda me recordo das conversas em que o tempo passava a voar. Em que divagávamos sem limites, sempre fixadas na esperança de que um para sempre assim estaria ali subjacente. 

Ainda me recordo daquelas músicas que nos faziam divagar em silêncio. Que penetravam diretamente no nosso âmago, e que nos faziam sonhar e imaginar como estaríamos dali para a frente, sempre juntas. 

 

As gargalhadas nas madrugadas após uma noite de loucura e as ressacas nesse mesmo dia. Ressacas de, acima de tudo, noites, momentos, paixões, vivências, que sabíamos (lá bem no fundo) que cada vez seriam menos frequentes. 

 

E aquela noite em que fui bater à tua porta às tantas da madrugada? Não. Não estava, de todo, numa boa fase. E tu, acolheste-me, como sempre. 

E aquela tarde me que te liguei desesperada? Não sabia o que fazer. E tu, orientaste-me. 

E naquela manhã em que apareci de surpresa para tomarmos o pequeno-almoço em conjunto? No fundo, apetecia-me falar contigo. Saber a tua opinião. E tu captaste-me, mesmo sem o assumires. Mesmo sem o assumir. Contornaste o assunto e foste direta ao cerne da questão. Apanhaste-me no meu próprio enredo, e confrontaste-me com o que precisava de ouvir, mas que não me apetecia nada. Apeteceu-me gritar-te naquele momento, mas eu sabia que tinhas razão. Lês-me tão bem! Sempre foi assim.

E quando aconteceu o mesmo contigo? O teu mau-feitio não te permitiu assumir o momento em que te captei, e viraste-me as costas. Ficámos um tempo assim, mas o que nos unia era, sem dúvida, mais forte. 

 

Primeiro a escola, depois a faculdade, e entretanto, entrou mais alguém para o nosso mundo. Percebi cedo que era o tal. 

Foi difícil dividir-te de inicio, mas a vida é mesmo assim. Rápido me apercebi o quão difícil também foi para ti dividires-me, quando fui eu que encontrei o tal

 

O tempo passa. Continuamos unidas, mas menos tempo juntas. O tempo voa cada vez mais depressa quando nos vemos. Aquele abraço apertado que trocamos, o carinho que se mantém e a forma como tentamos aproveitar cada segundo de conversa a sós, e a quatro. O nosso ritmo de vida é frenético. Isso sempre foi algo que tivemos em comum, e que se mantém. O tempo voa quando estamos juntas, e voa quando estamos sós.

E de repente surge a notícia... oh meu deus, vais ser mãe! Vou ser tia... 

 

Incrível como o tempo passa! Incrível! Só me consigo lembrar daqueles momentos em que divagávamos, questionando - e quando formos mães? - E agora, chegou o momento! 

 

Para mim ainda é cedo, mas eu sabia que esse caminho chegaria cedo para ti! Sempre foi o teu maior desejo! 

Lembraste do que perspetivávamos jovens para este momento? É tal como tu o imaginaste? 

 

É maravilhoso ver-te assim. Radiante, feliz. A gravidez vai passando, e mesmo apesar dos enjoos e de todas as alterações que vão ocorrendo dia após dia, estás verdadeiramente linda! 

 

O tempo de gestação está quase a terminar e rapidamente teremos a nossa menina junto de nós. Já não seremos só duas a passar uma tarde a falar sobre a vida, mas teremos mais uma miúda para integrar! Não tenho grande experiência com bebés, mas quero estar aqui para te ajudar em tudo o que precisares. É tão bom ver-te assim, feliz! 

 

A pequena já está cá fora, linda, saudável...é um doce! E vocês, os pais mais babados do mundo. 

Combinamos ver-nos depois da saída da maternidade, mas não dizes nada. Estranho. Ligo, e não atendes.

Ligas depois, dizes-me que está tudo bem mas que estás cansada. Combinamos para outro dia, e mantemo-nos semana após semana assim. 

 

Decido ir bater-te à porta com uma caixa de sushi e um bolo de chocolate, tal como tu adoras! 

Assim que te olho, há qualquer coisa estranha. Não trazes mais aquele brilho no olhar. Dizes-me vezes sem conta que estás cansada e não provas o que te trouxe para comer. Praticamente não me deixas ver a nossa princesa. Estava a dormir e não queres acordá-la. Compreendo. 

 

Sinto que provávelmente vim em má altura e opto por sair após um forte abraço, que não resisto em oferecer-te. Devolves-me o abraço de forma amena, e eu olho para ti. Afirmo que estarei sempre aqui para o que precisares. Sorris (pouco) e agradeces.

 

Não consigo parar de pensar nesse momento estranho. Comento com a minha família, comento com a tua família, e parece-me que não sou a única a achar que algo não está bem. Tento voltar a ver-te mas ofereces sempre alguma resistência. Ofereço-me para ficar com a nossa princesa, mas tu não deixas. Ofereço-me para te fazer o almoço, mas tu não queres. Dizes-me que tens muito tempo para isso. Ofereço-me para ir contigo passear pela hora de almoço e após a sesta da nossa princesa, mas tu resistes.

 

Passa-se alguma coisa. E eu não compreendo o quê.

 

 

 

Estás há quatro meses consecutivos assim, e eu sem saber como chegar até ti. Não penso em desistir, mas de que forma faz sentido continuar? Depois de todos estes anos... Depois de tudo o que passámos juntas...Honestamente, não compreendo! Porque não falas comigo?

 

Resolvo encontrar-te "de surpresa". Sei que costumas ir ao mercado no Domingo de manhã. Mas curiosamente, hoje, não estavas por lá. Vou até tua casa e encontro-te deitada pelas 13h00, sem vontade para fazer nada. Dizes-me que a nossa princesa teve uma má noite. Sento-me perto de ti e penso que desde que foste mãe, nunca me falaste sobre ti, sobre o que sentes, como estás. Estás sempre "bem". Será?

Confronto-te. Fico na expectativa de ver ressurgir o teu mau-feitio, como outrora. Mas não. Ao revés, dizes-me num tom de voz baixinho, sem me encarares: Tenho uma depressão pós-parto.

 

Engulo em seco, olho para baixo e sinto-me completamente sem jeito, envergonhada. Sinto que nada compreendi durante os últimos meses. Sinto que não estive por aqui. Como é que isto me passou ao lado? 

 

Grita em mim uma vontade de te abraçar, de te abanar, de te fazer ver o mundo tal como quando divagávamos em conjunto, sem limites, há muitos anos atrás. Dá-me vontade de estar frequentemente por perto. De te ajudar. Mesmo sem saber como. Dá-me vontade de te olhar, de te mostrar que te estou a ver, e de te afirmar, bem perto de ti, que estarei sempre aqui. Para sempre assim

Agora tudo faz mais sentido, mas mantém-se a dúvida: como é que será confortável para ti o "estarei sempre aqui"?

 

De qualquer uma das formas, tendo conhecimento do que partilhas, floresce em mim uma acalmia, respiro fundo e penso: vou tentar expressá-lo um dia de cada vez.