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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Qua | 20.09.17

Tens Fraldas e não chegaste a usar? Então DOA!

Ana Vale

É assim que a Associação Passo Positivo lança o desafio inerente ao seu Projeto Banco de Fraldas

 

Durante o mês de Outubro de 2017 existirão vários pontos de entrega espalhados pelo norte e sul do país (incluindo o Centro Mulher, Filha e Mãe), onde podem entregar fraldas que não chegaram a utilizar, quer para miúdos, quer para graúdos. Ou seja, se tiverem fraldas desde o tamanho mini de um recém-nascido ao tamanho máximo que um idoso possa utilizar, que não chegaram a usar, estejam ou não, empacotadas, apelo-vos que as doem à Associação Passo Positivo, que esta última, fará questão que essas mesmas fraldas sejam entregues a quem mais precisa e não tem. 

 

 

Este, tem sido parte de um grande trabalho realizado por esta associação: recolher as fraldas e levá-las a vários pontos de país, a famílias e instituições, que precisam dessas fraldas, para prestarem cuidados de qualidade a quem cuidam mas que não têm possibilidade de as adquirir. Seja na quantidade necessária, seja mesmo, no sentido lato da palavra. 

 

Quer quem tem filhos, ou pais (ou qualquer outra pessoa) a seu cargo, com necessidade de utilização frequente de fraldas, sabe várias coisas, uma delas... imediata: As fraldas são caras! E quando se precisa com muita frequência, e os recursos financeiros são escassos, esta conta torna-se complicada. Contudo, os malefícios que poderão afetar miúdos e graúdos devido à ausência de (troca de) fraldas são vários, e poderão causar-lhes desconforto vários, ser doloroso, e causar outros problemas associados. Alguns dos mais conhecidos são o "eritema da fralda" e a "maceração", ou seja, aquela mancha avermelhada que aparece na região perineal da pessoa. Para o cuidador, ou qualquer outro, pode parecer "só" um eritema de fralda, contudo, para a pessoa que o desenvolve é muito desconfortável, podendo tornar-se doloroso. Nos mais graúdos, a ausência da troca necessária de fraldas, pode potenciar o desenvolvimento de problemas como "úlceras por pressão" e "infeções urinárias", podendo levar a vários problemas associados, inclusive infeções mais extensas e graves, para além de toda a morbilidade associada ao desenvolvimento deste tipo de problemas.

 

As fraldas são importantes, mas nem todos os bolsos as podem pagar da forma como seria suposto. E aí, entra o trabalho de instituições como a Passo Positivo que apoiam este tipo de causas e fazem chegar às famílias e instituições que mais necessitam, este tipo apoio. Apoio esse que depende de vós, e da vossa possibilidade e vontade de ajudar.

 

 

Eu já doei as que tinha lá em casa da Madalena, e vocês, também vão ajudar?

 

Dirijam-se aos seguintes postos de entrega e efetuem o vosso donativo de fraldas quando possível:

 

Na zona sul:
 

 

 

Na zona norte:
 
  • Farmácia Paiva (Espinho)
  • Farmácia Pedra Verde (S. Mamede de Infesta)
  • Café Luanda - Matosinhos (Rua do Godinho)
  • Central Churrasco (S. Mamede de Infesta)
Qua | 13.09.17

Sou mãe e estou em pânico. Será que sou capaz de cuidar deste filho?

Ana Vale

Eis uma questão colocada por muitas pessoas, partilhada com terceiros, por poucas, e julgada socialmente por tantas outras. 

São inúmeras as vezes que as mães partilham comigo que estão em pânico. E a verdade, é que isto não me choca minimamente. Choca-me sim, a indiferença a este problema, como se, pouca ou nenhuma importância se deva dar a esta questão.

 

Deixa estar... não te preocupes, isso há-de passar! 

Não percebo porque estás assim... tens um filho lindo e saudável... que mais poderias querer? 

Nem vale a pena teres medo. Agora tiveste o teu filho, tens de cuidar dele e ponto. 

 

Estas, são só algumas palavras que "terceiros" ou "tantas outras pessoas" dirigem com frequência às mulheres que de alguma forma se manifestam neste sentido. Algumas palavras que as mulheres partilham comigo, muitas vezes com grande angústia associada, e sempre com um grande receio de serem vistas como sendo "más mães", porque é assim que se sentem ao viverem esta realidade (ou achavam que as mães ainda se sentiam felizes por se sentirem assim?!), e que terceiros as fazem sentir quando proclamam o tão comum "deixa estar...isso há-de passar". Ás vezes gostava de ser mosca e ver até onde é que este "deixa estar que isso vai passar" nos leva. Até onde é toda esta forma de lidar e de ver estas questões, leva estas mães? E estes filhos? Será que passa mesmo, ou simplesmente as pessoas aprendem a disfarçar para se enquadrarem numa sociedade onde reina o preconceito, e muita falta de conhecimento sobre esta temática? E... o que é que esse "deixa estar que isso há-de passar" causa à posteriori na família no geral? Todo aquele sofrimento outrora sentido.. para onde foi? O que causou, se efetivamente houve um pedido de ajuda ao qual não houve qualquer tipo de resposta? 

 

Bom... não sairia daqui com tanta pergunta que me inunda o pensamento, mas confesso que penso muito sobre o facto de ter nascido neste estranho mundo que  transmite às mães que não podem ser elas próprias no cuidar, mas que por outro lado, têm de cuidar em pleno e estar constantemente alegres e de sorriso feito na cara para receberem qualquer um, enfrentar qualquer situação e/ou resolver qualquer tipo de problema com elas, com os filhos e com as famílias. Como se fosse só carregar num botão...

Estranho mundo este que prefere o "deixa estar que isso há-de passar" nesta fase de vida, muitas vezes atentando em barda ao sofrimento pelo qual estas mulheres passam.

 

03-postpartum-depression.jpg

 

Exige-se cuidado, mas não se permite que estas mulheres se cuidem. 

Exige-se vínculo, mas não se permite que estas mulheres tenham tempo para si.

Exige-se afeto, mas não se permite que se coloquem dúvidas e questões sobre problemas que surjam pelo caminho, mesmo que complexas do ponto de vista psicossocial. 

 

É mais ou menos assim que eu encaro a realidade atual no que concerne a este assunto, considerando em concreto as centenas de questões que já me chegaram via email, e pessoalmente, desde que fundei este blogue, e a formação que tenho feito em paralelo neste âmbito. 

 

A quem esta realidade de alguma forma possa chocar, a única coisa que posso dizer de momento é... informem-se! Podem sempre contactar-me via email, pois não hesitarei em esclarecer-vos. 

 

A quem esta realidade de alguma forma possa tocar, felizmente, as respostas começam a surgir. Dizer "não percas a esperança" já não é só semelhante à dificuldade severa de se ver a luz ao fundo do túnel numa área onde são raras as respostas concretas neste sentido, mas cada vez mais, se torna uma franca possibilidade. Mesmo quando a maternidade teima em não iniciar da forma como era o esperado, ela pode lá chegar. Portanto, não percam a esperança, mas agarrem-se a um franco pedido de ajuda e iniciem acompanhamento neste sentido porque sim, há solução! 

 

 Podem pedir ajuda, aqui

 

centro@mulherfilhaemae.pt

Ter | 12.09.17

Á conversa com a Laura #3 - "A felicidade de se ser autêntica. E como a maternidade rima com autenticidade."

Ana Vale

Um dia eu escrevi que, para mim, ser mãe é andar num monociclo à beira de um precipício e depois descobrir que afinal temos asas. E continuo a sentir isso em todos os momentos da minha ainda jovem maternidade: nos bons, nos muito bons, nos ruins, nos que apenas passam, nos maravilhosos... Em todos. Mesmo.

 

Vou vos contar um pouco da minha história. Sem filtros. Autêntica: quando a minha filha nasceu, naquela belíssima meia noite e um quarto de 13 de Fevereiro, não nasceu mãe nenhuma em mim. Eu detestei ser mãe quando a minha filha nasceu; eu só queria a minha vida "pré mãe": as noites de amor escaldante e carinhoso entre mim e o meu marido - que na altura eu chamava de namorado hehehe - ir jantar fora e depois ir beber copos até de madrugada e ficar a dormir até já não "caber na cama", o brunch numa esplanada solarenga e um mergulho na praia ou um cineminha romântico a dois... Só sei que de repente, a curvilínea e sensual Laura era do tamanho da baleia azul e tinha a graciosidade de um frigorífico combi que tinha a maravilhosa modalidade de servir leite quente de cada peito a uma bebé permanentemente ávida de atenção mas que eu grávida tinha imaginado permanentemente sossegadinha na sua alcofinha macia, o meu amante charmoso transformou-se numa insuportável criatura que me dizia sem parar para eu ter calma - que bom que era termos um interruptor do stresse instalado no nosso corpo!! - e os amigos íntimos e familiares queridos, atenciosos e preocupados tornaram-se numa miragem longínqua a partir desse dia.

 

 

Se houve algo que eu odiei das profundezas das minhas entranhas foi o início da minha maternidade e da nossa vida familiar: era para mim apenas um gigante cenário grotesco de uma mulher e de um homem ambos monstruosos e deformados sempre em guerra e a braços com uma bebé feita de nitroglicerina que eu tinha de estar sempre a pensar como desarmadilhar, numa casa caótica onde não existia mais comida nem banho nem descanso, por isso, sim, eu nesta altura e até cerca dos 4 meses da minha filha, estava sempre a tentar equilibrar-me no tal monociclo à beira do precipício... e caí. Caí numa depressão gigantesca e foi-me apresentada pela vida a mais dura e chorada forma de autenticidade: o ter de olhar para mim mesma sem máscaras nem fugas, num aqui e agora sem paninhos quentes, que só nos conduz a duas portas. A porta da existência em piloto automático e a porta do viver de verdade e na verdade. 


Eu escolhi a segunda porta que é por sua vez a mais dolorosa de abrir, aquela por onde passar nela nos rasga a pele e onde a luz que entra por ela nos queima os olhos, mas a que me levou ao caminho de eu ser adequadamente tratada e de conseguir uma rede de apoio com profissionais qualificados e especializados - psicóloga, psiquiatras, terapeutas de bebés, naturopata, Doula pós parto e outras terapeutas de vida - o maravilhoso Kundalini Yoga e meditação, que me fizeram finalmente perceber que afinal eu sempre tive, tenho e terei umas enormes, fortes e maravilhosas asas que me elevam a mim, ao meu amado marido e a minha filha e nos protegem a todos como família. E tanto o meu marido como a minha filha são também dotados dessas asas que os elevam e que me elevam e me protegem tantas vezes e que sabem tão bem! Noutros dias... As asas andam cansadas e fazem greve cá em casa e lá volto eu, o meu amado marido (para mim o melhor pai do universo e arredores!), aos equilibrismos no monociclo à beira do precipício onde a única diferença de há uns meses atrás é que já não caímos: já estamos treinados pelos melhores professores que foram esta rede de apoio e claro, a parentalidade! Esta nossa experiência e a nossa sabedoria entretanto despertada por todo este processo vivido na autenticidade.

 

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Mas o que é isto da autenticidade?

 

Para mim, é aceitarmos e nos responsabilizarmos por quem somos e o que somos, bem como a vida que temos, mas não nos conformarmos que somos "apenas" isso e que a vida não é um rascunho de um livro que nunca será editado. Nós e a vida somos aqui e agora, com as nossas virtudes, forças, frustrações e medos, sem necessidade de máscaras ou armaduras do nosso "modo sobrevivência", pois a vida só é vida, só é vivência em pleno na autenticidade.

 

Por isso na minha opinião, a maternidade só é bem vivida na autenticidade. Sem floreados nem fantasias mágicas, sem bruxas más nem monstros. Apenas sendo como ela é: feminina e flutuante, furiosa e terna, quente e fria, doce e amarga, emocional e potente, empoderadora e infinita... Autêntica. Não dá para fugir da maternidade! E então ela nos transforma, colocando a nossa essência à vista, iluminada e poderosa.

 

E foi através desta autenticidade que desde os 5 meses da minha filha, eu descobri o que é amor incondicional, o que é amor autêntico, por ela, pelo pai dela e por mim. E sim, pela minha filha é simplesmente um amor que de tão infinito que é, dói tanto quando transborda neste corpo humano finito mas cuja alma, também tão infinita, rejubila e que mesmo nos momentos mais complicados, agradece, aceita, se transforma e evolui. 
E é este amor tão autêntico por mim e por nós que me transformou na mulher e na mãe autêntica que eu agora sou. Sem filtros. Uns momentos tão carinhosa e calma e noutros tão feroz e brava, mas sempre de bem comigo mesma.

 

Obrigada maternidade por me teres feito rimar com autenticidade! 

Sex | 01.09.17

Á conversa com a Ana #9 - "Gratidão."

Ana Vale

Gratidão. É uma das emoções que mais tenho sentido ao longo do meu processo de cura. Todos os dias reconheço, no meu íntimo, que sou imensamente felizarda por tantas mãos que se estenderam, e que continuam a estender-se, para me ajudar.

 

Sempre me considerei uma pessoa independente. Eu e o meu marido gostamos de estar com os outros, mas também tínhamos um certo sentido de independência e proteção do nosso espaço. Do género, “quando a C. nascer não queremos muitas visitas, o pessoal a andar lá por casa. Queremos estar sozinhos, a curtir essa etapa tão importante das nossas vidas”. E fizemos isso. A C. nasceu e fechamos-nos ao mundo, acreditando que esse seria o passo mais natural a dar. Mas, no nosso caso, não foi.

Redescobri que somos muito Mais quando estamos em comunhão com todos os outros. Ninguém é verdadeiramente independente. Estamos agarrados uns aos outros. E isso é tão, mas tão maravilhoso! Por isso, só posso agradecer a todas as mãos que se estenderam.

 

Agradeço à minha médica de família que, dentro do que lhe foi possível, ouviu-me e acompanhou-me.

 

 

Agradeço à minha psiquiatra, a primeira mão decisiva que a vida estendeu-me. Obrigada pela empatia com que me ouviu e pela forma como organizou logo o meu plano de tratamento. Não me mostrou apenas que precisava de ser medicada, mostrou também que o tratamento para funcionar precisava do apoio dos outros. Mostrou que o caminho de cura não era sozinho, mas sim envolto de quem mais perto estava, no meu caso os pais, os sogros e o marido.

 

Agradeço à minha psicóloga. Durante todos estes meses, ajudou a acalmar a minha mente e o meu coração.

 

Agradeço aos meus amigos. Nunca senti que algum de vocês me estivesse a desamparar. Nunca senti críticas ou julgamentos. Pelo contrário, senti todo o vosso amor sempre que me ligavam ou mandavam sms. Tantas vezes eu não atendi mas vocês não desistiram. Respeitaram mas mostraram que estavam ali, se eu precisasse. Obrigada por todas as vezes que vocês atenderam as minhas chamadas e ouviram-me, por todas as vezes que se encontraram comigo para que eu saísse um pouco de casa.

 

Agradeço aos meus familiares. Obrigada por ligarem, por se disponibilizarem para ficar com a C. caso precisássemos descansar ou sair.

 

Agradeço às minhas duas terapeutas de Shiatsu. Que diferença fez poder incluir o Shiatsu no meu tratamento! O toque mágico do Shiatsu e as nossas conversas permitiram conectar-me de uma forma muito íntima (e terapêutica). Ajudaram-me a compreender a depressão com o coração. Ajudaram a arrumar, dentro de mim, a imensa culpa que sentia. Ajudaram a ligar o meu coração ao da C. Não me esqueço de uma das sessões, das primeiras, em que senti, durante a sessão, e a partir desta, um imenso amor por mim e pela C.

 

Agradeço aos meus sogros. As refeições, quentes, acabadas de cozinhar, que nos trouxeram, as vezes que ficaram com a C. para eu puder apanhar ar, as vezes que não dormiram, e ficaram com a C, para nós dormirmos, as vezes em que passei o dia em vossa casa, durante a semana, para não ficar sozinha com a C.

 

Agradeço à minha mãe. Tantas, mas tantas vezes estendeu-me as mãos. As refeições que nos preparou, a empregada que nos arranjou para limpar a casa (e que cá continua), as fraldas, leite, roupa para a C. que comprou, todas (e foram muitas) as vezes que ficou com a C. durante a noite para nós dormirmos. Chegou a sair de casa, perto da meia-noite, porque desesperados, cansados, já não tínhamos forças para acalmar e adormecer a C.

 

Agradeço ao médico que agora me acompanha, nesta fase de recuperação da minha forma física. Há poucos meses atrás estava em baixa forma. Hoje já corro 15 minutos, faço flexões, pranchas. O corpo ganha força, resistência e tônus muscular. A corrida é a minha meditação.

 

Agradeço à Ana, autora deste blogue. Sem ela eu não teria encontrado um espaço que me devolveu empatia, compaixão e compreensão. Obrigada pela tua coragem em partilhar a tua história e de criares um espaço (o único) que aborda este tipo de vivências. És uma pessoa muito especial, minha querida Ana.

 

E, deixo para o fim, o meu companheiro desta vida. A ele agradeço tudo. De ti já te conhecia a tua sensibilidade, a capacidade de te colocares no lugar do outro, a ternura, o sentido de partilha e entreajuda, a honestidade. Mas esta experiência mostrou-te ainda mais. Uma pessoa única, a que melhor me compreende e um pai excecional. Nunca me desamparaste, levaste-me no teu colo, embalaste-me.

 

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Diz-se que é preciso uma aldeia para educar uma criança. Digo mais: é preciso uma aldeia para embalar uma criança, um pai e uma mãe. E eu tive (e continuo a ter) esta rede. Muito obrigada a todos.