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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Seg | 22.10.18

A maternidade e o maravilhoso mundo da autoestima!

Ana Vale

Transitar para a maternidade implica necessariamente, mergulhar no maravilhoso mundo da autoestima.

Não é por acaso que questões como esta, "Serei boa mãe o suficiente?", ou esta, "Serei capaz de cuidar deste filho?", ou esta, "Possivelmente o meu leite não é suficiente para o alimentar...", etc., surgem com frequência, e naturalmente, durante a gravidez e o pós-parto. A resposta que damos a estas questões, e aquilo em que nos baseamos para responder, internamente, é que é importante considerar para estarmos mais conscientes do estado da nossa autoestima. 

 

Carl Rogers (1961/1980) na sua teoria de desenvolvimento da personalidade e tomando por base o seu método da terapia centrada no cliente - aquela em que também se baseiam as minhas sessões de acompanhamento emocional na gravidez e pós-parto - postula que é necessário ajudar as pessoas a tornarem-se mais conscientes e a aceitarem as suas próprias características, a serem mais capazes de elaborar as angústias e a ultrapassarem o sofrimento. Desta forma, a ênfase é posta no modo como cada indivíduo vive e interpreta a sua própria realidade e as capacidades e responsabilidades de cada pessoa para responder às situações e guiar a sua própria vida. Acrescenta ainda que a necessidade de cada indivíduo manter, realizar e desenvolver as suas características e potencialidades está relacionada com a necessidade de realização de cada individuo, tendo componentes de crescimento fisiológicas e psicológicas; as primeiras têm maior importância nos períodos iniciais da vida, as segundas desempenham um papel determinante na idade adulta e na velhice. Assim sendo, é notória a importância da necessidade psicológica de autoestima e autocrítica, num sentido adaptativo, aquando da regulação das necessidades psicológicas das pessoas.

 

Desta forma, a autoestima e a autocrítica surgem como duas necessidades com uma forte importância na vida das pessoas, na medida em que a regulação de ambas contribui eficazmente para o equilíbrio do organismo humano. A necessidade de sentir-se apreço por si mesmo, apenas é verdadeiramente alcançada quando se torna possível tomar em consideração as autocríticas (críticas que fazemos a nós próprios) e as heterocríticas (críticas que os outros nos fazem). 

 

Podemos assim concluir que cada um de nós, para ter um desenvolvimento coerente e saudável ao longo da sua vida, necessita de balancear constantemente a necessidade psicológica de autoestima e de autocrítica, uma vez que, apenas detendo uma poderá alcançar a outra, isto é, ao possuir auto-estima torna-se mais capaz de tolerar as criticas e aprender com elas nos diferentes momentos da sua vida, e vice-versa.

 

Há muitos autores que têm estudado este conceito, e há quem diga que a autoestima é algo que se desenvolve ao longo da vida, e por outro lado, há quem diga que é um conceito dinâmico e que depende do comportamento humano em diferentes áreas da vida de cada um.

 

Algo que se sabe com forte evidência, é que pessoas com abundância de aprovação e carinho no seu ambiente social, particularmente de pessoas que lhes são significativas, são mais propensas a desenvolver elevados níveis de autoestima. Não é por acaso que hoje em dia a necessidade de colo, proximidade, compreensão e a criação de espaço para a expressão, ganham cada vez maior destaque no que toca à promoção de uma infância saudável, no geral. 

 

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Quando falamos em autoestima, podemos dividi-la em duas áreas: autoestima global, que se refere à forma como a pessoa se sente em geral consigo própria, e em autoestima específica, que se refere à forma como as pessoas avaliam os seus atributos específicos e habilidades, isto é, se uma pessoa se vê como capaz em determinada área, os demais irão considerar que a pessoa tem uma grande autoestima nessa mesma área, por exemplo.

 

Por outro lado, quando identificamos determinadas vulnerabilidades na autoestima das pessoas, podemos estar perante um espaço propicio ao desenvolvimento de determinadas patologias, como alterações do humor, ansiedade e personalidade, por exemplo. 

 

No que concerne, especificamente, à gravidez e ao pós-parto, muitas são as dúvidas e questões que surgem nesta fase, assim como, novos desafios! Portanto, é natural que a autoestima e autocrítica de cada mulher seja colocada em evidência/causa nesta fase do ciclo de vida, e que vários sejam os momentos do seu dia-a-dia que a façam duvidar da sua capacidade para ser, fazer, construir, desenvolver... No entanto, também é importante salientar que há como vivenciar este momento da forma mais equilibrada possível, e que da mesma forma que há atenção para o bebé, também tem de haver para a mulher que o cuida. Portanto, como achas que está a tua autoestima hoje? 

 

Partilha comigo. 

centro@mulherfilhaemae.pt

(+351) 936 180 928

consulta de acompanhamento emocional na gravidez e pós-parto

Sab | 13.10.18

Conselhos durante a gravidez e no pós-parto: para ouvir e refletir, ou filtrar e descartar?

Ana Vale

Recomecei a ler um livro que há muito queria ter terminado, mas que na altura não me foi possível...

Estava mesmo a precisar deste meu momento de leitura livre, de novo! 

Acontece que ao recomeçá-lo também tenho dado por mim a refletir sobre outras questões que têm vindo a ficar pendentes de reflexão, escrita, partilha, etc., da minha parte. Esta, foi uma delas: conselhos de pessoas durante a gravidez e no pós-parto

 

 

Consideram que recebem muitos? Poucos? Nenhuns? 

Pois bem, da minha experiência profissional, tenho contactado com mulheres que recebem muitos, a toda a hora! De pessoas que conhecem e desconhecem. Aliás, basta estarmos um pouco atentos às mães com bebés que se sentam perto de nós nos cafés, que vão ao supermercado, que passeiam na rua, no jardim, etc., para perceber que poucos são os que ficam indiferentes a um bebé! E penso que esta pouca - ou nenhuma - indiferença, não tem problema! Muito pelo contrário. É bom que as mães e os bebés se sintam acolhidos, não só pelas suas famílias, como pela comunidade em que se inserem. O que por vezes questiono que seja assim tão bom, são os conselhos/comentários/observações, que mesmo não sendo intencionalmente, se tornam inoportunos, despropositados, incómodos. 

 

Há por aí alguém que se identifique, ou que neste momento esteja a lembrar-se de alguma situação em particular que tenha acontecido consigo neste sentido?

Eu estou! 

"Ó mãe, não acha que está muito frio para sair com o bebé à rua?"

"Coitadinho, está a chorar, de certeza que tem fome!"

"Dê-lhe logo a mama, pode ser que assim se cale..."

"Acho que dás demasiado colo ao teu bebé... não vês que ele assim fica mal habituado?"

"Ele ainda dorme na tua cama? Vê-se logo que é um mimado..."

 

E continuaria aqui a identificar e relatar vários comentários que tenho ouvido com frequência nos últimos anos, enquanto terapeuta, que com mais uma, ou menos uma, palavra aqui e ali, vão dar todos ao mesmo: conselhos inoportunos que carecem de sentido, especialmente quando aqueles que os dão se esquecem que, perante um bebé, não existem receitas mágicas, iguais para todos e/ou estruturadas ao milímetro. 

 

Cada bebé, cada mãe, cada família, são pessoas diferentes. E aquilo que é bom/resulta com uns, poderá não ser bom e/ou funcionar com outros. E não, isto não é uma frase cliché! É aquela que a poucos agrada, mas que no geral é a mais simples e pura das verdades agregada à maternidade/paternidade.

 

Ao ler este livro, encontrei esta passagem, que identifico de seguida. Fiquei agradavelmente surpreendida, porque já estava a escrever este texto e achei que se enquadrava na perfeição. A autora é uma profissional da área conhecida pelo público feminino no geral, e apesar de não concordar com determinados pontos de vista, a verdade é que neste, não podia estar mais de acordo:

 

"A quantidade de conselhos que as mães recebem a partir do surgimento de um bebé - um leque de sugestões contraditórias - produz, logicamente, uma desorientação e uma infantilização que as obrigam a conectar ao que é correto, em vez de atender aos caprichos de sua sombra, ditados pela parte mais oculta do seu coração. 

As necessidades da mãe puérpera têm a ver com a contenção afetiva, a aceitação de suas emoções e a confiança que podemos lhe oferecer para que se conecte com o que acontece com ela. O conselhos carecem de sentido quando não guardam estreita relação com a história emocional de cada mulher. (...) O que é certo e errado se constitui um guia, e todos se sentem mais tranquilos. Menos as próprias mães."

 

Foram inevitáveis as memórias que este parágrafo me trouxe, a vários níveis, e fez-me todo, TODO o sentido! 

 

Quantas não são as pessoas que ao abordarem mães/pais optam por deitar cá para fora todas as suas - por vezes - rígidas regras e guias, como se de um manual de instruções, esta coisa da maternidade, se tratasse? 

Quantas não são as pessoas que se esquecem que as mães/pais tomam determinadas decisões, com determinado fundamento, e que não há ninguém que melhor conheça o seu bebé? 

Quantas não são as pessoas que optam por perder um bom momento para estarem caladas e que se esquecem da importância da escuta ativa nestes momentos tão preciosos como na fase do pós-parto?

 

Ou seja, conselhos de terceiros, sempre existirão, é certo! E todos têm o seu papel se refletirmos bem: uns poderão servir para facilitar a nossa reflexão, introspeção, para melhorarem as nossas práticas, dia-a-dia, comportamentos, quando na verdade quem os dá está conectado de alguma forma com a nossa realidade emocional. Outros poderão servir simplesmente para percebermos o que não nos faz sentido, o que nos aproxima e/ou afasta de quem nos rodeia, o que causam em nós. Em suma, todos servirão para darmos mais atenção aquilo que a nossa intuição nos diz, a quem somos, e ao que pretendemos enquanto mães/pais. 

 

Ao longo dos últimos grupos de mães que temos facilitado no Centro Materno-Infantil, várias vezes esta questão tem surgido, e várias têm sido as partilhas associadas. Contudo, muitas das conclusões sobre este tema acabam por ir dar a três aspetos fundamentais que têm vindo a surgir com frequência pelas próprias que o frequentam. Vou partilhá-las convosco, pois no meio de tantos conselhos/observações/comentários, estes são aqueles que mais sentido me têm feito no que toca a esta fase do ciclo de vida:

 

  1. Confia em ti. Não há ninguém que conheça melhor o teu bebé. 
  2. Tens dúvidas? Não há problema. Faz parte. Fala com um@ familiar/amig@ em quem confies. Faz uma breve pesquisa e vê o que algumas pessoas (credíveis) falam sobre o assunto. Ficaste assustada? Com mais dúvidas? Lembra-te que tens sempre a possibilidade de contactar o teu médico/enfermeiro de família, a saúde 24 (808 24 24 24), outro profissional com quem tenhas contacto, pesquisa no meu blog e/ou contacta-me (936 180 928). No final da busca, tira um pouco de tempo para ti e reflete sobre o que ouviste/leste e volta sempre à dica número 1. 
  3. Escuta com a cabeça e filtra com o coração. Conselhos de terceiros, vão ser sempre muitos. Uns que te podem fazer sentido, outros menos. Isso não significa necessariamente que és uma mãe descuidada, ou que sabes cuidar de forma menos atenciosa do teu filho. Escuta - se quiseres - o que te dizem, seleciona o que te faz sentido e filtra de acordo com a tua intuição materna - sim, ela existe! Mais uma vez, tira uns minutos para ti, reflete sobre o que ouviste/leste e volta sempre à dica número 1. 

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Questões? 

centro@mulherfilhaemae.pt

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Dom | 07.10.18

Saúde mental perinatal: participação em artigo no Jornal de Notícias Magazine!

Ana Vale

Saiu hoje, no Jornal de Notícias Magazine, um artigo sobre BluesDepressão e Psicose Pós-parto, onde fui convidada a participar pela Jornalista Sofia Filipe (autora do artigo) para partilhar algumas considerações sobre o tema. 

 

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Aconselho vivamente a sua leitura para quem quiser saber mais sobre o tema e tomar conhecimento de alguns testemunhos reais de mulheres que vivenciaram esta problemática na primeira pessoa.

 

Conta com a participação de vários profissionais que investigam e trabalham na área da saúde mental perinatal, e apesar das alterações psicopatológicas do pós-parto não se cingirem às mencionadas no artigo (Baby Blues, Depressão Pós-Parto e Psicose Pós-Parto), as que foram abordadas, dão ao leitor uma noção geral e real da forma como as mesmas podem vir a manifestar-se, e algumas das consequências que podem advir do seu desenvolvimento, quer para a mulher, quer para o casal e família. De uma forma resumida, o artigo fala também da Depressão Pós-Parto masculina, indicando alguns sinais que as mulheres e os homens podem e devem estar atentos! 

 

Gostei bastante de o ler, e confesso que, apesar de ter contacto com diversas realidades nesta área, impressiono-me sempre como é que em pleno século XXI, com tantos avanços em tantas áreas, ainda temos colegas que sugerem não ser necessário apoio psicoterapêutico a mulheres diagnosticadas com depressão pós-parto, uma vez que, "ainda não apresentam tendências suicidas", tal como foi descrito no artigo, entre outras questões que tão claramente denunciam a necessidade de aposta, formação, sensibilização e supervisão nesta área

 

Caso não consigam aceder à Notícias Magazine que sai com o Jornal de Notícias, enviem-me email que eu envio-vos o artigo para lerem. Vale a pena ler e partilhar! 

 

centro@mulherfilhaemae.pt

Qui | 04.10.18

Como viver com ansiedade no pós-parto?

Ana Vale

É uma boa questão, a qual respondia, de uma forma geral, com o seguinte: Viverá de uma forma muito mais confortável, se pedir ajuda! 

 

Há poucos dias, notei no motor de pesquisa/relatório mensal do meu blogue, que num dia, 3 pessoas vieram parar ao blogue através desta questão: "Como viver com ansiedade no pós-parto?". 

São várias as formas pelas quais as pessoas acabam por vir parar a várias das páginas em que abordo uma série de questões ligadas à saúde mental perinatal. Muitas delas, tal como esta, fazem-me refletir sobre as opções das pessoas que passam por esta fase com alterações emocionais, muitas sem admitir o que sentem, muitas com receio, talvez algumas em negação, outras que tentam ultrapassar de forma isolada, e  consideram que bastou, etc. Faz-me também recordar muitos dos motivos, já identificados, pelos quais as pessoas teimam em não pedir ajuda nesta fase do ciclo de vida, quando alguma problemática do foro da saúde mental se desenvolve. Acontece que, as nossas emoções precisam de ser expressas, compreendidas, aceites, integradas de alguma forma, para que, cada um possa viver confortavelmente com elas. Se optarem frequentemente por contê-las, então desenganem-se se consideram que as mesmas desaparecerão, porque assim o entendem. Se as contêm, elas ficarão por aí, nesse mesmo lugar, à espera de um caminho, uma permissão, uma possibilidade de serem, pelo menos, expressas. 

 

De acordo com António Damásio, as emoções fornecem automaticamente ao organismo comportamentos orientados para a sobrevivência, sendo que, é a consciência dessas emoções que permite que os sentimentos (algo interno, que não se vê, só a pessoa o sente, ao contrário da emoção, que é algo visível a terceiros) sejam reconhecidos, permitindo assim, o processo de pensamento influenciado pelo sentimento. Por exemplo, eu posso estar apaixonada por alguém (sentimento) e ficar alegre (emoção) quando vejo essa pessoa. O facto de ter consciência dessa alegria, e do sentimento de paixão, influencia o meu comportamento com essa pessoa, e comigo mesma. Da mesma forma, eu posso sentir ansiedade (sentimento) no pós-parto, porque tenho medo (emoção) de ficar sozinha com o meu bebé, ou porque tenho medo de que alguma coisa aconteça ao meu bebé, por exemplo, e isso influenciar o meu comportamento com o meu bebé (por exemplo, não sair à rua, não permitir que outras pessoas cuidem do bebé, etc.), e comigo mesma (estou sempre alerta, com medo que algo lhe aconteça, por exemplo). 

 

Claro que isto são só exemplos. Mas são exemplos comuns, que acontecem com muitas mulheres no pós-parto. 

 

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Como tal, se sentes ansiedade neste período, não hesites em pedir ajuda. Fala com um familiar/amigo que tenhas mais confiança, partilha com o teu companheiro(a) se te fizer sentido, procura um profissional de saúde em quem confies, ou fala comigo, por exemplo. Se preferires não falar, para já, porque não escreves num diário o que sentes? 

 

Compreender o que te causa ansiedade, facilitar a sua expressão, dar-lhe significado e arranjar estratégias internas que te permitam lidar com essa ansiedade (entre outras medidas), é fundamental! Muito mais importante, do que "aprender a viver" com ela, sem apoio especializado. A ansiedade no pós-parto é comum, e não precisas de te entregar a ela, como se não houvesse alternativa, porque há! 

 

Contacta-me: 

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