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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 30.10.20

Psicose pós-parto: 10 factos importantes a considerar!

Ana Vale

Ainda existem muitos medos e mitos que envolvem a psicose pós-parto, mas a verdade é que a mesma continua a ter lugar no seio determinadas famílias, e aqui estão alguns factos importantes que considero importante partilhar.

Todos eles emergem do que conheço sobre o tema e da experiência de algumas mulheres que já passaram por este problema de saúde mental que, para além de muito impactante (ainda por cima numa fase como o pós-parto), é também "muito antigo". O primeiro caso de psicose pós-parto relatado advém do século XVI! Sabiam? Daí que ainda seja mais inacreditável o facto de se falar tão pouco sobre este tema... 

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1. Pode acontecer a qualquer mulher após o parto. Sim, a psicose pós-parto não discrimina raças, condições sócio-económicas, nível de escolaridade, cultura, etc. Para além disso, nem todas as mulheres que desenvolvem uma psicose pós-parto têm antecedentes de doença mental.

2. Não és responsável pelo seu desenvolvimento. Não é culpa da mulher, nem das suas opções, do stress, da sua infância, preocupações financeiras, etc. Ainda não se conhece a causa da psicose pós-parto, mas sabe-se que fatores genéticos, níveis hormonais e alterações do padrão do sono são importantes considerar na influência do seu desenvolvimento. 

3. Não é a mesma coisa que uma depressão pós-parto. É uma psicopatologia com um curso diferente, sintomas que podem ser idênticos e outros que são próprios da psicose pós-parto e com necessidades de tratamento diferentes. A psicose pós-parto geralmente acontece nos primeiros dias ou semanas após o parto e os sintomas podem mudar muito rapidamente de uma hora para outra e de um dia para outro.

4. A psicose pós-parto não é rara. É pouco conhecida e pouco abordada, mas não é rara. Acontece em cerca de 1 - 2 mulheres por cada 1000 nascimentos. Se considerarmos que em 2019 houve cerca de 85 963 partos em estabelecimentos de saúde (dados da PORDATA), aproximadamente cerca de 86 a 172 mulheres desenvolveram uma psicose pós-parto no ano passado. É uma doença de inicio súbito, grave e é uma emergência psiquiátrica. Contudo, também é uma doença transitória, uma psicose com melhor prognóstico - no geral - do que as restantes, uma doença tratável! Sim, pode vir a ser assustador e confuso para as mulheres e respetivas famílias, mas também não é permanente e com o tempo adequado as mulheres acabam por recuperar e regressar ao seu dia-a-dia. 

5. Todas as mulheres grávidas devem ter conhecimento dos primeiros sintomas, assim como os seus companheiros e respetivas famílias. Existe o conceito de que "não se deve falar no assunto para não assustar as mulheres", mas o pior susto é aquele que vem de forma completamente inesperada. Mais vale estarem sensibilizadas e preparadas. Se não acontecer, ótimo! O conhecimento não ocupa lugar ;) Certo? E nunca se sabe se alguém que conhecem podem vir a desenvolver esta doença. 

6. A medicação certa pode salvar vidas, e sem ela a psicose pós-parto pode ser poderosa e perigosa. Se desenvolverem uma psicose pós-parto, mais do que antidepressivos, poderá ser necessário outro tipo de medicação ajustada ao desenvolvimento de sintomas psicóticos associados à psicose pós-parto. Se atrasarem o inicio da toma da medicação os efeitos colaterais podem ser péssimos para vocês e para as vossas famílias, já para não falar de um sofrimento mental que se prolonga, sem necessidade porque existe tratamento! 

7. Os media não têm ajudado a sensibilizar para esta problemática e descrevem as mulheres com alterações psicopatológicas, por vezes, como pessoas assustadoras e mães negligentes. Não é verdade! Esse "monstro" que se cria na imaginação das pessoas é o que poderia acontecer se as mulheres não receberem o tratamento adequado. Se o tratamento for iniciado o mais brevemente possível, este problema pode ser ultrapassado e as mães podem voltar para junto dos seus bebés e desenvolver o seu projeto parental. 

8. A recuperação é uma luta que pode ser longa e difícil. As mulheres podem sentir-se isoladas e precisam de tempo e paciência para melhor gerirem o processo de saúde-doença, especialmente num período de transição tão específico como o perinatal. Por vezes pode não parecer bidireccional, mas as mulheres podem estar a lutar uma das maiores batalhas das suas vidas enquanto recuperam de uma psicose pós-parto, ao mesmo tempo que estão a viver a maternidade. O apoio e compreensão do companheiro/a e família é absolutamente fundamental! 

9. Ter um outro bebé após esta experiência é perfeitamente possível! As mulheres com antecedentes de doença mental, nomeadamente perturbações do pensamento e do humor, têm um risco mais elevado de desenvolver uma psicose pós-parto. Mas mesmo nestes casos, com acompanhamento perinatal especializado antes, durante e após a gravidez,  é possível preparar a chegada do novo bebé, considerando todas as possibilidades. E assim sendo, caso volte acontecer, é fundamental saber a como e a quem pedir ajuda. Certamente que numa segunda gravidez será diferente, pois a preparação também é maior! Importante é refletirem esta decisão em casal/família, em conjunto com a equipa de saúde, e com tolerância e sem julgamento. Cada caso, é um caso.

10. Ouve sem julgamento e sem culpa. As mulheres que passam pela experiência de uma psicose pós-parto passam certamente por momentos de grande confusão, ansiedade extrema, alterações significativas do humor e conflitos relacionais profundos com quem as rodeia. Já para não falar de todas as lembranças "do que gostariam que tivesse sido e não foi" num momento onde impera a expectativa, a imaginação, a suposta "magia da maternidade". Certamente que ninguém imagina um pós-parto a começar assim, e como tal, há muita coisa para integrar, trabalhar e gerir a nível emocional e mental -  individual e familiarmente - durante o processo de doença e reabilitação, e mesmo à posteriori. É importante que estas mulheres e famílias sejam acompanhadas por especialistas nesta área, que aprendam sobre a doença e respetivos sintomas e que continuem o seu percurso parental da forma mais pacificada possível. 

 

Se estás a ler este texto e consideras que tens questões por esclarecer ou pretendes obter apoio especializado, contacta-nos!

mulherfilhamae@gmail.com

(+351) 936 180 928

 

Este texto foi baseado nesta publicação. Uma experiência de psicose pós-parto de uma mulher que fundou um blogue onde aborda várias questões sobre esta problemática na primeira pessoa, e não só. 

Seg | 26.10.20

Grupo de Mães: um espaço de encontro e partilha na gravidez e pós-parto.

Ana Vale

O grupo de mães surge com o objetivo de criar um espaço contentor de partilha, suporte, esclarecimento de dúvidas, reflexão e aprendizagem entre grávidas e recém-mães.

Os grupos podem ser temáticos - dirigidos a mulheres com alterações psicopatológicas, por exemplo - ou simplesmente dirigidos a grávidas e recém-mães que queiram participar. Podem ser abertos - podendo receber participantes em todas as sessões enquanto o grupo existir - ou fechados - recebendo apenas os participantes que se inscrevem inicialmente, ficando estes, até ao final da existência do grupo.

 

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Os temas que podem surgir/ser planeados são diversos, como por exemplo:

  • Amamentação;
  • Relação conjugal após o nascimento;
  • As etapas do desenvolvimento do bebé no primeiro ano de vida;
  • Alterações emocionais na gravidez e no pós-parto;
  • As mudanças na dinâmica familiar após o nascimento do bebé;
  • O regresso ao trabalho;

 

Os grupos de mães são dirigidos a:

 

O mínimo de participantes por grupo são 3 pessoas.

Os bebés são muito bem-vindos a estas sessões, contudo, fica ao critério das mães a sua presença.

 

Brevemente, (re)iniciaremos as sessões do grupo de mães. Estejam atentos! 

 

Marcações/informações: 

mulherfilhamae@gmail.com

(+351) 92 682 82 02

@enfermeiravaiacasa

Dom | 25.10.20

Sessões de meditação e relaxamento: no que consistem?

Ana Vale

Nos círculos da psicanálise existe uma história bem conhecida sobre um homem atormentado por um sonho recorrente. O mesmo encontra-se preso dentro de um quarto, incapaz de abrir a porta e fugir. Procura a chave pelo quarto, mas nunca a consegue encontrar. Tenta com toda a força abrir a porta mas esta não cede um milímetro. Não existe outra maneira de sair do quarto sem ser através daquela porta, que ele não consegue, de todo, abrir. Está encurralado e com medo. E no meio de uma sessão com o seu analista, o mesmo descreve-lhe este sonho e o analista, ouvindo cuidadosamente o seu relato, sugere-lhe que a porta talvez possa ser aberta na direção oposta. Quando o homem volta a ter o mesmo sonho, lembra-se da sugestão do seu analista e descobre que a porta se abre para dentro sem a menor resistência.

 

 

 

Parece-me que esta é a realidade, figurada, de algumas pessoas hoje em dia. E o período perinatal, é muitas vezes, a chave que abre portas, que até ali, não tinham sido abertas. 

Muitas pessoas têm a sensação de estarem presas, encurraladas, dentro de uma vida que parece não satisfazê-las. Existe, por vezes, um sentimento silencioso de desespero, mantido à distância através de uma atividade constante ou de novas drogas miraculosas. Algumas pessoas passam a vida à espera. À espera que alguma coisa aconteça e que venha mudar por completo as suas vidas. E, no entanto, a lição mais básica e óbvia que a vida nos oferece, é que a felicidade é um estado de espírito, interno, e não algo que possa ser adquirido no mundo exterior, ou de outras pessoas.

 

Embora algumas pessoas possam contribuir para chegarmos mais facilmente a esse estado, é a nossa predisposição, o nosso eu interior, que abre essa porta.

 

Falando mais especificamente do período da gravidez e do pós-parto, este constitui-se um momento em que a mulher adquire uma nova identidade, a de mãe. Este processo é dinâmico, nem sempre consciente, e construído dia-a-dia com aquilo que são as experiências refletidas, que a mulher vai adquirindo enquanto mãe, ao mesmo tempo que as suas experiências de filha, por exemplo, também ganham um novo lugar no mundo consciente e conceptual do seu eu interior. É uma dinâmica complexa, natural e ambígua pela qual todas as mulheres passam durante a transição para a maternidade. Dinâmica essa que está relacionada com a forma como a própria mulher vive a sua maternidade, influenciando o desenvolvimento de uma certa despersonalização que cada mulher passa, à sua maneira, durante este período. 

 

Se estas vivências não tiverem um espaço adequado para serem refletidas, partilhadas, trabalhadas, podem desenvolver-se fortes sentimentos de ansiedade, angústia, medo, insegurança, sendo que, alguns destes, podem tornar-se densos ao ponto de elevarem os momentos de sofrimento numa fase em que os desafios do dia-a-dia, e em especial com o bebé, são imensos

 

Um espaço adequado pode ser, por exemplo, uma conversa entre o casal, uma partilha com uma amiga de confiança ou com um familiar. No entanto, há momentos, em que a ajuda de um profissional especializado é fundamental para que a mulher/família possa transitar para a maternidade da forma mais tranquila possível. 

 

As nossas sessões de meditação e relaxamento e a consulta de saúde mental perinatal constituem-se espaços favoráveis para trabalharmos este período de transição, mesmo que o objetivo seja só a prevenção de alterações emocionais, ou mesmo, quando as alterações emocionais no período perinatal se tornam mais evidentes e difíceis de gerir

 

No seu poema "A Porta", Miroslav Holub, o poeta imunólogo checo, incita-nos a ter coragem de olhar para as nossas vidas com novos olhos. A Porta que nos fala o respetivo poeta é a porta que se abre para dentro, para nos revelar as nossas necessidades mais profundas, assim como as nossas aspirações mais elevadas. Ora leiam: 

 

Vai e abre a porta.

Talvez lá fora haja

uma árvore, ou um bosque,

um jardim,

ou uma cidade mágica.

 

Vai e abre a porta.

Talvez haja um cão a vasculhar.

Talvez vejas uma cara, 

ou um olho,

ou a imagem de uma imagem.

 

Vai e abre a porta.

Se houver nevoeiro

dissipar-se-á.

 

Vai e abre a porta.

Mesmo que nada mais haja

que o tiquetaque da escuridão,

mesmo que nada mais haja

que o vento surdo,

mesmo que nada mais haja,

vai e abre a porta.

 

Pelo menos haverá uma corrente de ar.

 

 

Mediadores como a meditação e o relaxamento, que utilizados nas nossas sessões, são um meio de abrir essa porta e encontrar uma corrente de ar

 

A meditação é a arte de se estar consigo mesmo. Dizer a alguém "Não faças nada, senta-te simplesmente aí, fecha os olhos e deixa-te ir" quase se tornou num lugar-comum, mas é algo que muitos de nós ainda sentem bastante dificuldade em fazer.

 

O relaxamento, que difere da meditação (embora um dos objetivos da meditação também possa passar pela indução ou reforço do relaxamento), é visto como uma componente de controlo do stresse, que contribui para o bem-estar psicológico.

 

Nas nossas sessões utilizamos (principalmente, mas não só) como base do relaxamento o método de Schultz, e temos os seguintes objetivos gerais com a sua realização:

  • Aumentar a consciência corporal;
  • Promover e reforçar o relaxamento;
  • Diminuir os níveis de ansiedade característicos deste período;
  • Facilitar a expressão das emoções;
  • Promover comportamentos de vinculação entre a mãe e o bebé;
  • Promover o desenvolvimento pessoal.

 

Podem participar nestas sessões, mulheres que são acompanhadas na consulta de saúde mental perinatal, ou outras mulheres com interesse nas respetivas sessões. 

 

As mesmas podem ser realizadas no domicílio ou por vídeoconferência. 

Brevemente iremos voltar a dinamizar grupos de meditação e relaxamento para mulheres grávidas e no pós-parto. Estejam atentos às datas/locais!

 

Marcações/informações: 

mulherfilhamae@gmail.com

(+351) 92 682 82 02

@enfermeiravaiacasa

Sab | 24.10.20

A Depressão pós-parto quase que triplicou durante a pandemia de coronavírus!

Ana Vale

De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Alberta, no Canada, a depressão pós-parto quase que triplicou durante a pandemia que enfrentamos atualmente. 

Por aqui esta notícia não é acolhida com surpresa, contudo, não deixa de ser impressionante olhar para este estudo e perceber que das 900 mulheres entrevistadas que se encontravam no período perinatal (relembro que vai desde a gravidez até ao primeiro ano após o parto), 41% reportavam sintomatologia depressiva perinatal - em comparação com os cerca de 15% prévios à pandemia - e que 72% das mulheres referiram sintomas graves de ansiedade perinatal - em comparação com os cerca de 29% prévios à pandemia.

 

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Imaginar todas as alterações que têm surgido e implicado ajustes diversos na dinâmica destas "recém" famílias sempre com o futuro incerto...  a (im)possibilidade de ter o companheiro nas consultas de acompanhamento da gravidez, no parto, a vivência (ainda mais!) isolada daquilo que são os primeiros dias do bebé, com todas dúvidas e inseguranças associadas, os medos diversos no que concerne ao contágio e às suas implicações, mães e bebés que começam o seu percurso de vida em separado, um pós-parto imediato com uma obrigatoriedade quase que subjacente a este período de se estar resignado ao domicílio e pouco mais, a impossibilidade de ter por perto a rede com a frequência necessária para cada casal, o regresso ao trabalho do pai com um bebé tão pequeno em casa e tanto por gerir interna e externamente neste sentido. Enfim... a lista não termina. Um sem número de realidades ímpares que se conjugam numa mixórdia de tristes sentidos para quem está agora a começar a viver uma nova realidade parental e a desenvolver-se internamente neste âmbito.

Se esta fase costuma ser exigente para qualquer um que por ela passe, neste momento, a exigência é elevada a uma dimensão que pode chegar a ser bastante dolorosa para uns, sentida como muito injusta para outros, chegando até, a tornar-se patológica como se verifica para uma percentagem tão significativa de mulheres que se encontram neste período de acordo com o estudo inicialmente identificado. 

 

Não sei que relação de prevalência existe para o nosso país, nem sei sequer se está a ser realizada alguma investigação neste sentido, mas acredito que os números não sejam assim tão diferentes dos que nos são apresentados neste estudo

 

Se neste momento estás a sentir alguma sintomatologia de depressão/ansiedade perinatal - informação que podes consultar neste texto sobre depressão perinatal - não hesites em pedir ajuda! 

O primeiro passo, depende de ti. 

Se estás por perto de alguém que identificas como tendo alguns dos sinais e sintomas de depressão pós-parto, não ignores. Ajuda no que te for possível. Também podes encontrar algumas dicas aqui

 

Em qualquer um dos casos, podes sempre ligar/enviar email e esclarecer as tuas dúvidas! 

(+351) 936 180 928

mulherfilhamae@gmail.com

 

E lembra-te:

A saúde mental materna... IMPORTA! 

Ter | 13.10.20

Que desafios vivenciaste durante a gravidez e no pós-parto?

Ana Vale
A gravidez e o pós-parto constituem-se uma fase desafiante na vida de uma mulher, de um bebé, de um casal, uma família...
 
Muitos dos desafios pelos quais as mulheres e as famílias passam neste período são fonte do desconforto e do sofrimento emocional que muitas sentem.
 
Com o objetivo de explorar os desafios que se colocam na vida das mulheres e das respetivas famílias durante a gravidez e no pós-parto, e conhecer, de acordo com a sua perceção, aqueles que se constituem relevantes na sua experiência da maternidade/paternidade, elaborei um breve questionário online ao qual podes aceder através deste link.
 

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É dirigido a mulheres/homens que estejam a passar pela experiência de uma gravidez, ou que já tenham sido pais, e DEMORAS cerca de 3 MINUTOS a preenchê-lo.
 
Ao preencheres este questionário estás a ajudar a dar voz à área da saúde mental perinatal através da tua experiência e da sua partilha.
 
Após a obtenção do número de respostas pretendidas, partilharei os resultados no blogue, e por email com quem identificar o respetivo contacto no questionário.
 
Agradeço-te, desde já, pela tua disponibilidade e atenção!
Conto contigo? 🙂
 
Sex | 09.10.20

Estás em casa com um bebé? Eis como cuidares da tua saúde mental!

Ana Vale

Estar em casa com um bebé pode ser desafiante em vários sentidos! 

 

Há um conjunto de rotinas que ganham uma nova dimensão, porque na verdade, quem acaba por estar no centro da prioridade é o novo elemento da família.

 

  • Rotinas de sono? Ficam logo em stand by! Há bebés que acordam de hora a hora, outros que acordam de três em três horas, outros que passado poucas semanas já têm um bom padrão de sono, e outros, que demoram anos até o regularizarem.  Por isso, a rotina do sono passa a ser em função das horas do bebé. 
  • Rotinas de alimentação? Nas primeiras semanas, muito difíceis! Até o bebé ganhar as suas rotinas, os pais muitas vezes andam a "navegar" ao sabor do vento e da vontade do bebé se alimentar, e muitas vezes, entre o tempo de mamar, arrotar, bolsar, acalmar e/ou preparar o biberão, dá-lo, e com surpresas na fralda à posteriori - e muitas vezes instantaneamente - se achávam que íam ter tempo para uma refeição mais tranquila, esqueçam! 
  • Rotinas de saídas sociais? Talvez, mas... nunca sem recorrer à check list do ovinho, fralda de pano, fraldas, pomadas, muda de roupa, alimentação extra (se necessário), chucha, estrutura do carro, bonecada e uma série de outros acessórios que vai depender da idade e das necessidades do bebé. Também sem nunca esquecer que o conceito de "descontrair" como outrora é utópico... o bebé vai chorar, tem o seu horário de alimentação, os sonos, as vontades de colo, de brincadeiras... e se já estiver a gatinhar ou a começar a andar? Não param (nem vocês...)! 
  • Rotinas? Sim..., aquelas que o bebé permitir, quando for possível, e se o trabalho em equipa conjugal funcionar bem! O cigarro à hora de sempre?  A série favorita? O jogging matinal? A ida ao ginásio? Bom... acredito que para algumas pessoas estas rotinas se possam manter MAS sob uma série de novas regras que só à medida que se vai conhecendo o novo elemento da família é que se podem identificar, compreender e tentar integrar. 

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Bem.. e na verdade, estas são só algumas das várias questões que se colocam nesta fase que (sim!) se pode revelar um verdadeiro reboliço de emoções, dúvidas e novos desafios! E daí que seja muito importante refletir sobre algumas estratégias que cada pessoa pode tentar integrar no seu dia-a-dia de forma a tentar colmatar, especialmente,a tendência para o descontrolo dos autocuidados e para o isolamento, que nesta fase, levam muitas vezes ao desenvolvimento de alterações emocionais: 

 

  • DORMIR! Este é o maior desafio para quem cuida de um bebé - dormir! - até porque, mesmo que as mães queiram dormir, muitas vezes o seu cérebro mantém-nas acordadas, ou num sono muito superficial, para poderem estar alerta para ouvirem os seus bebés. Contudo, é importante tentarem arranjar momentos - nem que sejam horas/minutos - no seu dia-a-dia para colmatarem a falta de sono noturna. Aproveitem os momentos em que o  bebé dorme para poderem dormir um pouco também. Têm roupa para passar? Loiça para arrumar? Esqueçam! Se precisam de dormir, então essa é a vossa prioridade! Se não tiverem um sono minimamente reparador, então a vossa capacidade de cuidar de vós e dos vossos bebés ficará, muito provavelmente, comprometida, assim como a vossa saúde mental. Estão a chegar ao vosso limite e não estão a conseguir arranjar tempo algum para gerirem o sono e o cansaço? Então é hora de acionar a vossa rede! - "Ajuda, precisa-se!". Preparadas? 

 

  • COMUNICAR! Este é outro grande desafio que que cuida de um bebé enfrenta. Parece simples, mas nem sempre assim se verifica. Muitas pessoas tendem ao isolamento social face às várias alterações/dúvidas que as acometem. São várias as emoções que surgem, e muitas vezes "à flor da pele" se mantém, o que torna esta comunicação mais difícil de gerir. Comunicar o que sentem com alguém com quem tenham confiança; Partilhar dúvidas e receios; Ouvir experiências de outras mulheres da mesma família, ou não, sobre parentalidade; Comunicar com o companheiro sobre formas de resolução de problemas diversas, mesmo que surja a discórdia; Comunicar com a família, mantê-los a par do desenvolvimento do bebé; E acima de tudo, ouvir-se a si mesma/o. Não ignorar a preocupação, o medo, a ansiedade, a tristeza, a irritabilidade, o choro fácil, a tensão, entre outros sintomas que muitas vezes espelham o sofrimento mental e emocional que se vive neste período de vida tão exigente. 

 

  • COMER! Com as rotinas tão aceleradas e tão diversas, alimentarem-se bem pode ser um grande desafio nesta fase. Optem maioritariamente por take away se não conseguirem confecionar refeições (e se tiverem essa possibilidade), ou por fazerem várias e congelar. Melhor ainda, se tiverem família e amigos que se disponibilizem a ajudar-vos na confeção de refeições nesta fase, não hesitem! Toda a ajuda é bem-vinda e isso não significa que vocês não são capazes (por exemplo...). Significa (sim!) que estão numa fase de reorganização da vossa dinâmica familiar e que precisam de ajuda. Ajuda essa que vos pode facilitar (e muito!) a passagem por esta fase tão exigente. Ah! E aquele pedaço de bolo de chocolate que tanto gostas? Agora pode ser um bom momento para pedires a alguém para te trazer, ou quem sabe, saíres para ires comer! Seja este, ou qualquer outro tipo de prazer alimentar que tenhas, aproveita para lhe dar asas neste momento (sem cair em excessos, claro!). Vai ser como uma tarde quente de verão à beira-mar. 

 

  • EXERCITAR! Estás sempre a tempo de fazer exercício físico ajustado à fase em que te encontras e que muito te pode ajudar a sentires-te melhor contigo mesma/o! Ires passear e levares o bebé no porta-bebés ou no carrinho, fazeres uns exercícios de yoga em casa ou num espaço apropriado com o teu bebé, fazeres uns exercícios de meditação ou pilates enquanto o bebé está a dormir a sesta, por exemplo. Importante é, se possível, aproveitares para criares a tua rotina neste sentido também. Por exemplo, depois do bebé acordar e de conseguires tomar o pequeno-almoço, porque não um passeio pelo parque ou pela praia, a dois? E melhor ainda, convida aquela amiga que já não vês há algum tempo e/ou que está de folga e que certamente terá todo o gosto em fazer exercício contigo e com o teu bebé!

 

  • DIVAGAR! Porque cuidar de um bebé também é uma tarefa ultra exigente porque o foco está praticamente sempre.... no bebé e nas questões que o rodeiam! A alimentação, o sono, os primeiros sorrisos, as conquistas, as dificuldades, a sopa que não comeu, a birra que fez,  a consulta que está para vir, o dente que está a nascer, a creche que vai iniciar, etc., etc...Ou seja, dia-a-dia de bebés igual a (maioritariamente) pensamentos e temas sobre bebés. Assim sendo, sempre que possível divaga e navega noutro tema! Se conseguires, lê um livro, revistas, aquelas publicações nas redes sociais que podem ter a ver, ou nada a ver, com a fase que estás a viver atualmente. Lê para te identificares, para te atualizares, para divagares. Vê um filme, ou dois, ou três... ou nem um, só metade o primeiro, mas vê! Ah! E sai para levar o lixo à rua, nem que seja a única saída que tenhas no dia, mas vai saber-te que nem ginja! Acredita ;)

 

  • CONHECER-TE! Esta é uma fase em que muito possivelmente te vais sentir sugada/o. Muito do que és é absorvido pelo teu dia-a-dia com o teu bebé, e é natural que assim o seja [já referi que esta é uma fase muito exigente...?]. Especialmente, quanto mais novo for, mais absorvente será. Por isso, aconselho-te a tirar os momentos possíveis para te conheceres melhor. Certamente que estás a passar por uma fase em que estás a questionar-te tanto, como a aprender em barda, e como tal, tira tempo para te conheceres a ti mesmo/a e asborveres todas essas novas aprendizagens sobre ti, sobre o teu novo papel e sobre o teu bebé. Ouve o teu corpo, a tua mente, o teu coração. O que te dizem? Esperavas reagir daquela maneira naquela situação? Esperavas crescer desta forma? Como te vês atualmente? Sentes-te no teu limite? Com quem sentes que podes conversar? Não te ignores por um segundo. Podes não conseguir dar-te colo no momento ideal, mas não deixes para amanhã o colo que te podes dar hoje. Sim, porque em primeiro lugar, tens de te dar colo a ti. Olhar para ti, e teres-te em conta, é uma excelente forma de te considerares, de te respeitares, de te dares colo, amor. Aquele que muito precisas. E se assim for, é meio caminho andando para tudo isto ser refletido no teu bebé e nos cuidados que lhe prestares dia após dia. 

 

É claro que todas estas dicas são gerais. Pensando em todas as mulheres que tenho conhecido neste âmbito, tenho a noção de que algumas seriam mais ajustadas para umas do que para outras. Contudo, se o objetivo é consierar cada caso em particular, então sugiro que optes por um acompanhamento individual. Esclarece as tuas dúvidas com um profissional especializado e obtém o apoio que necessitas, se achares que faz sentido neste momento. 

 

Acima de tudo, não passes por esta fase de forma isolada e pede ajuda, se for o caso. 

 

mulherfilhamae@gmail.com