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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 29.04.22

Uma mãe e um pai não são suficientes para criar um filho.

Ana Vale

Há poucos dias revisitei o livro de Laura Gutman, "A maternidade e o encontro com a própria sombra", e o seguinte parágrafo ficou-me:

A realidade é que a presença da criança faz vir à tona os desencontros que já existiam. Também é verdade que  uma mãe e um pai não são suficientes para criar um filho. Esta ideia pode parecer extravagante, mas creio que somos "desenhados" para viver em comunidade, como a maioria dos mamíferos. 

 

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Tantas são as vezes que falo sobre o facto de ser necessária a tal aldeia para educar uma criança e da importância desta máxima no âmbito da saúde mental perinatal, e como tal, não podia estar mais de acordo com o acima descrito. 

 

Mas não deixa de ser um paradoxo. 

 

A minha perceção é a de que os pais, hoje em dia, e cada vez mais, sentem a pressão de terem de ser auto-suficientes para muito nas suas vidas. Têm de ser os melhores pais, os melhores no trabalho, os melhores amantes, os melhores amigos, os melhores nos seus hobbies, etc., etc... 

Aliás, até podem sentir que não têm de ser os melhores, mas que têm de ser suficientemente bons para poderem dar resposta. E o que significa isso, de ser suficientemente bom? Tantas vezes que costumo ouvi-lo na consulta de saúde mental perinatal. É uma dimensão bastante subjetiva, mas muito presente. 

 

Ao reler este capítulo do livro - por vezes gosto de reler excertos de livros que me marcaram de alguma forma, acabo sempre por retirar algo diferente - divaguei para a imagem de muitos dos pais de hoje em dia. Os pais que sentem uma pressão imensa e constante no que concerne à presença e educação dos seus filhos, e ao mesmo tempo, senti o quão essa pressão está desalinhada com as globais necessidades de um ser humano. A necessidade inicial e primitiva do afeto da mãe e do pai, mas também aquela que evidencia a necessidade do mesmo estar inserido numa comunidade, num grupo, numa família, e de se sentir integrado. Motivo pelo qual uma mãe e um pai não são suficientes para criar um filho. São uma peça absolutamente fundamental, mas não a única. E o confronto com esta realidade, para muitos, poderá ser motivo de angustia e ansiedade, e para outros, um alívio.

 

É também por isto que o período perinatal é como que uma chave que abre a porta para muitas questões pessoais, que até então, não eram conhecidas pelos próprios ou não estavam tão conscientes. 

 

No entanto, e apesar desta simples reflexão, não desvalorizo alguns dos motivos subjacentes à pressão sentida e verbalizada por estes pais. O mundo tem mudado muito, em tão pouco tempo. E o que é exigido aos pais hoje em dia - e particularmente às mulheres - a forma como as famílias estão (re)organizadas, as exigências diárias dos locais de trabalho, as fracas condições laborais, o fraco suporte que é dado às mulheres/famílias no período perinatal por parte das políticas atualmente implementadas, entre tantos outros fatores, são alguns dos vários que são frequentemente apontados (de uma forma geral). No entanto, não posso deixar de referir que tudo isto é olhado e integrado de acordo com uma perspetiva muito própria. Perspetiva essa que é a que realmente importa, para compreender a forma como cada pessoa olha para o mundo. 

 

No entanto, seja com mais ou com menos pressão sentida, com mais ou menos consciência da mesma, a verdade é que a partir do momento que um ser humano existe, pertence ao mundo. Mesmo que no inicio, crie as suas raízes a partir das dos seus pais. Por isso, sim, reitero: um pai e uma mãe são peças fundamentais na vida de um filho, mas não são suficientes para o criar. É preciso a tal aldeia, é preciso a tal comunidade. E tão bom que assim é! 

Ter | 26.04.22

Materna(mente): uma reflexão sobre a saúde mental perinatal sem filtros!

Ana Vale

Foi com entusiasmo que aceitei o convite para estar presente neste evento promovido pela Unidade Hospitalar de Vila Real do Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) 😊

 

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No dia 4 de maio (#diamundialdasaúdementalmaterna), no período da manhã, vamos estar a refletir sobre a saúde mental materna, sem filtros!

Uma equipa de vários profissionais de saúde da respetiva unidade hospitalar, de várias disciplinas, que em breve irão colocar um projeto no âmbito da saúde mental perinatal em prática, e sobre o qual, vão refletir e partilhar neste evento.

É sempre bom sentir que se faz um pouco mais pela área no nosso país! 😉

Da minha parte, vou abordar a temática da saúde mental perinatal e da era digital e falar sobre o papel do enfermeiro especialista em saúde mental na abordagem à mulher/família no período perinatal. Tal como costumo fazer na consulta de enfermagem em saúde mental perinatal

Podem consultar o programa do evento na imagem seguinte: 

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Se quiserem assistir ao evento via online, tal como farei, podem sempre inscrever-se através do seguinte email: sfreitas@chtmad.min-saude.pt

Se estiverem por perto e quiserem assistir via presencial podem inscrever-se aqui

Mas não vou ficar só por aqui. Este dia ainda vai dar lugar a mais novidades... Estejam atentos! 🙃

#saudementalmaterna
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#enfermagem
#saudemental
#enfermeiravaiacasa
#chtmad

 

Marcações/informações: 

mulherfilhamae@gmail.com

(+351) 92 682 82 02

@enfermeiravaiacasa

Dom | 24.04.22

O que suscita em mim, o choro do meu bebé?

Ana Vale

Quando uma mãe/pai está a tentar responder ao motivo subjacente ao choro do seu bebé, possivelmente, não é algo que se questione. No entanto, e caso este foco seja identificado em consulta de saúde mental perinatal como desadaptativo à transição para a maternidade/paternidade, será certamente uma área prioritária de ajuda.

O choro faz parte da linguagem do bebé para comunicar com os que dele cuidam de forma a poderem ir ao encontro das suas necessidades. Será fome? Necessidade de afeto? Dor? Cansaço? Raiva/tristeza? Fim do dia?

 

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Winnicot e Brazelton identificam alguns tipos de choro, formas de manifestação e algumas estratégias de conforto. No entanto, esse espaço, onde essas estratégias são colocadas em prática, é único entre cada mãe/pai e cada bebé.
Motivo pelo qual, apesar de haver vários estudos neste âmbito, esta não é uma ciência exata pois há inúmeros fatores que podem contribuir para o resultado pretendido: acalmar o bebé.

Pode haver uma causa orgânica subjacente a um choro que não se acalma facilmente com o colo de uma mãe/pai, mas estes casos são pouco prevalentes face aos restantes. Ou seja, podem haver bebés que choram muito, e durante várias horas, e não estão doentes, não têm fome, não têm dor, não estão tristes/zangados. Podem estar cansados e/ou com dificuldade em autorregular-se, mesmo com o afeto transmitido pelos pais. Como estamos a falar de uma díade/tríade, as possibilidades são várias, e o efeito que este choro causa na mãe/pai, pode aumentar os seus níveis de ansiedade, e com o tempo, e como consequência, aumentar os seus sintomas depressivos, o medo, a irritabilidade e a insegurança.

As mães nascem biologicamente preparadas para responder ao choro dos seus bebés, mas podem não estar mentalmente preparadas para tal. Desta forma, não são menos mães, ou piores mães por isso. Contudo, podem sim, precisar de ajuda e não devem hesitar em pedi-la! ❤️

 

Marcações/informações: 

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