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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Seg | 07.08.17

Á conversa com a Laura #1 - O nascer de uma mãe. Ou a transformação de uma mulher?

Ana Vale

Passados quase seis meses do nascimento da minha filha, eu agora sei e compreendo que eu senti e vivi - e por vezes ainda sinto e vivo - como se eu tivesse morrido após ela nascer e que eu fiz um profundo luto sobre a minha "morte" ao longo dos meses: o meu tempo pessoal acabou, o meu sono não é contínuo, o meu corpo não é o meu corpo, o meu pensamento não é assertivo, a minha casa não é arrumada, os meus lugares não estão alcançáveis, a minha identidade desapareceu... Quem sou eu? Onde eu estou? A Laura?? A Laura morreu.

O meu coração pulsava, os meus pulmões oxigenavam e a minha vida corria à velocidade da luz, escorregadia como a fina areia que nos desaparece entre os dedos das mãos quanto mais a queremos agarrar, mas eu não estava aqui. Eu não estava em lado nenhum. Sentia-me as cinzas de uma árvore, outrora enorme, esbelta, poderosa e repleta de flores, agora queimada após um terrível incêndio, feita louca à procura das minhas raízes, mas preferindo deixar o que restava de mim, voar. Voar para o infinito e para sempre.

Um misto de querer controlar e fugir, um misto de existir e desaparecer, um misto de euforia e de horror; uma bipolaridade permanente que tanto caracteriza as minhas inúmeras máscaras com que eu disfarço as minhas latejantes feridas emocionais, mais antigas que o universo, a que se dá o pomposo nome de transtorno bipolar, mas que é muito mais que um transtorno neurológico: é morar no mais rápido elevador alguma vez criado entre o céu e o inferno.

Sentia que não tinha nascido raio de mãe nenhuma em mim!!! Eu sentia era que eu tinha morrido!

E depois?

Depois, eu não morri. Eu transformei-me.
Através da consciência do meu amado marido e maravilhoso pai da nossa bebé, da minha força de vontade e determinação em querer viver e não apenas existir em negação e juntamente com uma indispensável rede de apoio de profissionais e entidades competentes que me ajudaram e me continuam a ajudar e muito, Kundalini Yoga e meditação, o conhecimento "sem filtros" de mim mesma e a tomada da minha consciência pessoal, foi como que acordar de um longo sonho - ou pesadelo? - e percebi: Eu não morri nem sou apenas a mãe da minha bebé. Eu sou Eu. Com todas as minhas plenas virtudes e os meus plenos defeitos. Eu acertei e errei. Eu adorei e detestei. Eu consegui e desisti.
Eu sou.
Eu sou uma mulher, sou a mãe da minha amada bebé, sou uma filha - a minha mãe guarda-me onde quer que ela esteja para lá da Terra e eu estou em vias de perdoar o meu pai, onde quer que ele esteja aqui na Terra - sou uma amiga, sou a amante do meu amado marido, sou uma pessoa, sou luz, sou alma, sou coração, sou o meu corpo, sou consciente, sou poderosa, sou sábia, sou honesta, sou sincera, sou linda, sou sim, sou não, tenho a certeza que sou, não sei bem se sou, sou verdadeira, sou força da natureza e sou amor. Sou nada e sou tudo. Tudo e nada o que eu quiser.

Que liberdade!

 

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Isto é o nascer de uma mãe.

De eu ser mãe. De tu seres mãe. De ela ser mãe e de elas serem mães. Da tua mãe. Da mãe da tua mãe. De tu como mãe de ti mesma - e por vezes também pai.

Eu não sei bem quem era e agora sou uma mulher plena. Agora eu sou uma mãe. Foi e é tão duro e tão maravilhoso.

Que bom que eu "morri"! Que bom que eu me tornei mãe.