Ansiedade: uma fiel companheira parental no pós-parto.
Há alguns meses descrevi qual a diferença entre ansiedade "normal" e a ansiedade considerada "patológica", num texto denominado por "Ansiedade Pós-Parto: quando é que deixa de ser normal e passa a patológica?"
Como já identifiquei várias vezes por aqui, o período que alberga o nascimento de um filho é caracterizado por mudança e imprevisibilidade constituindo-se um desafio em termos de exigências e expectativas, que muitas vezes é percebido como um acontecimento de vida stressante, o qual pode precipitar ou agravar qualquer uma das perturbações da ansiedade descritas nos manuais de diagnóstico.
Estimativas de incidência nos primeiros seis meses podem chegar aos 30% e de acordo com alguns autores, a ansiedade é muito mais comum no pós-parto do que a depressão. Para além disso, a ansiedade na gravidez é reconhecida como um fator de risco para a depressão perinatal, assim como níveis elevados de ansiedade nos primeiros dias do pós-parto foram associados ao desenvolvimento de uma depressão pós-parto.
De todas as perturbações da ansiedade integradas nos manuais de diagnóstico aquela que se desenvolve com maior frequência é a Perturbação da Ansiedade Generalizada (PAG), que em termos de prevalência pode chegar aos 8% na gravidez e no pós-parto e está relacionada com a preocupação excessiva e incontrolável durante uma grande parte do dia, durante vários meses, e a vários níveis na vida de cada individuo. Segue-se a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), cuja prevalência poderá chegar aos 3.5% na gravidez e no pós-parto. Sabe-se que até 70% das mulheres com POC reportam o inicio da sua doença ao período perinatal e cerca de 50% das mulheres com POC preexistente referem exacerbação dos sintomas no período perinatal.
De uma forma geral a ansiedade patológica pode manifestar-se no pós-parto, através da vivência persistente e a longo prazo de momentos (por exemplo) de maior irritabilidade, cansaço extremo, grandes dificuldades de concentração, insónia frequente, preocupação excessiva com determinados pormenores, incapacidade de relaxar, obsessão relacionada com determinados tipos de cuidado ao bebé, ideias recorrentes de agressividade em relação ao bebé, entre outros, ao ponto deste tipo de manifestação acabar por incapacita-la de vivenciar o seu dia-a-dia de uma forma geral, ou mais de metade do seu dia-a-dia, tornando-se assim uma fiel companheira parental no pós-parto.
Caso se identifique com o descrito no presente texto, saiba que não é a única e que é provável que perto de si possa encontrar o apoio de que necessita para ultrapassar da melhor forma o momento presente.
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