Antidepressivos na depressão pós-parto: aspetos importantes a ter em conta!
Experienciar uma depressão pós-parto é algo que poderá ser sentido como avassalador para a pessoa em questão, companheiro/a e restante família.
Estamos a falar de uma família que acaba de ter um bebé (mesmo não sendo o primeiro), de um dia-a-dia que tem tudo, menos uma rotina, de uma aprendizagem constante sobre o bebé, a nova família, e respetivas necessidades, de uma constante "pressão social" para que tudo volte ao "antigo normal", assim como, do confronto com muito do que pode ser o inesperado, questionável, imprevisível, súbito, surpreendente, repentino, incerto, ambíguo, desafiante, dia após dia, especialmente, sendo um primeiro bebé.
Para além de todas estas questões psicossociais que descrevi no último parágrafo, há que ter em conta uma questão de extrema importância relacionada com a vivência de uma depressão pós-parto, é que esta última, é caracterizada como sendo uma doença. Sim, é verdade. Não é uma mania, um feitiço, uma vontade e/ou dificuldade da mulher/homem que a vivência, uma tara, ou algo que se desenvolve por a pessoa ter tempo a mais no seu dia-a-dia(?), uma preocupação passageira, ou uma tristeza sem fundamento ao olhar de terceiros. Não! Depressão, é mesmo uma doença, e que se encontra bem definida em bibliografia própria.
Sendo uma doença, urge de tratamento, e felizmente, há tratamento disponível!
E quando falamos em tratamento para a depressão pós-parto, felizmente, várias poderão ser as abordagens a utilizar já com várias evidências de sucesso.
Para facilitar a mensagem que vos quero transmitir, vou dividir as abordagens como farmacológicas (onde se incluem os fármacos - medicamentos) e as não farmacológicas (onde se incluem a psicoterapia, as sessões de acompanhamento emocional -gravidez e pós-parto - medicina tradicional chinesa, etc.).
Eu diria que ambas são fundamentais considerar aquando do desenvolvimento de uma depressão pós-parto, pois as farmacológicas abordam a doença ajudando a pessoa a sentir um bem-estar maior e menos ansiedade, a equilibrar o humor, por exemplo, e as não farmacológicas abordam a doença ajudando a pessoa a expressar as suas emoções, a diminuir a tensão física e emocional, a conhecer-se melhor, a lidar melhor com os desafios da chegada de um bebé, a trabalhar a rede de apoio social, etc. Diria até que considerando o quadro instalado de uma depressão pós-parto, as duas abordagens deveriam existir sempre, em simultâneo, de forma a acelerar o processo de tratamento e reabilitação.
Nas sessões de acompanhamento emocional, uma das questões que muito surge aquando do acompanhamento de mulheres com depressões pós-parto, são dúvidas sobre a medicação, quando estão para a iniciar, quando já a realizam e/ou quando estão a fazer o desmame, e uma das intervenções que está sempre latente nestes casos é o esclarecimento de todas as questões que possam surgir por parte da mulher e da família, com vista a aumentar a adesão à terapêutica.
Neste sentido, há vários momentos e dinâmicas que realizamos durante a sessão com vista a aumentar a sensibilização para o tema, mas em primeiro lugar está o esclarecimento de determinadas questões gerais que hoje também senti necessidade de partilhar com os leitores do blogue. Questões como as seguintes:
- Quando começares a tomar antidepressivos, respeita o período de aumento gradual da medicação que o teu médico/a indicou. É muito importante que assim seja porque o nosso cérebro precisa de se ir habituando, aos poucos, da introdução de novos elementos (medicamentos) que influenciam a comunicação entre as nossas células cerebrais (neurónios), o que à posteriori, tem impacto no nosso corpo físico, mental e emocional.
- Não esperes sentir efeitos imediatos da medicação (antidepressivos). Maioritariamente, só a partir das 2/3 semanas após o inicio da toma da medicação é que os efeitos esperados começam a surgir.
- Tomar antidepressivos não significa que tenhas de deixar de amamentar. Fala com o teu médico/a sobre o assunto. Se estás a amamentar, e queres continuar a fazê-lo, é possível.
- Cuidado com a leitura da bula! Sim, ela existe para ser consultada, mas nem tudo o que lá está escrito te irá acontecer. A bula fala em probabilidades, possibilidades, não em dados adquiridos para todas as pessoas que tomam determinado medicamento. Lê a bula com consciência, e se tiveres dúvidas, contacta o teu médico, ou contacta-nos.
- Efeitos como sonolência, dores de cabeça, náuseas, confusão mental, boca seca, tonturas, são os mais comuns a aparecer na fase da introdução gradual, e do desmame. Costumam ser transitórios com a continuidade do tratamento. No entanto, estes não se manifestam em todas as pessoas. Mais uma vez sublinho que são possibilidades.
- Da mesma forma que deves respeitar o período gradual de introdução da medicação, também deves respeitar o período gradual de desmame da medicação. Nunca se deve deixar de tomar um antidepressivo de um dia para o outro. O risco de teres uma recaída (pior) é muito grande.
- Se identificas um sinal/sintoma que te suscita dúvidas, entra em contacto com o teu médico/a. Se não for possível falar com ele, tens sempre a linha de Saúde24 como outra hipótese.
Apesar de serem questões gerais a considerar, penso que são questões importantes que não deves descurar aquando do inicio/fim da toma de antidepressivos. Se a necessidade de os tomar se coloca, atendendo ao quadro instalado de uma depressão pós-parto, então é porque é necessário para que possas tratar a depressão.
Pode não ter sido assim que imaginaste o inicio da maternidade, mas também não tem de ser assim que tem de continuar. Esta, é "só" mais uma pedra no teu caminho. Vais desviar-te ou vais livrar-te dela?
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