Conheceste alguém que passou por alterações emocionais na gravidez e/ou pós-parto?
Foi esta a questão que coloquei a várias pessoas com quem contactei na segunda-feira, durante a tarde, pelas ruas de Lisboa.
Desde que abri o Centro Mulher, Filha e Mãe que andava para tirar uma tarde para ir conversar com as pessoas que frequentam as ruas que envolvem o Centro, sobre saúde mental materna, e ontem foi o dia.
Levei uma folha para apontar respostas, uma caneta, flyers, cartões, coragem, alegria e determinação, e assim fui eu, a andar por Lisboa durante horas.
Inicialmente, enquanto andava, fui deixando as minhas inseguranças ganharem expressão no meu coração e na minha mente:
- Mas que loucura é esta?
- Será que alguém me vai ouvir?
- Vai tudo achar que eu vou pedir alguma coisa... e vou! Vou pedir tempo...
- Talvez seja melhor só entregar os flyers e pronto...
Mas não!
O que eu queria era mesmo conversar com as pessoas sobre o tema. De forma livre e descontraída.
O que eu queria era ler a expressão espontânea que as pessoas faziam quando as abordava.
O que eu queria era ouvir o que as pessoas tinham para dizer. Mesmo que desvalorizassem. E mesmo se o fizessem, de certo que seria uma boa oportunidade para as sensibilizar para o tema. E assim foi!
Vivi muito nessas horas a andar pelas ruas de Lisboa.
A maioria das pessoas esteve sempre muito disponível para me ouvir. Ficavam interessadas e muitas desconheciam o tema. Outras, simplesmente expressavam seriedade do inicio ao fim. Preferiam não responder. Outras, identificavam-se de alguma forma. E todas, receberam com agrado um cartão ou flyer do Centro Mulher, Filha e Mãe.
Para além das pessoas que iam a andar (aparentemente) de forma descontraída, também abordei pessoas em cabeleireiros, papelarias, cafés, centros de estética, jardins, esplanadas, floristas, e afins. O sorriso, a espontaneidade e a presença calorosa, foram sempre as principais ferramentas que levei comigo, assim como, a aceitação.
Aceitar que determinadas pessoas não queriam falar, responder, que coravam, que se interessavam mais, que preferiram ignorar ou que encolhiam os ombros e continuavam a andar, por exemplo.
Aceitar a rejeição é difícil, mas necessário para termos alguma saúde mental. A verdade, é que seja neste, ou em qualquer outro momento da nossa vida, várias poderão ser as vezes em que nos sentiremos rejeitados, ou que, o seremos de facto. Nem sempre vamos ser aceites. Nem sempre as pessoas vão identificar-se com o que somos/fazemos. Mas isso também não significa que estaremos necessariamente no caminho errado.
No final, fui ao café de sempre onde encontro com frequência uma equipa bem-disposta e que, desde que abri o Centro Mulher, Filha e Mãe, muita força me têm dado! Fui à Confeitaria Sá, onde o Sr. Carlos, que não gosta de tirar fotos, e o Diogo, que tanto lhe faz, aceitaram tirar uma foto comigo e registar o momento em que tomaram conhecimento de que amanhã, seria o dia mundial da saúde mental. Mas não foi só isso que aconteceu. Várias pessoas que estavam no café ouviram, e a conversa sobre o tema instaurou-se de uma forma alucinante. Nunca pensei que um "pequeno desabafo" desse origem a uma conversa tão produtiva e à troca de tantos contactos.
E já agora, têm de provar as queijadas de amêndoa desta confeitaria!
Tenho por certo, que vão querer voltar com frequência!
centro@mulherfilhaemae.pt