Crónicas da nossa Equipa Clínica - "Libertarmos Nós"*
“Não estás bem? Não estejas assim”, “Porque é que estás assim?”, “Não tens razão para estar assim”, “Não penses mais nisso”, “É um disparate sentir isso”, ...
Ao longo da nossa vida muitas vezes este é o feedback que recebemos quando estamos tristes, zangados, ansiosos,... No fundo quando demonstramos uma emoção que não seja alegria.
Parece quase que é proibido não estar feliz! Como se fosse possível estar sempre feliz.
Muitas pessoas, na educação transmitida pelos pais não aprendeu a lidar com a tristeza ou mesmo com a frustração, não aprendeu a “deprimir-se”, reprimindo sentimentos negativos, em vez de tentar compreendê-los e ao longo da vida apresenta dificuldades em lidar com tais sentimentos.
No contexto da gravidez e do pós parto esta dificuldade poderá tornar-se visível, conforme já foi expresso num post publicado aqui “(...) é "suposto" que as mulheres devam sentir-se felizes pelo facto de que tudo o que gira à volta da maternidade serem acontecimentos dotados de grande felicidade, alegria e bem-estar. As mulheres que não sentem essa "suposta" felicidade podem desenvolver sentimentos de vergonha, culpa, fracasso ou medo de serem estigmatizadas ou que lhes sejam retirados os filhos com receio de serem vistas como "más mães", não reconhecendo determinadas manifestações como sendo de valorizar para recorrer a apoio técnico especializado.”
Atualmente cada vez mais se compreende a importância de saber lidar com todo o tipo de emoções (um bom exemplo da mudança dos tempos é o filme “Divertida Mente”, o qual recomendo!). Cada vez mais tomamos consciência da importância do desenvolvimento da inteligência emocional e não apenas da intelectual.
Entenda-se inteligência emocional como a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos” (David Goleman, 1998).
Ninguém deseja estar triste ou ter ao seu lado alguém que esteja triste, porque possivelmente não sabe lidar com essa emoção ou tem receio de lidar, tem receio de ser “contagiado” ou de reforçar esse estado. Mas na realidade é tão importante estar triste, como estar alegre.
É não só importante saber lidar com cada emoção, como deixar que se sinta cada emoção e não negá-la ou minimizá-la, pois ao fazê-lo só vamos “adormecer” a emoção, mas a mesma um dia vai acordar e teremos de olhá-la de frente e abraçá-la.
Sim, abraçá-la! Pois é preciso receber qualquer que seja a emoção de braços abertos, ser compreensivo e sem juízos de valor escutá-la e aceitá-la, pois cada emoção tem o seu papel e só assim conseguiremos desenrolar os nós da vida.
*Crónica por Raquel Vaz (Psicóloga Clínica)