Depressão na gravidez e no pós-parto: no que consiste e como se manifesta?
Há pouco tempo uma leitora do blogue enviou-me o seu testemunho onde referia que “tanto ouvi falar em depressão pós-parto, mas parecia-me algo difícil de acontecer”.
Algo que me parece comum, tendo em conta a quantidade de mulheres com quem tenho contactado dentro deste âmbito desde que comecei o blogue.
A “depressão pós-parto” é uma doença que pode acometer mulheres quer na gravidez, quer no pós-parto. E é por este mesmo motivo que muitos autores referem que dizer “depressão pós-parto” acaba por estar mal dito, reportando-nos erradamente para um só período, não alertando na íntegra, para a fase em que a depressão pode ocorrer, e que neste caso, corresponde ao denominado período perinatal. Desta forma, dizer Depressão Perinatal é a forma mais adequada para identificar e descrever a doença.
Muitos dos casos conhecidos têm início nas primeiras seis semanas podendo durar em média de seis meses a dois anos. Mas não se deixem levar em exclusivo por estes períodos. Vários são os casos em que a depressão pós-parto começa a desenvolver-se cerca dos três, seis ou doze meses após o nascimento do bebé, por exemplo.
Vários são os factos que lhes estão subjacentes, embora a causa precisa da depressão ainda não seja conhecida. O que conhecemos sim, são alguns fatores de risco que nos permitem compreender de uma forma mais estruturada se a probabilidade de uma mulher desenvolver uma depressão perinatal é alta ou não. Independentemente da probabilidade de tal ocorrer, o facto de se engravidar e de se ter um filho são acontecimentos de vida significativos, que por si só, podem levar ao desenvolvimento de uma patologia desta dimensão.
Sabemos atualmente que de acordo com dados lançados pela Direção-Geral de Saúde, cerca de 10% das mulheres desenvolve uma depressão na gravidez e cerca de 12% a 16% das mulheres desenvolve uma depressão pós-parto e que a depressão na gravidez tem cerca de 40% de probabilidades de persistir após o parto.
São dados como este que nos mostram a quão significativa é esta patologia, não tendo ainda falado sobre muitos dos seus contornos.
Para muitas mulheres, desenvolver uma depressão perinatal implica lidar com sentimentos de irritabilidade intensa, ansiedade, fadiga, insónia, alterações do apetite, tristeza invasiva, falta de interesse ou interesse obsessivo no cuidado ao bebé, ou no desenvolvimento da gravidez, assim como com crises de choro frequentes, fortes sentimentos de culpa por se sentir que não se consegue dar resposta ao momento presente e/ou aos cuidados para com o bebé, sensação de desespero, ideias suicidas, entre outros. Umas mulheres podem ter várias destas manifestações, e outras só algumas. O curso da doença é diferente de pessoa para pessoa, não se manifestando sempre da mesma forma. Motivo pelo qual o seu diagnóstico também nem sempre é fácil de realizar.
Se repararmos bem, muitas das manifestações da doença poder-se-ão confundir com várias das manifestações de determinados períodos da gravidez e do pós-parto onde ter, insónias, cansaço extremo, alterações do apetite pode ser muito comum. Daí que, se este tipo de sinais e sintomas perdurar no tempo, interferindo com o bem-estar da pessoa, com a sua interação social ou com a sua forma de estar em relação a si e aos que a rodeiam, especialmente à gravidez e/ou ao bebé, é importante consultar um profissional de saúde especializado, de preferência com experiência na área da gravidez e da maternidade. Falo de enfermeiros (de preferência especialistas em saúde mental e psiquiatria e/ou em saúde materna e obstetrícia), de psicólogos, psiquiatras e médicos de clínica geral.
O tratamento da depressão pós-parto poderá passar por medidas não farmacológicas, mas também necessitará de medidas farmacológicas que poderão não interferir totalmente com a possibilidade de amamentação, algo que hoje já se tem conhecimento. Depende de uma série de fatores, nomeadamente do tipo de medicação que a mulher fará. Algo que só o psiquiatra ou o médico de clínica geral poderão definir.
No entanto, e independentemente da medicação que realizar, potenciar as possibilidades de recuperação acompanhando-a da realização de psicoterapia e/ou de uma outra qualquer atividade terapêutica que lhe faça sentido (por exemplo, meditação, jogging, acupuntura, reiki, etc.), é muito provavelmente mais de meio caminho andado para atingir resultados bastante satisfatórios neste âmbito.