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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Seg | 09.10.17

Estás a preocupar-te demais! Não vês que o bebé está bem?

Ana Vale

Nos diversos contactos com mulheres grávidas e no pós-parto, que vou tendo através do blogue, e onde muitas vezes são descritas passagens de vida onde afirmações como a que evidencio no titulo deste texto são bastante comuns, várias vezes me questiono sobre porquê, onde e quando é que as pessoas se deixaram de preocupar com as mulheres e homens nesta fase do ciclo de vida. Ou então, porquê, onde e quando o deixaram de o manifestar. 

 

E reparem que evidencio o papel da mulher e do homem neste texto, e não o da mãe ou o do pai. Pois embora estejam interligados, inseridos num fundo comum a uma mesma pessoa, constituem-se lugares diferentes e que de igual medida, mas de diferente forma, necessitam de ser nutridos e acarinhados. 

 

Os bebés são inquestionavelmente seres que só pela sua imagem apelam ao nosso contacto e dedicação. E há muito que isto é um facto conhecido e amplamente estudado.

Os  bebés precisam muito do amor, carinho, atenção e da envolvência de quem os cuida. E quem os cuida, por norma, são os pais. No entanto, também os pais necessitam de amor, atenção e envolvência de quem os rodeia. Possivelmente, mais do que em muitos momentos de suas vidas. Este, por norma, é o momento em que também os pais, que (por vezes) nascem quando nasce um bebé, precisam de apoio e orientação. Falo de amigos, de família, mas também falo da comunidade que os envolve e onde estão inseridos os profissionais de saúde com quem contactam, assim como, os vizinhos, os senhores dos cafés onde costumam ir, assim como, os do supermercado ou da mercearia, talho, mercado e afins.

 

post-partum-depression.jpg

 

 

Quando digo que precisam, acreditem que muitas vezes não é de forma declarada. Muitas vezes, os pais, precisam lá bem no seu íntimo que essa compreensão, apoio, orientação seja espelhada em diversos detalhes do dia-a-dia, mesmo que eles, não o verbalizem. Imaginem comigo, não acham que é difícil acabar de ter um bebé, e verbalizar que se precisa de ajuda, especialmente a nível emocional, porque não se sentem bem, ou porque não se sentem capazes, ou porque questionam continuamente a sua capacidade de cuidar? 

 

Qual acham que seria a resposta da maioria das pessoas que os rodeiam? 

Como é que acham que estes pais se sentem? A nascerem pais, e com estas dúvidas constantes na cabeça, e possivelmente desesperançados de algum tipo de resposta neste sentido?

 

Eu tenho uma ideia. 

 

Quando vos falo de apoio, compreensão e orientação, também vos posso dar alguns exemplos mais práticos.

Por exemplo:

  • Precisam que os "senhores dos cafés" os recebam como de costume, e não que questionem com frequência se os pais não deviam era estar em casa porque faz frio, ou porque o bebé precisa é de estar em casa e não sair (nos seus pontos de vista) considerando logo à partida que o bebé pode não estar muito confortável porque chora, ou porque simplesmente, assim o consideram (mas como é que eles sabem disto?! Em que é que se baseiam? Numa sabedoria popular? E porque não perguntam diretamente aos pais o que estes acham? Não seria esta uma forma mais simples de se mostrar essa compreensão em vez de se questionar a sensibilidade e o papel dos pais logo à partida? Digo eu...);

 

  • Precisam que as pessoas nos supermercados, na rua, nas lojas e afins, não fiquem fixamente a olhar quando veem um bebé chorar (Sabem... os bebés choram, e por vezes, os pais simplesmente ficam sem saber o que fazer/responder a este bebé naquele momento. Acontece. Ainda por cima quando todos os que os rodeiam resolvem fixar manifestamente o momento, expressando emoções que transmitem pouca confiança/desconforto de alguma forma. Por vezes, até os pais mais confiantes se sentem envergonhados nestes momentos. Mas é assim, na generalidade dos casos, faz parte do "conhecer o bebé", e do "conhecerem-se a si próprios enquanto pais deste bebé" pois este não nasce concomitantemente com livro de instruções na mão e/ou com uma previsibilidade comportamental estampada na testa. Sabiam?);

 

  • Precisam que os amigos e família respeitem a sua preferência de não haver visitas em casa nos primeiros tempos, assim como, que tenham alguma consciência de que se querem efetivamente ir visitá-los que é importante perguntarem a sua opinião, ou até, levarem o almoço/jantar e assim é menos uma refeição que estes pais têm de fazer. Ah! E se alguém ajudasse a passar uma roupinha a ferro? Ou a por uma ou outra máquina a lavar? Ou ajudasse a dar um jeitinho à casa? Ou ficassem, pelo menos, 10 minutos a tomar conta do bebé para estes pais irem tomar um banho, considerando por eles, minimamente decente? São só algumas ideias, mas podia dar-vos muitas mais!

 

pregnant-sad-woman.jpg

 

Bom, exemplos desta índole, não faltam! Mas não é só sobre isto que vos quero falar neste texto. É também, e especialmente, sobre o facto de haverem determinados momentos ao longo da gravidez e/ou no pós-parto onde os pais acabam por sentir maior preocupação em relação ao bebé. Seja porque o desejam há muito tempo e agora vão tê-lo nos seus braços e não querem que "nada corra mal", seja porque houve uma gravidez de risco difícil de se lidar, seja porque houve uma ecografia que demonstrou algumas possíveis alterações que posteriormente se vieram a verificar falsas, seja porque o parto não correu como o esperado, seja porque o temperamento do bebé não é o imaginado, ou por qualquer outro motivo. Seja pelo que for, existe uma preocupação, um motivo de dúvida, algo que poderá causar uma ansiedade crescente neste período, que por si só, já é muito delicado a nível emocional. 

 

A questão é, porque é que as pessoas teimam em desvalorizar este tipo de preocupações, se à partida, e ainda por cima quando declaradas pelos próprios pais, são motivo de ansiedade crescente e/ou até angústia associada em muitos casos? Porque é que optam por desvalorizar, focando-se no facto de bebé estar bem, não dando espaço a estes pais para se expressarem? Dizerem efetivamente o que sentem e porque o sentem? 

 

Porque é que é assim tão complicado? 

 

É difícil lidar com o sofrimento alheio. É difícil lidar com o próprio sofrimento em si. Pode ser verdade para muitos. Mas estes pais precisam deste apoio neste momento. Este bebé precisa que os pais se sintam apoiados neste momento. E daqui a alguns anos, ouvirão, possivelmente, um adulto a verbalizar que outrora, também precisou de se sentir mais apoiado.  

 

Já dizia Dalai Lama uma afirmação com que muito me identifico: 

 

"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro chama-se amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."

 

Portanto, o dia ontem já não podemos mudar. Podemos sim, aprender a viver com ele. O dia de amanhã, ainda não sabemos como será. Simplesmente perspetivamos, planeamos. Então, parece-me que o dia de hoje é perfeito para se começar a trabalhar neste sentido. E começando a refletir verdadeiramente sobre o tema, pode ser, definitivamente, um primeiro passo. Um passo muito útil para todos nós. 

 

centro@mulherfilhaemae.pt

3 comentários

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    Ana Vale

    09.10.17

    Caro Anónimo,


    Já fico feliz por não ter colocado numa mesma frase E relacionados os seguintes factos/conceitos: 


    "Arrependimento de ter um bebé" 
    "Depressão Pós-Parto" 


    De qualquer forma, lamento que a falta sensibilização de que possivelmente também carece, o faça comentar um texto desta índole de uma forma tão limitada a nível conceptual (e possivelmente, não só). 


    Aproveito também para o colocar ao corrente de que a intervenção perante uma mulher e família com depressão pós-parto não se limita em exclusivo ao psicólogo, embora seja sem dúvida, um profissional competente para trabalhar neste âmbito. 
    Informe-se em: www.mulherfilhaemae.pt
    E se considerar que o posso esclarecer em mais algum assunto, não hesite em contactar-me através do meu email: centro@mulherfilhaemae.pt ou através desta mesma via. 


    Cumprimentos,
    Ana Vale.
  • Sem imagem de perfil

    Anónimo

    11.10.17

    Boa resposta!
    O texto está ótimo, parabéns!
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