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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 09.10.20

Estás em casa com um bebé? Eis como cuidares da tua saúde mental!

Ana Vale

Estar em casa com um bebé pode ser desafiante em vários sentidos! 

 

Há um conjunto de rotinas que ganham uma nova dimensão, porque na verdade, quem acaba por estar no centro da prioridade é o novo elemento da família.

 

  • Rotinas de sono? Ficam logo em stand by! Há bebés que acordam de hora a hora, outros que acordam de três em três horas, outros que passado poucas semanas já têm um bom padrão de sono, e outros, que demoram anos até o regularizarem.  Por isso, a rotina do sono passa a ser em função das horas do bebé. 
  • Rotinas de alimentação? Nas primeiras semanas, muito difíceis! Até o bebé ganhar as suas rotinas, os pais muitas vezes andam a "navegar" ao sabor do vento e da vontade do bebé se alimentar, e muitas vezes, entre o tempo de mamar, arrotar, bolsar, acalmar e/ou preparar o biberão, dá-lo, e com surpresas na fralda à posteriori - e muitas vezes instantaneamente - se achávam que íam ter tempo para uma refeição mais tranquila, esqueçam! 
  • Rotinas de saídas sociais? Talvez, mas... nunca sem recorrer à check list do ovinho, fralda de pano, fraldas, pomadas, muda de roupa, alimentação extra (se necessário), chucha, estrutura do carro, bonecada e uma série de outros acessórios que vai depender da idade e das necessidades do bebé. Também sem nunca esquecer que o conceito de "descontrair" como outrora é utópico... o bebé vai chorar, tem o seu horário de alimentação, os sonos, as vontades de colo, de brincadeiras... e se já estiver a gatinhar ou a começar a andar? Não param (nem vocês...)! 
  • Rotinas? Sim..., aquelas que o bebé permitir, quando for possível, e se o trabalho em equipa conjugal funcionar bem! O cigarro à hora de sempre?  A série favorita? O jogging matinal? A ida ao ginásio? Bom... acredito que para algumas pessoas estas rotinas se possam manter MAS sob uma série de novas regras que só à medida que se vai conhecendo o novo elemento da família é que se podem identificar, compreender e tentar integrar. 

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Bem.. e na verdade, estas são só algumas das várias questões que se colocam nesta fase que (sim!) se pode revelar um verdadeiro reboliço de emoções, dúvidas e novos desafios! E daí que seja muito importante refletir sobre algumas estratégias que cada pessoa pode tentar integrar no seu dia-a-dia de forma a tentar colmatar, especialmente,a tendência para o descontrolo dos autocuidados e para o isolamento, que nesta fase, levam muitas vezes ao desenvolvimento de alterações emocionais: 

 

  • DORMIR! Este é o maior desafio para quem cuida de um bebé - dormir! - até porque, mesmo que as mães queiram dormir, muitas vezes o seu cérebro mantém-nas acordadas, ou num sono muito superficial, para poderem estar alerta para ouvirem os seus bebés. Contudo, é importante tentarem arranjar momentos - nem que sejam horas/minutos - no seu dia-a-dia para colmatarem a falta de sono noturna. Aproveitem os momentos em que o  bebé dorme para poderem dormir um pouco também. Têm roupa para passar? Loiça para arrumar? Esqueçam! Se precisam de dormir, então essa é a vossa prioridade! Se não tiverem um sono minimamente reparador, então a vossa capacidade de cuidar de vós e dos vossos bebés ficará, muito provavelmente, comprometida, assim como a vossa saúde mental. Estão a chegar ao vosso limite e não estão a conseguir arranjar tempo algum para gerirem o sono e o cansaço? Então é hora de acionar a vossa rede! - "Ajuda, precisa-se!". Preparadas? 

 

  • COMUNICAR! Este é outro grande desafio que que cuida de um bebé enfrenta. Parece simples, mas nem sempre assim se verifica. Muitas pessoas tendem ao isolamento social face às várias alterações/dúvidas que as acometem. São várias as emoções que surgem, e muitas vezes "à flor da pele" se mantém, o que torna esta comunicação mais difícil de gerir. Comunicar o que sentem com alguém com quem tenham confiança; Partilhar dúvidas e receios; Ouvir experiências de outras mulheres da mesma família, ou não, sobre parentalidade; Comunicar com o companheiro sobre formas de resolução de problemas diversas, mesmo que surja a discórdia; Comunicar com a família, mantê-los a par do desenvolvimento do bebé; E acima de tudo, ouvir-se a si mesma/o. Não ignorar a preocupação, o medo, a ansiedade, a tristeza, a irritabilidade, o choro fácil, a tensão, entre outros sintomas que muitas vezes espelham o sofrimento mental e emocional que se vive neste período de vida tão exigente. 

 

  • COMER! Com as rotinas tão aceleradas e tão diversas, alimentarem-se bem pode ser um grande desafio nesta fase. Optem maioritariamente por take away se não conseguirem confecionar refeições (e se tiverem essa possibilidade), ou por fazerem várias e congelar. Melhor ainda, se tiverem família e amigos que se disponibilizem a ajudar-vos na confeção de refeições nesta fase, não hesitem! Toda a ajuda é bem-vinda e isso não significa que vocês não são capazes (por exemplo...). Significa (sim!) que estão numa fase de reorganização da vossa dinâmica familiar e que precisam de ajuda. Ajuda essa que vos pode facilitar (e muito!) a passagem por esta fase tão exigente. Ah! E aquele pedaço de bolo de chocolate que tanto gostas? Agora pode ser um bom momento para pedires a alguém para te trazer, ou quem sabe, saíres para ires comer! Seja este, ou qualquer outro tipo de prazer alimentar que tenhas, aproveita para lhe dar asas neste momento (sem cair em excessos, claro!). Vai ser como uma tarde quente de verão à beira-mar. 

 

  • EXERCITAR! Estás sempre a tempo de fazer exercício físico ajustado à fase em que te encontras e que muito te pode ajudar a sentires-te melhor contigo mesma/o! Ires passear e levares o bebé no porta-bebés ou no carrinho, fazeres uns exercícios de yoga em casa ou num espaço apropriado com o teu bebé, fazeres uns exercícios de meditação ou pilates enquanto o bebé está a dormir a sesta, por exemplo. Importante é, se possível, aproveitares para criares a tua rotina neste sentido também. Por exemplo, depois do bebé acordar e de conseguires tomar o pequeno-almoço, porque não um passeio pelo parque ou pela praia, a dois? E melhor ainda, convida aquela amiga que já não vês há algum tempo e/ou que está de folga e que certamente terá todo o gosto em fazer exercício contigo e com o teu bebé!

 

  • DIVAGAR! Porque cuidar de um bebé também é uma tarefa ultra exigente porque o foco está praticamente sempre.... no bebé e nas questões que o rodeiam! A alimentação, o sono, os primeiros sorrisos, as conquistas, as dificuldades, a sopa que não comeu, a birra que fez,  a consulta que está para vir, o dente que está a nascer, a creche que vai iniciar, etc., etc...Ou seja, dia-a-dia de bebés igual a (maioritariamente) pensamentos e temas sobre bebés. Assim sendo, sempre que possível divaga e navega noutro tema! Se conseguires, lê um livro, revistas, aquelas publicações nas redes sociais que podem ter a ver, ou nada a ver, com a fase que estás a viver atualmente. Lê para te identificares, para te atualizares, para divagares. Vê um filme, ou dois, ou três... ou nem um, só metade o primeiro, mas vê! Ah! E sai para levar o lixo à rua, nem que seja a única saída que tenhas no dia, mas vai saber-te que nem ginja! Acredita ;)

 

  • CONHECER-TE! Esta é uma fase em que muito possivelmente te vais sentir sugada/o. Muito do que és é absorvido pelo teu dia-a-dia com o teu bebé, e é natural que assim o seja [já referi que esta é uma fase muito exigente...?]. Especialmente, quanto mais novo for, mais absorvente será. Por isso, aconselho-te a tirar os momentos possíveis para te conheceres melhor. Certamente que estás a passar por uma fase em que estás a questionar-te tanto, como a aprender em barda, e como tal, tira tempo para te conheceres a ti mesmo/a e asborveres todas essas novas aprendizagens sobre ti, sobre o teu novo papel e sobre o teu bebé. Ouve o teu corpo, a tua mente, o teu coração. O que te dizem? Esperavas reagir daquela maneira naquela situação? Esperavas crescer desta forma? Como te vês atualmente? Sentes-te no teu limite? Com quem sentes que podes conversar? Não te ignores por um segundo. Podes não conseguir dar-te colo no momento ideal, mas não deixes para amanhã o colo que te podes dar hoje. Sim, porque em primeiro lugar, tens de te dar colo a ti. Olhar para ti, e teres-te em conta, é uma excelente forma de te considerares, de te respeitares, de te dares colo, amor. Aquele que muito precisas. E se assim for, é meio caminho andando para tudo isto ser refletido no teu bebé e nos cuidados que lhe prestares dia após dia. 

 

É claro que todas estas dicas são gerais. Pensando em todas as mulheres que tenho conhecido neste âmbito, tenho a noção de que algumas seriam mais ajustadas para umas do que para outras. Contudo, se o objetivo é consierar cada caso em particular, então sugiro que optes por um acompanhamento individual. Esclarece as tuas dúvidas com um profissional especializado e obtém o apoio que necessitas, se achares que faz sentido neste momento. 

 

Acima de tudo, não passes por esta fase de forma isolada e pede ajuda, se for o caso. 

 

mulherfilhamae@gmail.com