Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Qua | 15.04.15

Há coisas para as quais ninguém nos prepara. #1

Ana Vale

Enquanto passei por aquela fase, ajudou-me imenso, escrever.

Encontrei nas várias conjugações verbais e sentimentais, um refugio mental e emocional, que me ia ajudando, pouco a pouco a voltar até mim.

Sempre gostei de escrever, mas nunca pensei que se chegasse a tornar um verdadeiro refúgio. Uma constante. 

Chegou a uma altura que começou a ser quase que automático: chegava a primeira lágrima, e lá alcançava, angustiantemente, o meu caderno. E assim, escrevi, não uma, duas ou três, mas, setenta e três páginas, do mesmo.

Setenta e três páginas repletas de frases, pensamentos, dúvidas (muitas dúvidas), emoções, sentimentos e atitudes que descreviam muito do que eu conseguia transcrever verbalmente sobre o que intrinsecamente, me controlava e sentia. Aquela minha, nova e estranha forma de estar, desde que tinha sido mãe. 

 

Depois destes últimos dias, e com o conhecimento de tantas outras histórias, senti que tinha de dar um pouco mais de mim, e lembrei-me de dar mais um passo na direção desta luta e transcrever-vos, o que está escrito na primeira página do meu caderno, que tão solidamente me acompanhou.

E querem saber uma pequena curiosidade banal e coincidente? Imaginam qual a frase que marca a capa dura do meu caderno? 

 

"Being a Woman"

 

 

 

04.01.2015 - No Cadeirão do Quarto da Madalena.

 

Há coisas para as quais ninguém nos prepara...

Estou cansada, não exausta.

Sinto-me derrubada, triste, abalada, só, num barco à deriva no meio de algures. Longe, e só. E Há tanta gente à minha volta..

Amanhã fará uma semana que o meu pequeno rebento nasceu [e que coisa mais maravilhosa e perfeita que tive a oportunidade de "ter" e conhecer]. E hoje, faz quatro dias que verto consecutivamente rios de lágrimas, numa qualquer altura do dia, sem parar.

É tudo tão antagónico, estranho, duro e forte, emocionalmente.

Há coisas para as quais ninguém nos prepara...

Quem me é próximo e me ama, sufoca-me, magoa-me. Quem me é próximo e me ama, faz-me falta. Quem me é próximo e me ama, não compreende. Quem me é próximo e me ama, nem sempre está presente. Já disse que tudo isto é duro?

O que faço? Por quanto tempo continuarei assim? Quanta mágoa ainda me aguarda? Sinto-me desfeita em milhares de pedaços, e quando eles se juntarem, se juntarem, sinto que não voltarei a ser a mesma. É suposto? É natural?

Há coisas para as quais ninguém nos prepara...

Não quero pisar o risco, mas também não sei lidar com isto. Alguém tem a fórmula?

Quero o meu canto, quero o teu abraço, quero o teu amor, quero a tua companhia, quero sair, quero ficar, quero desaparecer, quero falar, quer entender, quero ultrapassar, quero cuidar, quero o meu sossego, quero voltar a sentir-me plena e feliz! Quero estar bem comigo mesma.

Quantas pessoas vivenciaram isto? 

Porque é que ninguém fala sobre o assunto?

É assim tão complicado falar sobre o que é menos positivo?

Falta frontalidade, realismo, partilha e assertividade! A quem? A todos! A quem é e não é próximo, a quem já passou e não partilhou, a quem viveu e escondeu, a quem não compreendeu, a quem  sentiu e não se despiu.

Eu sei. É preciso ter coragem, força e vontade. Mas não é mais simples viver de acordo com a realidade?

É duro. Há coisas para as quais ninguém nos prepara.

 

P1090403trabb22.JPG

 Eu e a Madalena, no seu segundo minuto de vida extra-uterina.

 

 

7 comentários

Comentar post