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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

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Sex | 22.05.15

Histórias que dão a cara por esta causa #4 - "Sofri muito com a ausência de apoio durante o Baby blues"

Ana Vale

Ainda mal tinha acabado o meu comentário à nossa história que publicaram na plataforma Maria Capaz (que podem ver aqui), e a Dora já tinha feito um comentário que não me esquecerei.

 

Ela dizia:

Que bom ter lido esta partilha pois quando falo destes mesmos sentimentos e angustias acham que eu sou um et. O meu marido nunca compreendeu ainda hoje diz que eu fazia teatro para chamar a atenção. As minhas feridas foram mto fundas, tão fundas que após um ano ainda não cicatrizaram, ainda sangram....
Este estado levou.m a decidir que não quero ter mais filhos quando eu amo ser mãe e ser mãe foi o que sempre quis. Mas doeu muito, ainda dói principalmente porque não tive ninguém para me ajudar foi sempre tudo as minhas costas casa, bebé, marido e ainda tive de ouvir gente que me veio visitar gozar comigo dentro da minha própria casa porque eu estava 40 min a dar de mamar em vez de me aconselharem pois eu era inexperiente era tudo tão novo para mim.... ao escrever este pequeno relato as lágrimas ainda me saltam pelos olhos porque ainda dói muito e se estou aqui neste casamento, nesta casa é pela minha filha apenas por ela porque os outros não reconhecem a minha luta para estar de cabeça erguida todos os dias....
Um grande beijinho a todas as marias capazes
Dora

 

E eu, logo a seguir respondia valorizando a sua coragem em, não só relatar o que tinha sentido, como o facto de o conseguir verbalizar/escrever abertamente. 

Senti que tinha encontrado ali mais uma mulher que, querendo ou não, dava a cara por situações como as que temos vindo a relatar aqui.

Propus-lhe que escrevesse a sua história mais detalhada para o blogue e assim foi. Escreveu, detalhou, e penso que colocará o coração aos saltos de qualquer pessoa que leia e integre a sua história. 

MUITO OBRIGADA DORA!

 

 

 

E vocês, também querem dar, mesmo sem mostrarem, a cara por esta causa, escrevendo-nos a vossa história?

Lembrem-se que quantas mais formos, mais força este assunto terá, e maior contributo daremos à estruturação de apoio para o mesmo!

Enviem-nos as vossas histórias para o seguinte email mfem2912@gmail.com quando se sentirem confortáveis!

 

E agora, preparados para lerem a história da Dora?

 

Olá Ana

Deixo aqui o meu testemunho mais pormenorizado, publique como quiser não tenho qualquer problema em dar a cara, pois mesmo que isto só me acontecesse a mim não teria.

Ao fim de 41 semanas de gravidez e uma barriga gigante á 01.00H la fui eu para a maternidade perdida de dores mas muito feliz.

Não fui a correr mal me deu a primeira contração, esperei, sabia o que tinha de fazer, quando estas começaram a ser com 5min de intervalo la fui eu com a cabeça pousada no tablier o caminho inteiro dizendo ao meu marido, que tremia e suava de nervos," vai devagar porque eu não aguento as dores". Tive um atendimento fantástico na maternidade, trataram - me com todo o carinho e cuidado, ao fim de 11h nasceu por cesariana a minha filhota. Meus Deus que linda..... a primeira coisa que pensei foi " se não a tivesse sentido sair de mim ia pensar que não era minha, ela é tão linda". Quase explodi de alegria. O meu marido parecia um menino a chorar quando lhe pegou ao colo pela primeira vez, ainda estávamos no recobro. Tudo corria bem apesar das dores da cirurgia que tinha ate que, ao fim de 24h foi diagnosticada icterícia á B e eu fiquei para morrer porque aquilo que é tão comum nos bebés pode não ser assim tão linear dependendo do grupo sanguíneo, brotaram aí as primeiras lágrimas descontroladas dos meus olhos. Mas aguentei firme não mostrei a ninguém o meu descontrolo apenas a minha preocupação com a B. No terceiro e ultimo dia de internamento não aguentei mais, tive uma sra crise de choro, em silencio chorei desesperadamente sem saber porquê, fui ao ginecologista numa sala ao lado da enfermaria onde eu estava e mal o medico olhou para mim disse - me bom dia e um "você não está bem" eu desabei, chorei perdidamente enquanto ele me examinava a costura e eu disse - lhe entre soluços " esta tudo bem com a costura? vai dar - me alta? eu ja não aguento mais estar aqui quero ir para casa." Ele responde " são as hormonas, por mim pode ir, consigo esta tudo bem agora se os valores hepáticos da bebé não normalizarem ela tem de ficar...." Pior eu fiquei.....
Felizmente tivemos altas as duas e eu achei que ao chegar a casa, tomar um banho, vestir o meu pijama e dormir um pouco tudo iria passar,mas não foi assim.
Tudo se agravou devido á privação do sono, as dores no peito ( os meus mamilos gretaram ) e as dores da cicatriz que me limitavam drasticamente os movimentos, mal consegui andar, foi assim durante 2 longos meses.
O meu desespero psicológico era tanto que tenho lapsos de memoria dessa altura.
Chorava desesperadamente, sem motivo, mal a minha filha começava a chorar, o meu marido perguntava - me " porquê que estas a chorar? " e eu respondia  - lhe " não sei". Até hoje ele acha que era teatro para chamar a atenção.
Nunca tive ninguém para me ajudar com a casa e com o bebé, fui sempre sozinha para tudo, o meu marido pouco ajudou a única coisa que fazia era dar banho á B porque eu não podia estar dobrada por causa da dor da cicatrização da costura.
Um dia liga - me um medico amigo, que é meu medico de família, para saber como eu estava após a cirurgia(ainda não havia um mês após o parto) e eu desato a chorar ao telefone e digo - lhe "ajuda - me por favor, não aguento mais este estado acho que estou a entrar numa depressão" ele responde - me prontamente " amanha quero - te no meu consultório sem falta, agora acalma - te porque a bebé sente a tua instabilidade, se precisares liga - me.... força pequenita"
Ele explicou - me o que eu ja tinha lido, nada era novidade apenas o que eu sentia.
Este estado ainda não passou na totalidade ainda me sinto frágil, ainda brotam lágrimas pelos meus olhos quando relembro esta fase, quando as cicatrizes ainda mal fechadas sangram, ainda doi.
Escusado será dizer que esta fase afectou todas as áreas da minha vida, principalmente o meu casamento, criou - se um foço entre mim e o meu marido, as coisas não são fáceis mas fazemos um esforço para que resultem pela felicidade da nossa filha. Por ela e apenas por ela não mando tudo pras urtigas.
So gostava de dizer mais uma coisa neste meu extenso relato, a todas as recem mamas que como eu tiveram a infelicidade de falarem e ate receberem em suas casas pessoas que as diminuem enquanto mães e até lhes dizem indirectamente que não sabem ser mães, NÃO OUÇAM.
Eu fui alvo dessa gente mal intencionada mas felizmente encontrei uma "bíblia" que me ajudou a perceber que afinal estava muito certa na forma como tratava e amamentava a minha filha e fez de mim uma mãe segura chama - se Pergunte ao Pediatra escrito pelo Dr. Carlos Gonzalez, um pediatra catalão.
Aguentei tudo isto, aguento ainda a dor que me assalta pela minha filha e por ela todos os dias levanto a cabeça e sigo em frente.....

Espero que a minha experiencia ajude e obrigada Ana por me dar esta oportunidade.
Com carinho
Dora

 

 

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