Na sequência do texto que escrevi sobre o Porquê da desvalorização da Depressão na Gravidez e no Pós-Parto, foram algumas, as mulheres que falaram sobre as suas experiências e opiniões relativamente ao tema.
Uma delas foi a Ana, que também nos permitiu publicar aqui um pouco da sua história dando ênfase a um aspeto fundamental no que toca à passagem por qualquer afeção no âmbito da Saúde Mental no pré e no pós-parto, e que já muito se falou por aqui - A importância do apoio do companheiro e restante família nesta fase. Foi este apoio que amparou em muito a Ana, e foi este apoio que a mesma aqui também evidência como fundamental.
Hoje, trago-vos um testemunho curto, mas muito elucidativo sobre a vergonha que persiste quando se passa por uma situação como uma depressão pós-parto, sobre a importância do apoio do companheiro nesta fase, e acima de tudo, sobre mais uma mulher que se encheu de coragem para dar a cara e demonstrar como situações destas existem e persistem e como se torna fundamental a expressão escrita e prática de mais uma realidade menos positiva no inicio da maternidade.
Hoje trago-vos o testemunho da nossa querida Ana. E vocês, também se querem encher de coragem e enviarem-me o vosso testemunho? Não hesitem!
centro@mulherfilhaemae.pt
"Acho que vergonha é um sentimento sempre presente na depressão pós parto. Pelo menos foi assim no meu caso. Tinha vergonha de dizer a alguém que não estava a aguentar, afinal, tínhamos tudo para estar felizes, uma bebé saudável que dormia e comia bem, condições sociais e económicas fora de serie. Não tinha coragem de falar sequer nisso, com pessoas que eu sabia terem passado bem pior que eu. Quando falei, comecei por minimizar os sintomas, mais uma vez por vergonha e por medo de me rotularem má mãe. Já estava no ponto de rotura e ainda assim não queria expor a verdadeira dimensão da depressão. Com tratamento, que ainda continua, melhorei e estou no bom caminho. Fui eu que em ultima instancia desvalorizei a minha depressão. Aqui o papel do pai, dos avós, do circulo mais chegado foi muito importante para me tirar da espiral descendente. Estarmos todos bem informados e preparados, porque acontece (e não é raro), é essencial.
O meu marido demorou a perceber a situação. Também ele teve de lidar com a avalanche de sentimentos que é trazer uma criança ao mundo. Mas quando percebeu, transformou-se no meu rochedo, e hoje lutamos juntos contra a minha depressão e contra os comentários, opiniões e influencias menos felizes que vão aparecendo.
Hoje, o meu marido é um verdadeiro advogado da causa, com amigos pais ou futuros pais para que as suas famílias não passem pelo mesmo. Estou tão grata e tão orgulhosa, espero que estes pequenos passos possam fazer diferença. Não faz mal falar disto. Pode não ser confortável mas faz bem, faz parte do processo. Não tem de ser tabu, nem para Mães nem para Pais."