O Quase.
Enquanto adolescente tive uma grande amiga que nunca esquecerei. É daquelas pessoas que nos marcam, tocam e ensinam (muito!).
Uma vez, num dos meus dias menos bons, a melhor forma que ela arranjou para me animar e dar-me força para continuar, foi fazer-me ler este texto e refletir sobre o mesmo.
Também nunca me esqueci deste texto. Tal como ela, marcou-me, tocou-me, e ensinou-me.
Hoje voltei a lembrar-me deste texto - lembro-me dela e deste texto com muita frequência - e da importância que tem não se ser cobarde e ter coragem para se ser feliz, da importância de contestar uma vida morna, de suspeitar do meio enquanto virtude, da importância de acreditar em mim e de gastar mais tempo a realizar do que a sonhar. São passagens que, embora descritas neste texto, caracterizam-se como algumas das minhas maiores convicções às quais pretendo manter-me fiel.
Gostava de um dia poder voltar a abraçá-la, assim como gostava de não ter de me recordar com tanta frequência destas convicções, pois só significa que algo ou alguém, as está a colocar à prova. Mas parece-me a mim, mesmo jovem e ainda com tanto por aprender, que faz parte.
Deixo-vos com este maravilhoso texto de Luís Fernando Veríssimo - Quase - que vale mesmo MUITO a pena ler!
Concordem ou não, mais importante, é refletir.
Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para se ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planeando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.