O que é ser mãe?
Eis uma questão complexa que me comecei a colocar há alguns anos atrás.
Na verdade, é uma questão que imagino que possa ter uma multiplicidade de respostas subjacentes. Tantas, quanto a quantidade de pessoas que se possam ter colocado a pensar neste assunto. Nem que seja só por alguns momentos.
Podíamos começar pelo óbvio, que é, uma pessoa que tem, pelo menos, um filho? Alguém que teve um bebé? Alguém que vive a experiência da maternidade na primeira pessoa? Mas eu iria um pouco mais além. Até porque, sem dúvida de que, este tema assim o merece.
Ao longo dos últimos anos, e com a experiência das sessões de acompanhamento emocional, esta questão tem ganho outros contornos, outro tipo de reflexões da minha parte, e tem-me levado a pesquisar mais sobre o tema. A transição para a maternidade, está claro que é um tema que me fascina, muito estudado sim, mas ao mesmo tempo, ainda com tanto por desvendar e partilhar. Passar claramente do papel para a prática, da investigação para as comunidades, de informação para sensibilização, é algo de que este tema carece, na minha opinião.
Tornar-se mãe, caracteriza-se por ser uma transição que envolve um conjunto de dimensões percecionadas, ou não, pela própria e que influenciam fortemente a mulher e o mundo que a rodeia. Algo que é asseverado por Mercer (2004), que nesta sequência, sugeriu o emergir do conceito “tornar-se mãe” que significa “a transformação e o crescimento da identidade materna”. Este conceito implica muito mais do que o cumprir de um papel. Integra de igual forma a aprendizagem de novas competências e a ampliação de confiança em si própria à medida que enfrenta novos desafios nos cuidados com o respetivo filho.
Mas apesar de elucidativa e fundamental enquanto base teórica que sustenta a prática/aprendizagem/reflexão de tantos profissionais nesta área, não será esta mesma conceção, e tantas outras semelhantes relacionadas, um pouco limitativas também?
Quantas são as mulheres que iniciam o seu processo de transição para a maternidade quando refletem sobre essa mesma transição, quando começam a desejar passar por esse processo, quando discutem em casal que chegou a hora/o momento de dar este passo, quando tentam engravidar, e nem sempre conseguem quando/como esperado, ou mesmo, muito mais lá atrás, naquela altura da infância em que brincar aos pais e às mães tinha tanto de 'engraçado', como de fundamental para o desenvolvimento das bases da parentalidade, nomeadamente, do "tornar-se mãe". Tudo isto produz influência neste processo, todos estes momentos contam. E assim, "tornar-se mãe" poderá ter muito mais da história individual de cada mulher e de uma lógica de desejo, do que de um modelo de família nuclear tradicional, como no passado, ou mesmo, do simples ato/representação de ter um filho nos braços.
Quando é que uma mulher se sente mãe? E quando é que se torna mãe? Será a mesma coisa?
Quando é que te sentiste mãe?
É interessante ouvir a pluralidade de respostas a esta última questão. Até porque na sua génese, estão muitas das representações e vivências da mulher. Estão "escondidas" muitas das suas formas de ver o mundo, e de ver o mundo da maternidade num determinado momento.
Será que olhar um bebé, ou antes disso, imaginá-lo, faz com que a mulher se sinta mãe? Será que é o tal amor incondicional, será que é o ato de cuidar, ou tudo junto e mais alguma coisa?
Será que uma mulher se sente mãe porque se apaixonou à primeira vista pelo seu bebé? Porque cantou para o seu bebé enquanto permanecia no seu ventre? Porque o desejou desde muito cedo? Porque o deseja, e não tem? Será que se sente mãe, sem desejar e/ou sem estar apaixonada pelo seu bebé? Qui çá!
É nas vivências únicas de cada mulher, que encontramos a resposta a estas questões, e para cada uma delas.
Aproveitando esta reflexão que me apeteceu partilhar convosco, relembro um texto que partilhei há alguns anos de uma mulher que jamais esquecerei, sobre o que era, para si, ser mãe - Ser mãe.
E na semana em que se comemora o dia mundial da saúde mental (10 de Outubro), faz-me sentido voltar a apelar a quem possa ter interesse em saber mais sobre tema que reflita sobre a importância de cuidarmos da nossa saúde mental perinatal partindo desta breve reflexão sobre o que é ser mãe?
Passar pelo processo de construção da identidade materna, pode levar a mulher a experiênciar desequilíbrios emocionais na gravidez e/ou no pós-parto, podendo sentir, maior preocupação, ansiedade, irritabilidade, tristeza, insónia, falta/excesso de apetite, perda de energia física e emocional, perda de confiança e autoestima, diminuição da capacidade de concentração, vontade de se isolar, estar obsessivamente focada no bebé e na sua segurança e higiene (por exemplo), ou o oposto, sentir medo de estar sozinha com o bebé e/ou de cuidar dele, sentir culpa por considerar que não é boa mãe o suficiente, entre outros tantos...
Passar por todas as emoções acima identificadas poderá ser naturalmente decorrente do momento presente afeto à transição para a maternidade, contudo, quando se torna numa constante, dia após dia, e quando traz dor emocional associada, poderá ser difícil lidar com esta realidade, acentuando as dúvidas, medos e inseguranças subjacentes.
Se é assim que te sentes, não hesites em tirar alguns minutos do teu dia para refletir sobre esta questão e para pedir ajuda o mais rapidamente possível.
Lembra-te que, certamente, não estás sozinha, e que a saúde mental na gravidez e no pós-parto, importa!
Questões: centro@mulherfilhaemae.pt