Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 30.10.15

O sentimento de amor.

Ana Vale

 O tema de hoje levanta imensas interrogações, porque é bastante controverso, apesar de estarmos certos de que amamos.

Claro que gostamos das pessoas que nos são mais queridas, mas amar é outra coisa. A esmagadora maioria das pessoas acha que o seu sentimento pelo parceiro, pela família, pelos amigos e pelos filhos é de amor. Mas que amor é esse? Ignoram essas pessoas que a energia que rege o universo é, precisamente, a do Amor, algo bastante diferente do que sentimos habitualmente por essas pessoas. De facto, existe uma diferença entre aquilo que denominamos “amor” e esta energia universal.

 

 

O sentimento a que damos o nome de “amor”, na maioria das vezes, é ínfimo comparado com essa energia que tudo permeia. E denota um comportamento de interesse por parte de quem o tem. Se a outra pessoa tem qualidades semelhantes às nossas (é muito parecida connosco), se nos apoia, se nos obedece, se é “bonita”, se tem palavras agradáveis, se pertence ao nosso grupo, etc., temos tendência para gostar dela, considerá-la “amiga” e “facilitar” certas coisas. Caso contrário, a nossa atitude é de desconfiança, pelo menos temporariamente, e não é raro ficarmos com um “pé atrás”. Ora o Sol quando nasce ou se põe, é para todos. Mesmo que haja nuvens, isso não o impede de distribuir a sua luz e o seu calor a todas as formas de vida. Não “pensa”, como nós, se a pessoa é simpática ou não. Independentemente da postura desta (até pode ter cometido um crime) existem sempre dias e noites. O Sol não nos julga. Nós é que determinamos o nosso futuro de acordo com as nossas opções a todo o momento.

Portanto uma educação esclarecida conduz os nossos filhos a opções muito mais amplas do que um amor somente pessoal, o qual é apenas um preliminar, um “ensaio”, desse sentimento muito mais amplo que denominamos de “amor”.

 

 

Para muitos, este conceito é manifestamente estranho, dado nunca terem experimentado mais do que uma fugaz paixão e a ideia de um amor mais amplo, continuado, de características universais, que não obedeça ao tempo e às convenções estabelecidas, nem sequer lhes passa pela cabeça.

 

No entanto, é indubitável que os seres maiores que passaram pelo planeta e deixaram a sua marca em processos sociais que alteraram a nossa maneira de pensar, de sentir e os nossos procedimentos, viveram um sentimento muito mais alargado do que o amor por uma só pessoa. Já não nos referimos aos grandes avataras, mas, por exemplo, aos nossos conhecidos Mandela, King ou Gandhi, para já não apontarmos do exemplo de Madre Teresa. Todas estas pessoas foram capazes, nos últimos tempos, de sobrepor o interesse da comunidade ao seu próprio interesse, dilatando a ideia de amor pessoal. E há já mais de 2 milénios veio um ser dizer à humanidade, para amar-nos uns aos outros. O mesmo ser falava em amar mesmo os nossos inimigos.

 

Quer isto significar que os nossos sentimentos podem abranger apenas daqueles que nos rodeiam ou ir até à colectividade onde estamos inseridos, e mais além, sem que se extinga por isso. Caso eduquemos as crianças numa atitude sectária relativamente ao mundo, de amor limitado, de consciência curta, tanto em termos de poder financeiro, como de dogmas religiosos ou ideológicos, como de cor da pele ou de raça, etc., jamais poderemos aspirar a um mundo melhor. E isto começa bem cedo, porquanto os nossos medos, a nossa incompreensão relativamente às diferenças, a nossa ausência de solidariedade, impregnam a vida daqueles que convivem de perto connosco, sobretudo os mais pequenos. Está na altura de ensinarmos algo mais vasto, impessoal.

 

 

Amar não se resume, pois, a sentir a falta de alguém ou a acharmos “queridos” certos gestos da pessoa. É bastante mais do que isso. Implica um dar sem aguardar determinado procedimento em contrapartida, aliás sem estar à espera de nada, é por isso existe um “amor desinteressado” e um outro que não o é.

Habituemos então as crianças, desde que as concedemos, à possibilidade de um sentimento amoroso cada vez mais alargado. Isto é altamente positivo para a seu desenvolvimento e proporcionará uma sociedade integrativa que todos beneficiará. Quando o nosso sentimento de amor se limita aos familiares, ou ao pequeno círculo das nossas amizades, é a maior parte dos seres humanos que fica excluída. Esta redução da nossa família humana é fictícia.

 

 

Texto escrito por José Mendes