Há mais de um ano que esta leitora me enviou um email a descrever a sua passagem pelos caminhos da depressão pós-parto. Publiquei o seu testemunho na rubrica Histórias que dão a cara por esta causa #14 - "cheguei a um ponto de ansiedade tal que sentia que só queria morrer".
Durante este ano fomos mantendo o contacto, e a respetiva foi-me contando como tem sido a sua experiência em termos de recuperação da depressão pós-parto que lhe foi diagnosticada. Cada vez que contactamos é sempre uma agradável surpresa para mim compreender tudo o que tem feito por si, e os bons resultados que está a ter. Há algum tempo desafiei-a a escrever um pouco sobre a sua recuperação para partilhar com quem nos lê, e senti desde logo que foi um desafio aceite com grande entusiasmo da sua parte.
Assim que sentiu que foi o momento mais confortável para si, não hesitou em enviar-me um email a contar-me como tem sido essa experiência nos últimos 13 meses, e hoje, partilho convosco a sua viagem, que felizmente, está próxima de ter um final bem feliz!
Enviem-me também as vossas experiências de recuperação da depressão pós-parto. De certo que existem por aí muitas histórias semelhantes à desta leitora. Enviem-me email para: centro@mulherfilhaemae.pt
"Passados 13 meses e meio após o nascimento da minha filha e 11 meses e meio após o diagnóstico de depressão pós-parto, sinto-me feliz, mais feliz do que alguma vez fui. A DPP veio "obrigar-me" a olhar, uma vez mais, para dentro de mim e a descobrir-me. E este processo de auto-consciência tem sido maravilhoso. Custoso, desconfortável, mas imensamente rico em aprendizagens.
Aos 2 meses de ser mãe, numa espiral dolorosa de ansiedade, angústia e exaustão, procurei ajuda psiquiátrica. Comecei a tomar medicação e o resultado surgiu logo após 2 semanas. 6 meses após o tratamento exclusivo com a medicação senti que o meu corpo tinha reencontrado algum do seu equilíbrio físico e hormonal e a minha cabeça havia percebido o que era a DPP. No entanto, o coração ainda apertava, a culpa inundava-me, o medo de ter deixado sequelas emocionais na minha filha estava sempre presente. Precisava de entender a depressão com o coração e fazer as pazes comigo mesma.
Procurei apoio na psicoterapia (com recurso à hipnose) e no shiatsu (massagem terapêutica). E tem sido a conjugação destas 3 ferramentas que me permitiu embarcar nesta viagem de descoberta, de cura e crescimento. Como já te disse Ana, sinto que finalmente consegui agarrar a vida nas minhas mãos e seguir aquilo que me dá prazer, me apaixona e que me traz significado.
Amo muito a vida, a minha filha, a minha família.
Obrigada por alimentares este espaço de divulgação, partilha e reflexão acerca das inúmeras experiências, menos positivas, relacionadas com a parentalidade. Espero que, aos poucos, as pessoas comecem a falar e a percepcionar estes temas com a mesma naturalidade com que se aborda, por exemplo, os cuidados a ter com o bebé ou as possíveis dificuldades com a amamentação. Ninguém nunca estará preparado para aquilo que vai viver quando se torna mãe/pai, mas é possível e desejável que saibam que estas dificuldades poderão surgir, que não serão "maus pais" por isso e que, acima de tudo, existem soluções."