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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 30.10.20

Psicose pós-parto: 10 factos importantes a considerar!

Ana Vale

Ainda existem muitos medos e mitos que envolvem a psicose pós-parto, mas a verdade é que a mesma continua a ter lugar no seio determinadas famílias, e aqui estão alguns factos importantes que considero importante partilhar.

Todos eles emergem do que conheço sobre o tema e da experiência de algumas mulheres que já passaram por este problema de saúde mental que, para além de muito impactante (ainda por cima numa fase como o pós-parto), é também "muito antigo". O primeiro caso de psicose pós-parto relatado advém do século XVI! Sabiam? Daí que ainda seja mais inacreditável o facto de se falar tão pouco sobre este tema... 

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1. Pode acontecer a qualquer mulher após o parto. Sim, a psicose pós-parto não discrimina raças, condições sócio-económicas, nível de escolaridade, cultura, etc. Para além disso, nem todas as mulheres que desenvolvem uma psicose pós-parto têm antecedentes de doença mental.

2. Não és responsável pelo seu desenvolvimento. Não é culpa da mulher, nem das suas opções, do stress, da sua infância, preocupações financeiras, etc. Ainda não se conhece a causa da psicose pós-parto, mas sabe-se que fatores genéticos, níveis hormonais e alterações do padrão do sono são importantes considerar na influência do seu desenvolvimento. 

3. Não é a mesma coisa que uma depressão pós-parto. É uma psicopatologia com um curso diferente, sintomas que podem ser idênticos e outros que são próprios da psicose pós-parto e com necessidades de tratamento diferentes. A psicose pós-parto geralmente acontece nos primeiros dias ou semanas após o parto e os sintomas podem mudar muito rapidamente de uma hora para outra e de um dia para outro.

4. A psicose pós-parto não é rara. É pouco conhecida e pouco abordada, mas não é rara. Acontece em cerca de 1 - 2 mulheres por cada 1000 nascimentos. Se considerarmos que em 2019 houve cerca de 85 963 partos em estabelecimentos de saúde (dados da PORDATA), aproximadamente cerca de 86 a 172 mulheres desenvolveram uma psicose pós-parto no ano passado. É uma doença de inicio súbito, grave e é uma emergência psiquiátrica. Contudo, também é uma doença transitória, uma psicose com melhor prognóstico - no geral - do que as restantes, uma doença tratável! Sim, pode vir a ser assustador e confuso para as mulheres e respetivas famílias, mas também não é permanente e com o tempo adequado as mulheres acabam por recuperar e regressar ao seu dia-a-dia. 

5. Todas as mulheres grávidas devem ter conhecimento dos primeiros sintomas, assim como os seus companheiros e respetivas famílias. Existe o conceito de que "não se deve falar no assunto para não assustar as mulheres", mas o pior susto é aquele que vem de forma completamente inesperada. Mais vale estarem sensibilizadas e preparadas. Se não acontecer, ótimo! O conhecimento não ocupa lugar ;) Certo? E nunca se sabe se alguém que conhecem podem vir a desenvolver esta doença. 

6. A medicação certa pode salvar vidas, e sem ela a psicose pós-parto pode ser poderosa e perigosa. Se desenvolverem uma psicose pós-parto, mais do que antidepressivos, poderá ser necessário outro tipo de medicação ajustada ao desenvolvimento de sintomas psicóticos associados à psicose pós-parto. Se atrasarem o inicio da toma da medicação os efeitos colaterais podem ser péssimos para vocês e para as vossas famílias, já para não falar de um sofrimento mental que se prolonga, sem necessidade porque existe tratamento! 

7. Os media não têm ajudado a sensibilizar para esta problemática e descrevem as mulheres com alterações psicopatológicas, por vezes, como pessoas assustadoras e mães negligentes. Não é verdade! Esse "monstro" que se cria na imaginação das pessoas é o que poderia acontecer se as mulheres não receberem o tratamento adequado. Se o tratamento for iniciado o mais brevemente possível, este problema pode ser ultrapassado e as mães podem voltar para junto dos seus bebés e desenvolver o seu projeto parental. 

8. A recuperação é uma luta que pode ser longa e difícil. As mulheres podem sentir-se isoladas e precisam de tempo e paciência para melhor gerirem o processo de saúde-doença, especialmente num período de transição tão específico como o perinatal. Por vezes pode não parecer bidireccional, mas as mulheres podem estar a lutar uma das maiores batalhas das suas vidas enquanto recuperam de uma psicose pós-parto, ao mesmo tempo que estão a viver a maternidade. O apoio e compreensão do companheiro/a e família é absolutamente fundamental! 

9. Ter um outro bebé após esta experiência é perfeitamente possível! As mulheres com antecedentes de doença mental, nomeadamente perturbações do pensamento e do humor, têm um risco mais elevado de desenvolver uma psicose pós-parto. Mas mesmo nestes casos, com acompanhamento perinatal especializado antes, durante e após a gravidez,  é possível preparar a chegada do novo bebé, considerando todas as possibilidades. E assim sendo, caso volte acontecer, é fundamental saber a como e a quem pedir ajuda. Certamente que numa segunda gravidez será diferente, pois a preparação também é maior! Importante é refletirem esta decisão em casal/família, em conjunto com a equipa de saúde, e com tolerância e sem julgamento. Cada caso, é um caso.

10. Ouve sem julgamento e sem culpa. As mulheres que passam pela experiência de uma psicose pós-parto passam certamente por momentos de grande confusão, ansiedade extrema, alterações significativas do humor e conflitos relacionais profundos com quem as rodeia. Já para não falar de todas as lembranças "do que gostariam que tivesse sido e não foi" num momento onde impera a expectativa, a imaginação, a suposta "magia da maternidade". Certamente que ninguém imagina um pós-parto a começar assim, e como tal, há muita coisa para integrar, trabalhar e gerir a nível emocional e mental -  individual e familiarmente - durante o processo de doença e reabilitação, e mesmo à posteriori. É importante que estas mulheres e famílias sejam acompanhadas por especialistas nesta área, que aprendam sobre a doença e respetivos sintomas e que continuem o seu percurso parental da forma mais pacificada possível. 

 

Se estás a ler este texto e consideras que tens questões por esclarecer ou pretendes obter apoio especializado, contacta-nos!

mulherfilhamae@gmail.com

(+351) 936 180 928

 

Este texto foi baseado nesta publicação. Uma experiência de psicose pós-parto de uma mulher que fundou um blogue onde aborda várias questões sobre esta problemática na primeira pessoa, e não só. 

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