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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Ter | 29.08.17

Ser mãe

Ana Vale

Numa das sessões de um dos grupos de grávidas e recém-mães, um dos temas que se falava era sobre a relação das grávidas e recém-mães com as suas mães. 

 

Foi percetível a forma como havia tanto assunto a desenvolver e que aquela hora não iria dar nem para metade. Contudo, várias foram as questões que se abordaram e os subtemas que se falaram. No sessão posterior a essa, uma das grandes mulheres com quem tenho tido o privilégio de me cruzar nestes grupos que dinamizo, pediu-me para ler uma carta que escreveu após a anterior sessão. Fiquei surpreendida, não estava à espera, e ao mesmo tempo, adorei o facto de o ter feito, e tal, foi expressamente manifesto no meu olhar. Mas não foi só isso que expressei. Há medida que ela foi lendo a carta, houve algumas lágrimas que fui contendo, mas que juntas espelhavam no meu olhar o que a minha alma refletia: gratidão por poder fazer o que faço. 

 

Esta carta representou isto para mim, e representou muito mais. 

 

Pedi-lhe autorização para a publicar, pois embora não a estejam a ver a ler e a verbalizar estas palavras recheadas de emoção e de muita história, de certo que conseguirão compreender o impacto que as mesmas têm. Especialmente, porque muitas das pessoas que estão desse lado, e que leem muito do que publico neste espaço, são mães. 

Para além disto, sei que muitas das mulheres que sofrem em silêncio com alterações emocionais na gravidez e no pós-parto, podem-se identificar com esta carta, que é tão própria da história desta mulher, mas também tão comum a tantas histórias de outras mulheres. 

 

Também querem partilhar algo comigo e/ou no blogue? 

centro@mulherfilhaemae.pt

 

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Ser mãe é uma dádiva.

 

 

Ver a minha filha a crescer, a aprender a andar, a imitar o que dizemos e a descobrir o mundo....

Sinto-me grata por poder ter esta experiência, mas não é fácil. Todos os dias me sinto a improvisar. Todos os dias sinto que falho em alguma coisa, que podia ter dado mais de mim. Devia ter tido mais paciência, devia pensar mais nas comidinhas dela, não a devia ter deixado tanto tempo na creche, devia ter-lhe dado mais mimos, por que me perco eu com outras coisas?

 

Há uns tempos alguém me disse que ser mãe é aprender a viver cheia de arrependimentos. É assim que eu me sinto. Sempre.

Vivo com medo de falhar e de ser uma má mãe. E se a estrago? E se ela cresce e odeia a mãe, como eu tantas vezes odiei a minha? E se não a ensino a ser boa pessoa? Será que ela vai ter orgulho em mim, ou se vai irritar com os meus defeitos? E se eu não lhe conseguir dar tudo o que ela merece? E se dou demais e ela não aprende a lutar por ela própria? Mas eu não queria que ela lutasse, é a minha bebé e eu quero-a no meu colo para sempre. Tenho medo que ela sofra... E se eu for fraca e a deixar fazer de mim o que quer? E se eu for demasiado dura com ela? Saberei dar disciplina e amor? E se eu for uma mãe igual à minha? E não for? Quem sou eu para ensinar alguém? Eu sou só uma miúda...

 

Tenho tanto medo e não conto a ninguém. Como pode uma mãe ter medo? As mães são fortes, só choram à noite, sozinhas, quando todos já dormem. Sinto que esperam tanto de mim, mas eu esperava tanto que me ajudassem nisto...

Todos esperam que eu saiba tudo, e eu finjo que sei. Finjo tão bem. Finjo que sei o que fazer quando a minha filha chora, quando está doente, que sei o que ela precisa de vestir, comer, quanto deve dormir, finjo que sei como a educar. Ponho a minha cara confiante e finjo que não tenho medo. Mas eu sou só uma miúda...

Como posso eu ser mãe de alguém se, quando a vida me deita abaixo, a primeira coisa que penso é quero a minha mãe?