"Tive medo de saber mais sobre depressão pós-parto porque não queria desenvolver uma"
Há poucos dias, num grupo de mães, uma das mulheres referiu que durante o curso de preparação para o nascimento foram-lhe dados vários folhetos sobre depressão pós-parto e alterações emocionais no pós-parto, mas que assim que chegou a casa, os arrumou na gaveta.
Teve medo de ler mais, com medo de ficar a pensar sobre o assunto, e de desenvolver uma depressão pós-parto.
Teve receio de falar sobre o tema, com medo que tal disputasse algo dentro de si, e que desenvolvesse uma depressão pós-parto.
Teve medo de pensar sequer, sobre o assunto, pois no seu ponto de vista, quanto mais pensasse, pior poderia ser para si. Não queria ficar triste, nem com "medos irreais na cabeça" para não influenciar o seu bebé.
Colocada esta partilha, sugeri que numa próxima sessão trouxesse os tais folhetos que lhe deram no curso, para os lermos em conjunto, e para que ela pudesse esclarecer todas as questões que tinha sobre o tema, acompanhada.
Eu apercebi-me da forma como estes receios estavam imbuídos na sua linguagem corporal há medida que ia falando sobre o assunto, assim como, o facto de cada um destes receios ia gerando uma fantasia cada vez maior sobre o tema que se expressava através do seu discurso. Para além disto, sabia que ao falar de forma direcionada e aberta sobre o tema, poderia levar a alguns riscos, tais como, a mulher inibir-se no grupo de expressar emoções, por exemplo.
Há sempre riscos que se correm quando se fala mais especifica e particularmente sobre o tema. Contudo, são menores, próximo das vantagens que considero identificar por falar sobre o tema, desta forma, com estas mulheres:
- Ficam informadas e a informação que recebem é fidedigna e ajustada;
- Estão num espaço propício para o fazer;
- Estão acompanhadas por um profissional especialista na área, que está atento e com quem podem esclarecer todas as questões sobre o tema;
- Ficam com a referência de um profissional e local onde podem recorrer para pedir apoio, caso se verifique necessário em algum momento;
- O contacto entre mim e estas mulheres mantém-se mesmo após os momentos de encontro do grupo, sabendo elas, que podem obter esse suporte quando necessitarem;
Para além desta questão, e nestes grupos, não é só sobre isto que falamos. Tal como costumo dizer, não é que a depressão pós-parto seja o maior problema que podem desenvolver, mas poderá ser um dos. E como tal, não há problema de estarem informadas sobre o tema, tal como não há problema de estarem informadas sobre quais os melhores produtos para dar banho ao bebé, ou sobre amamentação, cuidados com o corpo, etc. Estarem informadas sobre depressão pós-parto, é tão importante, como estarem informadas sobre qualquer questão inerente ao período da gravidez e do pós-parto.
Contudo, ainda há aquele mito de que falar sobre depressão pós-parto, é quase que contagioso. Mas não é, acreditem. Até porque a depressão pós-parto é uma doença, mas não é contagiosa. Falar, erradica o fator surpresa, e aumenta a consciência sobre o tema. Falar, promove a sensibilização, a informação e a preparação para um momento único na vida de cada mulher, companheiro, casal e família - a maternidade - que tanto pode mostrar o seu lado luminoso, como o seu lado lunar.
E o lado luminoso e lunar não estão presentes em qualquer coisa na vida?
Então porque tememos tanto pensá-los (em conjunto) no período da maternidade?
Temos de falar sobre isto!