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Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Mulher, Filha e Mãe

Porque a saúde mental na gravidez e no pós-parto importa!

Sex | 20.10.17

Todos acham que eu já devia saber tudo sobre como cuidar de um bebé porque...

Ana Vale

...Sou educadora de infância.

...É o meu segundo filho.

...Sou profissional de saúde. 

...Já sou mãe de três. 

...Trabalho com crianças.

...Sou professora. 

...Já cuidei de todos os meus primos. 

...Sou mulher. 

...Sou mãe.

 

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Estas foram as diversas respostas que eu já ouvi, por parte de mulheres, que sentem que as pessoas que as rodeiam consideram de alguma forma - seja porque o dizem, seja porque o demonstram, seja porque tecem comentários menos apropriados para o momento, seja porque simplesmente o sentem - que elas deviam saber tudo sobre como cuidar de um bebé. 

 

É também nesta pressão, que eu diria social, que nasce em larga escala o sentimento de culpa que muitas destas mulheres também carregam, por sentirem e/ou frequentemente se questionarem, sobre a sua capacidade de cuidar de um bebé. É no seu instinto que brota alguma sensação de alívio e/ou conforto, mas é também nas suas dúvidas, perceção de falta de apoio - incluindo aqui o social também - e na sua relação consigo mesmas que muitas vezes nasce o primeiro sentimento de que falei. 

 

Serei boa mãe o suficiente? 

Estarei a fazer o indicado no cuidado para com o meu filho?

Será que ele está confortável? 

Todos acham que eu já devia saber tudo sobre como cuidar de um bebé, mas não é assim que me sinto. 

 

E por vezes, no espaço do social, não há lugar para este tipo de expressão. Para a expressão de uma mulher, agora mãe, que precisa, que necessita, que muitas vezes grita quase em silêncio, bem baixinho, com vergonha, e com grande necessidade de se expressar, que apoio, compreensão e afeto, são as três palavras mais desejadas, e muitas vezes as três palavras mais caras, que neste momento, alguém lhe pode dar. 

 

E porquê? Porque mais caras, e portanto, menos acessíveis?  

Porque não doadas? Facilmente transmitidas? 

 

Somos frequentemente capazes de doar algo a uma instituição, de dar algo a um sem abrigo que passa na rua, de doar o nosso tempo a famílias e crianças carenciadas de algum tipo de apoio. E porque não, doar algum do nosso apoio, compreensão e afeto, a uma mãe confusa, por vezes desesperada, e desamparada, que carrega um bebé? Uma mãe que pode não dizê-lo, mas que facilmente o transmite através de um olhar, de uma expressão, ou de uma ausência inesperada, por exemplo. 

 

Todos acham que as mães, por serem mães, têm de saber cuidar. E se a mãe considerar que não sabe? E se tiver muito medo? E se o medo a impedir de tentar? E se não estiver disponível para aprender? E se quiser aprender, mas tiver muitas dúvidas? 

 

Será que é contribuindo para sua culpabilização que a vamos fazer sentir melhor? Que ela vai sentir que cuidará melhor do seu bebé? Ou é, fornecendo apoio, compreensão e afeto? Respeitar o seu tempo, estar atento, pedir ajuda especializada quando necessário, falar simplesmente com alguém que possa perceber um pouco mais das suas dificuldades, não pressionar, mostrar-lhe que gosta dela, como ela é. E como ela é, é também sentir dúvidas e ter dificuldades. É também, nem sempre saber.

 

E não é por isso que deixa de ser mãe.

E não é por isso que não faz o melhor que sabe naquele momento e dentro do presente contexto.

 

Todos acham que as mães deviam saber tudo sobre como cuidar de um bebé, mas todos se esquecem que por trás de uma mãe, está uma mulher, está uma pessoa, está um ser humano, e que continua ter, todas as suas características associadas.  

 

E já agora, será mesmo possível saber tudo sobre o que quer que seja?

Será mesmo possível saber tudo sobre como cuidar de um bebé? Sobre como cuidar de alguém? 

 

Fica a questão.

 

centro@mulherfilhaemae.pt

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